O reflexo da crise que atinge a indústria e o comércio também é percebido na educação. As escolas particulares do País calculam ter perdido um milhão de alunos, desde o ano passado, por conta da retração econômica. De acordo com a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), a rede privada perdeu 12% dos mais de 9 milhões de alunos que tinha em 2014, segundo o censo escolar.
Já um levantamento da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo apontou que, apenas no ano passado, as redes estadual e municipais receberam 200 mil alunos que migraram das escolas particulares.
Para Roberto Geraldo Dornas, presidente da Confenen, apesar de já terem sentido os efeitos da crise no ano passado, as famílias teriam feito outros cortes no orçamento doméstico antes de decidirem pela troca de escola. “Quem coloca o filho na particular vê esse gasto como prioridade, um investimento. Por isso, tirar o filho da escola é a última alternativa”.
Foi o que aconteceu com a professora Pérola do Amaral, de 41 anos, que estava com dificuldade para pagar a mensalidade das duas filhas, de 7 e 11 anos de idade, desde o segundo semestre do ano passado. Em janeiro, o marido perdeu o emprego e a família soube de imediato o que era preciso fazer: transferir as meninas para a rede pública de ensino.
“A gente gastava mais de R$ 1 mil por mês de mensalidade e ainda tinha despesa com material, uniforme, transporte e alimentação. No ano passado fizemos de tudo para mantê-las na escola, mas não deu para segurar”, disse a mãe. O marido conseguiu um novo emprego, mas com salário menor, por isso, voltar as meninas para rede privada ainda não é uma opção.
De acordo com Dornas, no ano passado, a Confenen chegou a estimar que a rede privada poderia perder até 20% dos alunos, mas, segundo ele, as empresas fizeram um esforço adicional para negociar alternativas com as famílias. “As escolas sabiam que seria um ano difícil. A inflação está muito alta, houve aumento de luz, água, internet e seria impossível não repassar para as mensalidades.”
Mas nem sempre é assim. Desempregado desde agosto, o metalúrgico Sidnei Aparecido da Silva, de 36 anos, tentou negociar um desconto com a escola em que a filha de 8 anos estudava. “Já não tinha mais onde cortar no orçamento de casa. Troquei o carro por um mais barato, cortei passeios, não temos luxo. Sempre paguei a mensalidade em dia, mas a escola não quis nem negociar e não tivemos mais condições de pagar.”
A decoradora Ana Paula Barone, de 35 anos, também tentou desconto na mensalidade antes de recorrer à escola pública para os filhos mais novos, de 7 e 8 anos. Sem sucesso, eles foram estudar na escola estadual Blanca Zwicker Simões, na zona leste. “É uma escola modelo, mas, como só vai até o 5º ano, matriculamos apenas os menores. O mais velho continua na particular”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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