“Mexer o corpo” pode ser uma boa maneira de prevenir o Mal de Alzheimer ou de retardar o avanço da doença, indicam estudos. A recomendação, inclusive, virou usual nos consultórios geriátricos. De acordo com o médico Clovis Cechinel, que atende no programa da prefeitura de Curitiba “Melhor em Casa”, os exercícios ajudam a prevenir e controlar a diabete e a hipertensão, dois fatores de risco para a demência. Além disso, a atividade física é um meio de socialização, um ponto importante no tratamento e na prevenção do Alzheimer.
“Academias para o cérebro” ganham adesão de idosos
- Carolina Olinda
A aposentada Regina Lima, de 76 anos, conta que a memória ainda não está lhe pregando peças, mas que mesmo assim resolveu colocar a cabeça para fazer ginástica. Quebra-cabeças, ábacos, jogos com palavras e números são alguns dos exercícios que faz uma vez por semana na “academia para o cérebro” que frequenta no Juvevê, em Curitiba. “Quero retardar o máximo possível o esquecimento. Melhor manter a cabeça ativa para prevenir”, conta ela.
Para essa prevenção, Regina buscou atividades do método “Supera”, criado por um engenheiro brasileiro preocupado com as dificuldades de concentração do filho. De acordo com Ronaldo de Carvalho, diretor de uma das franqueadas do curso em Curitiba, são cerca de 60 mil alunos em todo o Brasil.
Entre esses, muitos são idosos à procura de uma forma de ampliar a concentração e afastar os efeitos do envelhecimento no cérebro. “É um método voltado para todas as idades. Na nossa unidade, o que me surpreendeu foi a procura dos idosos pelo método”, conta Carvalho.
Além dos exercícios feitos em sala, a turma do “Supera” também leva atividades para realizar em casa. Entre os desafios propostos, há jogos on-line e mudanças em rotinas, como buscar um novo caminho para seguir de casa ao curso. “Sinto que exercita de tudo um pouco: a linguagem, a paciência, a visão, a concentração”, relata Regina.
A estimulação cognitiva – termo científico para os diversos exercícios que exigem um esforço cerebral – ajuda a postergar o aparecimento do Alzheimer e também é utilizada como forma de reduzir a velocidade de avanço da doença.
Os cientistas agora tentam descobrir se a atividade física também tem uma ação direta no cérebro, influenciando na formação de novos neurônios. Pesquisa desenvolvida no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro aponta que essa recomposição ocorre em animais. Resta descobrir se o mesmo vale para o cérebro humano. Há fortes indícios de que sim.
Mas calma, não é preciso sair correndo por aí. Para os idosos, a indicação é de atividade leve, com duração de até 30 minutos, três vezes por semana. “Priorizamos equilíbrio, força muscular, treino de marcha e alongamento”, diz Cechinel. Para os mais jovens, o recado é: comece agora. “Se a pessoa pensa em envelhecer com saúde, inclusive mental, tem de começar a praticar exercícios físicos o quanto antes”, aconselha o médico geriatra.
Uma pesquisa publicada recentemente reforça a recomendação de Cechinel. De acordo com estudiosos do The Jackson Laboratory, nos Estados Unidos, correr contribui para reduzir os efeitos do envelhecimento no cérebro. Para conseguir esse benefício, contudo, o exercício deve ser feito de forma moderada e regular, durante muitos anos.
Futuro
Envelhecer com qualidade é um dos desafios da humanidade e o Alzheimer se mostra como um dos problemas mais preocupantes nesse campo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente 46,8 milhões de pessoas vivem com Alzheimer em todo o planeta. A previsão é que esse número só se amplie nos próximos anos. Estima-se que, em 2050, 131,5 milhões terão desenvolvido a doença.
De evolução lenta, o Alzheimer tira a autonomia do paciente aos poucos. Em média, leva-se de 12 a 15 anos desde os primeiros sintomas até o mal chegar à fase mais grave.
Em sua fase inicial, o Alzheimer se caracteriza por uma perda de memória recente, irritabilidade e dificuldade de tomar decisões. Com a evolução, os episódios de amnésia se agravam e pode haver dificuldade de articulação das frases e delírios. No estágio grave, o paciente encontra severas dificuldades de locomoção e a memória fica seriamente comprometida.
Todo esse processo– longo e doloroso – também pesa na economia. Segundo a OMS, são destinados cerca de US$ 820 milhões por ano aos cuidados de pessoas com a doença. Para 2018, a estimativa é que esses gastos cheguem à casa do trilhão, valor muito maior que o PIB de algumas das maiores economias globais.
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