Em uma região em que as favelas são quase todas controladas por quadrilhas de milicianos, o até agora desconhecido Morro da Barão surge como uma exceção. Parte do Complexo de São José Operário, que se espalha por Jacarepaguá, na zona oeste carioca, a Barão é dominada por traficantes vinculados à facção criminosa Comando Vermelho (CV). O que pode ser muito ruim para os estupradores da adolescente de 16 anos. A facção não aceita violência sexual em seus domínios.
Desde a noite de anteontem, circulam nas redes sociais relatos de que os agressores sexuais da Barão estão sendo caçados pelos traficantes. Alguns deles já teriam sido capturados, torturados e mortos, com detalhes sinistros, como decapitação e mutilação dos órgãos genitais. A polícia não confirma as informações.
Para um PM ouvido pela reportagem, as lideranças do CV na favela não devem ter ordenado o estupro coletivo, que teria sido praticado por traficantes jovens, sem funções de comando na quadrilha. A repercussão e o assédio de policiais e jornalistas a um morro até então discreto teriam irritado a cúpula da facção.
O Complexo de São José Operário abrange áreas populosas da Baixada de Jacarepaguá, como Campinho, Covanca, Taquara e Praça Seca, por onde passa a Rua da Baronesa, principal acesso à favela.
Como outras comunidades da zona oeste, as que integram o complexo foram atacadas, nos primeiros dez anos da década passada, por milicianos.
Formadas por policiais e ex-policiais militares, profissionais que passaram pelo Corpo de Bombeiros e pelas Forças Armadas e por trabalhadores do setor de vigilância particular, as milícias expulsaram as quadrilhas do tráfico de drogas de quase toda a zona oeste.
Só que os traficantes conseguiram, nos três últimos anos, retomar o domínio da favela. Inicialmente, de acordo com as investigações policiais, porque compraram da milícia o direito de voltar a vender drogas, especialmente cocaína e maconha, nas “bocas”.
Depois desse retorno, os traficantes do CV entraram em confronto com inimigos da facção Amigos dos Amigos (ADA), também interessados em se estabelecer na favela, já que a milícia havia abandonado a Barão. Nos confrontos, que duraram grande parte dos anos de 2012 e 2013, morreram pelo menos 12 pessoas.
Investigadores da Polícia Civil apontam que o tráfico de drogas na Barão tem como comandante o presidiário Luiz Cláudio Machado, o Marreta. Mesmo na cadeia desde 2014, ele dá ordens e é respeitado pelos traficantes que o representam na Barão e formam o chamado Bonde do Marreta.
Do sistema penitenciário de Bangu, na mesma zona oeste, Marreta passa as determinações ao seu gerente na Barão, o traficante Sérgio Luiz da Silva Júnior, que responde por vários apelidos, entre os quais Lobo Mau, Pará e Da Russa, o mais utilizado.
Pela captura de Da Russa, o site www.procurados.org.br oferece R$ 1 mil de recompensa a quem indicar seu paradeiro à Secretaria de Segurança do Estado do Rio. A ainda incipiente apuração policial indica que Da Russa desconhecia a realização do estupro coletivo