Papa já deixa saudades em Manguinhos
Denise Drechsel, enviada especial ao Rio de Janeiro
Assim que o Fiat Idea que levava o Papa Francisco deixou a comunidade de Varginha, em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, moradores ficaram nas ruas para comentar e comemorar a passagem do pontífice no local. Quem tinha estado perto do Papa era considerado uma relíquia.
"Ele me abençoou e me deu um terço", disse Francisca das Chagas, de 40 anos, deficiente física desde a infância, vítima da pólio, que estava dentro da capela visitada por Francisco. "Fiquei muito nervosa, mas ele me acalmou e sorriu, foi o céu", completou.
O coroinha João Carlos de Oliveira, de 14 anos, disse que estava com frio na barriga até a chegada do Papa. "De repente esqueci que estava chovendo e ficamos lá com ele, à vontade. Já estou com saudades", afirmou.
A comerciante Maria da Conceição Luiz, de 28 anos, que teve o marido assassinado na favela em 2003, não disfarçava as lágrimas. Para ela, o mais impressionante era ver Francisco andando entre eles como "mais um", sem "nenhuma formalidade", uma "pessoa do povo". "Todos nós precisávamos dessa bênção", concluiu.
Protesto
Durante a visita do papa, um pequeno grupo de pessoas fez uma manifestação pedindo que a prefeitura faça melhorias na favela, que foi pacificada no ano passado. As pessoas do local ainda vivem em condições insalubres, sem sistema de saneamento básico e com inúmeras demolições no entorno das casas.
Antes da chegada do papa, multidão lotava ruas da Favela Varginha
Denise Drechsel, enviada especial ao Rio de Janeiro
As ruas da Favela Varginha, em Manguinhos, zona norte do Rio de Janeiro, amanheceram repletas de peregrinos a espera da passagem do papa Francisco. A briga era grande, entre fiéis e a imprensa, para conseguir um espaço para ver o papa de perto. O papa chegou à comunidade às 11 horas.
A capela de São Jerônimo Emiliano, local em que o papa desembarcou em primeiro lugar esteve sob forte segurança. Depois ele seguiu a um campo de futebol próximo e visitou uma casa. Alguns poucos moradores da comunidade tiveram a chance de ver Francisco, como o coroinha João Carlos de Oliveira, de 14 anos, que saudou o Papa na entrada da capela. "Estou muito feliz!", afirmou Oliveira, com um sorriso.
O comerciante João Batista Luiz, 48 anos, que trabalha em um estabelecimento ao lado da capela de São Jerônimo, considerou a passagem do pontífice uma bênção para a região. "Passar aqui, do lado da nossa casa, é uma alegria imensa; e ter Deus muito pertinho de nós", disse o comerciante.
Além da bênção, a passagem foi bastante lucrativa para os moradores do local. Jornalistas pagaram de R$500 a R$ 1000 para passar a noite nas casas da região e assim sair na frente da cobertura do evento. Comerciantes também ganham um extra na venda de alimentos, capas de chuva - no Rio faz um frio atípico (não esperado pelos peregrinos) - e até com aluguel de cadeiras, a R$ 20 cada.
Interatividade
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No quarto dia da viagem ao Brasil, o papa Francisco visitou a comunidade Varginha, no conjunto de Favelas de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro. O pontífice chegou ao local por volta das 11h desta quinta-feira (25) e deixou a favela por volta do meio-dia.
O pontífice discursos para os moradores da favela em um campo de futebol. O papa pediu que as autoridades brasileiras não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e pela cultura da solidariedade.
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O Santo Padre disse também que a "pacificação" não será permanente em uma "sociedade que abandona na periferia parte de si mesma". Ele exortou ricos e dirigentes políticos a saber "dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais".
"Nenhum esforço de 'pacificação' será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma", discursou Francisco. "A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!", completou.
O uso da palavra "pacificação" é uma referência às UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), projeto do governo do Rio para diminuir a violência.
Sempre se pode "colocar mais água no feijão", diz papa
Duro com os ricos e as classes dirigentes, Francisco elogiou a disposição de "colocar mais água no feijão" dos moradores de Varginha. "Vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode "colocar mais água no feijão"! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!"
Para o pontífice, os "pilares fundamentais" e "bens imateriais" de um país são: "vida, família, educação integral, saúde e segurança". "A vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano."
Usando uma linguagem coloquial, o papa falou de coisas de rotina. Arrancou risadas ao improvisar com uma citação à cachaça: "Queria bater em cada porta, dizer um "bom dia", pedir um copo de água fresca, beber um "cafézinho", não cachaça, falar como amigos de casa".
No final, um aceno aos jovens para que não desistam de lutar contra a corrupção: "Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito:nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo". "O papa está com vocês", disse o pontífice ao fim do discurso. Ele pediu a interseção de Nossa Senhora Aparecida e deu sua bênção aos moradores e peregrinos.
Chegada à favela
Moradores receberam o pontífice com balões brancos e amarelos, as cores do Vaticano. Eles se posicionaram ao longo da Rua Carlos Chagas, principal acesso da favela, que tinha um trecho protegido com grades de ferro. O acesso ao campo pela Rua Beira-Rio foi bloqueado e só deve ser reaberto depois que ele passar.
No trajeto, o pontífice parou diversas vezes e beijou quatro crianças de colo, entre eles um recém-nascido. Logo ao chegar na comunidade, o papa foi à Capela São Jerônimo Emilliani para abençoar o novo altar. O pontífice falou em português. Durante a breve cerimônia, ele entregou um presente ao padre responsável. Na saída da capela, ganhou uma faixa do seu time, San Lorenzo, entregue por crianças. O papa também escolheu uma casa da comunidade para visitar.
Desde cedo, os moradores de Varginha aguardaram a visita do papa Francisco. O motivo principal era saber em qual das casas o pontífice deve entrar.
Os primeiros peregrinos e fiéis começaram a chegar à favela às 6h. Eram 43 adolescentes de São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Distrito Federal, hospedados com freiras Missionárias da Caridade, a mesma ordem de Madre Teresa, que chegou a visitar Varginha nos anos 70. O grupo acordou às 3h30 para conseguir ficar bem junto ao palco. "Não tenho palavras para descrever minha emoção. Espero poder chegar perto dele.", disse vitória Conceição, de 14 anos, que veio de Santos.
Por volta das 9h, cerca de 300 pessoas estavam em frente ao palco, onde o papa Francisco discursará. A estrutura terminou de ser erguida somente às 2 horas. A montagem, que começou na manhã dessa quarta, 24, precisou ser interrompida por causa da falta de luz na noite anterior, que durou 50 minutos. Francisco será saudado por bexiga azuis e vermelhas (as cores do seu time de futebol, São Lorenzo) e amarelas e brancas (cores do Vaticano). que são distribuídas por voluntários.
Todas as sete casas que poderiam ser visitadas pelo papa Francisco na favela da Varginha foram vistoriadas por fuzileiros navais e agentes da Polícia Federal (PF).
Com cães farejadores e equipamentos especiais, a varredura visa localizar explosivos e artefatos químicos e biológicos. A favela está ocupada por centenas de policiais militares e fuzileiros da Marinha. Depois da varredura do imóvel, agentes da PF estão de plantão na porta para impedir a entrada e a saída das pessoas.
O carteiro José Mauricio Gomes, 50 anos, disse que a casa dele foi selecionada para a possibilidade de visita papal em votação na paróquia da favela. Ele é devoto, dizimista e frequenta a igreja todos os domingos. "O que mais me tocou ouvir do papa foi ele dizer que os pastores devem ter o cheiro das suas ovelhas", afirmou o fiel.
Papa na Favela Varginha
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VIDA E CIDADANIA | 0:32
Confira imagens da passagem do Papa Francisco pela favela de Varginha, em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro.
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