Novos alagamentos em Itaperuçu
No fim da noite desta quinta-feira (25), o Corpo de Bombeiros foi chamado para atender uma ocorrência de alagamento em Itaperuçu. Uma residência, na Alameda Crispim Furquim Silveira, na região central, próximo à linha do trem, estava alagada. Não havia informações sobre vítimas.
Em pleno dia de Natal, nenhuma das bonecas e carrinhos dos irmãos Elisama, 9 anos, e Gabriel, 11, podiam ser usados para brincar. Os dois também não ganharam novos presentes. Ontem, para Jandira Ferreira, 39, e Amadeus Ferreira, 38, os pais das crianças, foi dia de recuperar o que sobrou após a casa da família ter sido invadida pela enxurrada. "Eu não soube o que dizer quando minha irmã me ligou de manhã para desejar feliz Natal. Lá tinham feito um monte de comida e eu aqui não tinha nem feijão pronto. Acabamos de comer qualquer coisa", disse Jandira, às 17 horas.
Veja imagens dos estragos causados pelas chuvas na Região Metropolitana de Curitiba.
Apesar do relato carregado de tristeza, era gratidão o que sentiam vizinhos e amigos. Eles só pensavam que poderia ter sido pior. Elisama e Gabriel estavam sozinhos em casa, quando a chuva atingiu fortemente Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba. Era antevéspera de Natal e os vizinhos ajudaram as crianças. De repente, em questão de minutos, todos se viram mergulhados na água suja da enchente. Escadas foram colocadas no muro para resgatar os irmãos. Para os pais, esse fato torna a tarefa de conseguir novos colchões, toalhas, panelas, eletrodomésticos e documentos o menor dos problemas.
A família mora na Rua Valente Cury, no Jardim Saara, e se somam aos 134 desabrigados e desalojados no estado. A Defesa Civil estadual calcula que mais de 58 mil pessoas tenham sido afetadas em 13 cidades. Ao todo, 729 casas foram danificadas.
Entre os municípios prejudicados está Rio Branco do Sul. Na Rua Padre Ribeiro, no centro, em uma casa elevada a cerca de 2 metros do nível de um córrego, a marca na parede denuncia que a água subiu cerca de 3,5 metros acima da calha do riacho. O casal Cristiane Druz, 36, e Sandro Moreti, 43, passou por momentos de desespero. Eles estavam com duas duas crianças e uma adolescente em casa. Sandro, que tem problemas nas pernas, e o restante da família tiveram que buscar abrigo rapidamente em cima de uma mesa e cortar o forro de PVC com uma faca para escapar da água.
"Eu gritava por socorro, na janela. Os bombeiros vieram nos buscar com um barco. Eu saí de casa em uma maca", contou Sandro, de volta à garagem da casa. O carro da família ficou coberto de água e quase foi levado pela enxurrada. "Eu vim para a varanda, desengatei a marcha e empurrei para frente. Se não, tinha ido embora", completou Cristiane. Sandro comenta que já tinha enfrentado enchentes, mas que o nível nunca ultrapassava o portão de casa. "Agora vamos ver se achamos outro lugar para morar. Não posso ver uma nuvem no céu e já fico com medo", conta.
A heroína dos filhotes
Também na Rua Padre Ribeiro, em Rio Branco, na primeira casa perto de um riacho, Eduany, 11, mostrava, ao lado da irmã, Eduarda, 15, um sorriso tímido de quem acabou de passar por momentos de angústia. Eduany saiu da casa, depois de relutar, e junto com a mãe contou do apreço que tem pelos cachorrinhos que choravam na casinha de bonecas das irmãs. "Ela é muito amorosa. Não saiu de casa enquanto não pegava eles para salvar da água", contou a mãe de Eduany, enquanto a menina sorriu e acenou com a cabeça em sinal de que estava tudo bem.
A água subiu rápido e os pais das meninas, o motorista João Eduardo Bittencourt, 38, e a dona de casa Rosângela Soares, 33, tiveram que correr para salvar as crianças. Elas correram para o lado mais alto do quintal, onde os Bombeiros usaram escadas para resgatar a todos. Rosângela demonstrava tristeza por não ter tido tempo de ir até Curitiba e comprar um presente para as meninas. "Mas elas entenderam, é difícil, agora estou mais tranquila, tinha ficado desesperada. Agora já está mais organizado, antes as coisas estavam todas espalhadas".
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