Promotor pede que ex-mulher de goleiro seja absolvida
Folhapress
Henry Vasconcelos pediu na tarde de hoje que os jurados absolvam Dayanne Souza, ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes Souza. Ela é acusada de manter Eliza Samudio em cárcere privado e por sequestro do filho da vítima, então com quatro meses de vida. De acordo com o promotor, Dayanne se encontrava numa situação insuportável porque ele estava sob constrangimento e ameaça do ex-policial José Lauriano, o Zezé -que é alvo de uma investigação complementar realizada pela Polícia Civil a pedido do Ministério Público. Surpreendida, Dayanne chorou ao ouvir o promotor pedindo aos jurados sua absolvição.
"Zezé é o cara que ajudou o Bola a matar Eliza", afirmou Vasconcelos. De acordo com a acusação, Zezé esteve presente em vários momentos do crime, desde a arquitetura do plano até o assassinato da vítima. O ex-policial deve ser denunciado pela Promotoria assim que o novo inquérito seja encerrado.
Entretanto, o representante do Ministério Público pediu que o goleiro não seja perdoado. O promotor tentou convencer os jurados de que quem estava no controle da trama era Bruno, já que Macarrão retornou para o Rio de Janeiro no dia 7 de junho, após o jogo de futebol, deixando o goleiro sozinho. O assessor retornou para o sítio no dia 8. "Bruno deixou a mãe de suas filhas a mercê de um homem perigoso como o Zezé", afirmou Vasconcelos. O assistente de acusação José Arteiro completou a primeira parte do debate perguntando aos jurados: "os senhores querem ser marcados como jurados que absolvem bandidos, canalhas, vagabundos?"
O promotor Henry Vasconcelos chamou de "canalha" o goleiro Bruno Fernandes de Souza ao narrar para os jurados - cinco mulheres e dois homens - as tentativas de Eliza Samudio de receber pensão para o seu filho Bruninho, que teve com o ex-jogador do Flamengo.
Ele relatou as tentativas de Eliza em mensagens de e-mail trocadas com uma amiga dela. A ex-amante de Bruno dizia que ele a tratava sempre muito mal, a ameaçava e dizia que só daria alguma coisa a ela se ela retirasse a denúncia que fizera contra ele na polícia por agressão sofrida.
Nas mensagens trocadas com a amiga Eliza escreveu: "Terra do Bruno. Vou só com passagem de ida. Vão me matar lá. Tu ri que não é com você. O Bruno é maluco".
Segundo o promotor, essa mensagem se refere ao momento que ela foi ao Rio fazer o exame de DNA de Bruninho. "Eliza vai ao Rio de Janeiro e passa a ser enrolada por esse canalha", afirmou o promotor. Eliza também escreveu à amiga dizendo que não entendia o porquê de Bruno ter mudado tanto de comportamento. "Até hoje não entendi porque o Bruno mudou da água pro vinho comigo", dizia a mensagem.
O promotor ainda falou que a vítima não suportava ter que ficar negociando com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, secretário de Bruno na ocasião.
Foi por causa dessas cobranças de Eliza, segundo a denúncia da Promotoria, que Bruno planejou a morte da sua ex-amante, sequestrando-a e levando-a para Minas, onde morreu em 10 de junho.
"Eliza foi subjugada para viajar para Minas Gerais", afirmou.
O promotor também desmentiu a versão de Bruno de que se relacionou com Eliza Samudio apenas uma vez, por 20 minutos. "Destacamos muitas mensagens transmitidas por meios eletrônicos de Eliza para amigos seus. O notebook felizmente não foi queimado por essa gente calhorda, covarde. Eliza, num diálogo de 5 de fevereiro de 2010, quatro meses antes, escreveu a um amigo: "É bom na varanda eu fazia direto com Bruno olhando para o mar. É bom demais".
Henry Wagner Vasconcelos afirmou na quarta-feira (6) que vai pedir pena próxima à máxima ao réu - 30 anos no Brasil - , por homicídio triplamente qualificado. O sete jurados - cinco mulheres e dois homens - irão decidir se Bruno é culpado e qual seriam as qualificadoras para o crime. Os próprios advogados de Bruno já admitem a condenação, e afirmam que vão tentar trabalhar no debate para atenuar a pena tentando eliminar os qualificadores do crime.
Ator
O promotor afirmou, durante o debate do julgamento, que o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes de Souza, é um ótimo ator. "O futebol perdeu um goleiro razoável, mas um grande ator [surgiu]", afirmou Vasconcelos.
A fala faz parte da estratégia da acusação de tentar desconstruir a imagem do jogador. Além disso, o promotor lembrou que Bruno esteve envolvido com o tráfico de drogas.
Segundo o promotor, Bruno frequentava festas na favela da Rocinha, então comandada pelo traficante Nem. "Bruno sempre foi envolvido com o narcotráfico. Isso está nos autos do processo. Várias vezes já se disse, aqui no plenário, através de depoimentos, que quem mandava no narcotráfico de Ribeirão das Neves era Bruno, Macarrão e Cleiton [ex-motorista de Bruno]", afirmou.
O promotor sustentou a sua fala citando o depoimento de um segurança do traficante Nem, chamado Vinícius, que relatou que Bruno frequentava a Rocinha, se encontrava com Nem e ia à festas "regadas a cocaína e maconha".
Carta
Na argumentação que faz no debate do julgamento, o promotor Vasconcelos citou a carta que o goleiro escreveu na prisão para seu ex-secretário Macarrão, dizendo para o ex-auxiliar que era hora de entrar em ação o "plano B", fazendo pedidos de perdão.
"O Bruno disse aqui [na quarta, no seu interrogatório]: "Eu perdoo o Macarrão por tudo'. Não foi esse o comportamento dele antes. Na carta, ele pediu perdão ao Macarrão duas vezes", disse o promotor.
A interpretação dada para a carta, que veio a público em julho do ano passado, é que Bruno queria que Macarrão assumisse o crime sozinho.
"Eu, sinceramente, não pediria isso pra você, mas hoje não temos que pensar em nós somente. Temos uma grande responsabilidade que são nossas crianças. Então, meu irmão, peço que pense nisso e, do fundo do meu coração, me perdoe, eu sempre fui e sempre serei homem com você", leu o promotor.
No interrogatório de Bruno, ontem, ele confirmou à juíza Marixa Rodrigues que foi ele quem escreveu a carta, mas não explicou o que era o "plano B".
Para o promotor, o jogador tenta jogar a culpa da morte em Macarrão, que já foi condenado a 15 anos de prisão, sendo 12 em regime fechado.
"Ele está jogando toda a responsabilidade para um condenado. [...] É mais fácil arrancar um dente da boca do que a verdade dessa desgraça", afirmou o promotor aos jurados.
Mãe de Eliza
Bastante assediada na entrada do Fórum de Contagem, a mãe de Eliza, Sônia Moura, voltou a dizer que Bruno mentiu em seu depoimento de quarta. "Ele ia entrar mesmo em contradição, tanto que ele não permitiu que o senhor promotor e os advogados de acusação fizessem perguntas a ele, com medo. Mas graças a Deus, o Espírito Santo tem agido e eu tenho certeza que o espírito Santo de Deus está sobre a cabeça da Justiça, e a Justiça vai ser feita", disse Sônia Moura, que pediu novamente que o réu diga onde está o corpo de sua filha.
Por volta das 10 horas desta quinta, Dayanne Rodrigues começou novamente a ser interrogada, para esclarecimentos adicionais sobre as ligações entre ela e o policial José Lauriano, o Zezé, apontadas pela quebra de sigilo telefônico pedida pela promotoria. O interrogatório foi solicitado pela defesa dela.
Foram registradas cinco ligações entre os dois no momento em Dayanne levava Bruninho para ser entregue a Emerson, o Coxinha, nas margens da BR-040, em Contagem.
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