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conexão cérebro-máquina

Estudo brasileiro usa robótica para paraplégicos mexerem as pernas

Nicolelis e o exoesqueleto, em  registro de 2014 | Ricardo Stuckert
/Instituto Lula
Nicolelis e o exoesqueleto, em registro de 2014 (Foto: Ricardo Stuckert /Instituto Lula)

O ambicioso projeto brasileiro de devolver mobilidade a paraplégicos por meio de um exoesqueleto robótico, controlado pela força da mente, atirou no que viu e acertou no que não viu. Conforme aprendiam a comandar os membros biônicos, oito pacientes recuperaram parte dos movimentos e da sensibilidade de pernas que estavam totalmente paralisadas havia anos.

Os resultados surpreendentes, que acabam de ser publicados nesta quinta-feira (11) na revista especializada “Scientific Reports”, foram conseguidos com a mesma plataforma usada na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014. À época, um paraplégico, com a ajuda do exoesqueleto, conseguiu dar um rápido chute numa bola de futebol. A demonstração, no entanto, ainda estava distante do sonho de devolver a capacidade de andar a pessoas que sofreram lesões da medula espinhal.

Esse sempre foi o objetivo da equipe do neurocientista paulistano Miguel Nicolelis, 55, da Universidade Duke (EUA). Em parceria com colegas brasileiros e de outros países, Nicolelis montou uma grande estrutura de pesquisa básica e de testes clínicos no Brasil. O novo estudo é a primeira publicação oficial dos resultados desse esforço com pacientes humanos.

Ainda é difícil explicar exatamente o que aconteceu com os participantes da pesquisa. Todos eles sofreram lesões classificadas como completas pelos médicos. Ou seja, em tese, os impulsos enviados pelo cérebro deles para controlar as pernas simplesmente não conseguiriam mais passar pela parte lesionada da medula e chegar até os membros. É como se o fio que leva energia elétrica para uma lâmpada tivesse sido cortado.

A abordagem adotada por Nicolelis e companhia buscou contornar esse problema medindo diretamente a atividade cerebral dos pacientes, fazendo-os imaginar que estavam mexendo as pernas de novo e vendo um avatar desses membros a se movimentar numa tela de realidade virtual. Com isso, as áreas do cérebro que tinham “esquecido” como mexer as pernas voltaram a mapear esse tipo de ação.

De quebra, os paraplégicos recebiam um feedback sensorial das pernas virtuais. Um aparelho especial colocado no braço deles lhes conferia a sensação de pressão das passadas, mais ou menos como um controle de videogame que vibra quando o jogador passa por uma lombada dirigindo seu carro virtual.

Depois dessa fase de aprendizado e de exercícios em aparelhos que sustentavam o peso do corpo dos paraplégicos, as mensagens do cérebro usadas para controlar as pernas virtuais foram empregadas para movimentar o exoesqueleto desenvolvido pelos pesquisadores (o mesmo da demonstração da Copa).

A surpresa, porém, veio quando os pesquisadores perceberam, após meses de trabalho, que todos os pacientes, em maior ou menor grau, passaram a ter sensações de dor, de pressão e de equilíbrio na área originalmente afetada pela paralisia. Todos eles também recuperaram a capacidade de contrair ao menos alguns músculos da região paralisada -em especial os ligados ao quadril e ao fêmur. Isso é suficiente para movimentar ao menos um pouquinho as pernas, conforme mostram vídeos feitos pela equipe. Vários deles também conseguiram andar por distâncias curtas com ajuda de andadores, muletas e órteses.

A hipótese dos cientistas é que pelo menos algumas das conexões entre a medula e os membros dos pacientes foram preservadas, e que o treinamento com a realidade virtual e o exoesqueleto fez com que elas “acordassem”. O objetivo agora é testar o mesmo processo de reabilitação em pessoas que sofreram as lesões há pouco tempo – em tese, elas poderiam ter melhoras ainda mais claras. Ainda é cedo para dizer até onde a abordagem é capaz de ir.

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