As famílias que ocupam as calçadas das Ruas João Dembinski e Theodoro Locker, no bairro Fazendinha, em Curitiba, realizaram um protesto, fechando o acesso de veículos à Theodoro Locker na manhã desta quarta-feira (12). A manifestação foi realizada como parte da missa de sétimo dia da morte sem-teto Celso Eidt, executado com 15 tiros na noite do dia 5 no acampamento. De acordo com o grupo, cerca de 300 pessoas participaram do movimento.
O grupo está acampado nas calçadas desde a reintegração de posse do terreno, que aconteceu no dia 23 de outubro. As famílias já foram notificadas pela prefeitura para deixar o local, mas ainda não há prazo para a operação acontecer.
O protesto começou às 9 horas e terminou pouco depois das 10 horas. "Foi tudo organizado de última hora. Na verdade era para ser apenas uma missa em homenagem ao Celso, mas resolvemos aproveitar que havia bastante gente e pedir nossos direitos", diz Guinalva Silva, uma das coordenadoras do acampamento. "Não sairemos daqui até que nos ofereçam algum pedaço de chão", afirmou.
Guinalva conta que o trânsito foi fechado, mas não soube dizer qual foi a extensão de veículos que chegou a se formar no ponto. "Não havia polícia acompanhando, mas foi tudo pacífico", afirma. "Queríamos desfazer a imagem de bandido que as pessoas deram ao Celso". Segundo ela, não estão previstas novas manifestações dos sem-teto para os próximos dias. Ela também disse que o grupo não foi informado ainda sobre quando acontecerá a reintegração de posse das calçadas onde os sem-teto estão acampados.
Assassinato
De acordo com familiares de Celso Eidt, no dia 5, três homens encapuzados invadiram o barraco onde o sem-teto estava e fizeram os disparos, matando a vítima hora. A Polícia Militar (PM) confirmou a versão dos familiares. Pela versão da família, Eidt teria sido expulso da propriedade por um segurança sob a mira de uma arma. "Voltaram à noite para terminar o serviço", disse o irmão, que estava ao lado de Eidt no momento da execução.
De acordo com a PM, o sem-teto morto teria passagem pela polícia do Rio Grande do Sul por crime de homicídio. A família da vítima nega. Celso era separado e tinha uma filha de nove anos. Policiais da Delegacia de Homicídios investigam o caso.
Na tarde de quinta-feira (6), os acampados fecharam a Rua Theodoro Locker para pediram justiça pelo homicídio. Com a presença de um carro de som e de diversas organizações de luta pela moradia, os manifestantes trouxeram à rua o corpo de Eidt, que era velado em uma igreja próxima, para a realização de um ato público. Na manhã de sexta-feira (7), o corpo de Eidt foi enterrado no Cemitério Paroquial Campo Comprido, em Curitiba.
Invasão no Fazendinha
No dia 6 de setembro, cerca de 600 famílias ocuparam e montaram barracas em um terreno, pertencente à Varuna Empreendimentos Imobiliários, no bairro Fazendinha, em Curitiba. Dez dias depois, a invasão já contava com aproximadamente 1,5 mil famílias, ou cerca de 6 mil pessoas. O local também ganhou ligações irregulares de energia elétrica, pequenas casas de madeira e até um escritório de advocacia.
A Varuna conseguiu, no dia 15 de setembro, uma ordem de reintegração de posse da área de aproximadamente 170 mil metros quadrados. A juíza Julia Maria Tesseroli determinou um prazo de cinco dias para que todos os acampados se retirassem voluntariamente do terreno, mas a ordem não foi cumprida.
Com isso, a Justiça deu ordem para reintegração de posse e a PM retirou todas as famílias do local no dia 23 de outubro. Houve muita confusão na operação e um cinegrafista foi ferido por um disparo de bala de borracha, feito por um policial militar que participava da reintegração de posse. Uma criança também ficou ferida na operação.
Após a reintegração, o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, afastou os comandantes da PM que estavam à frente da operação, pois considerou que a polícia usou força excessiva na situação. Desde a reintegração de posse do terreno, alguns ex-invasores passaram a morar na calçada.
No dia 3 de novembro, o juiz Douglas Marcel Peres, da 4ª Vara da Fazenda Pública, autorizou a reintegração de posse devido ao "esbulho possessório" apropriação indevida das calçadas. No dia 4, o oficial de Justiça Altamir José Narciso recebeu um mandado que permite a retirada das famílias imediatamente. Apesar da conjuntura, ainda não há prazo determinado para a operação, por se tratar de uma ação conjunta que requer cautela.
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