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Duas mulheres que eram procuradas pela polícia, sob suspeita de participação em um esquema de contrabando e falsificação de óculos de origem chinesa, se apresentaram à Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas (Dedc), na tarde desta terça-feira (29). Juliana Abreu Horta Purri e Isabela de Abreu Dias Horta são, segundo a polícia, filhas do ex-deputado federal mineiro Francisco Sales Dias Horta, apontado como o cabeça da fraude e que continua foragido.
Segundo o delegado Cassiano Aufiero, da Dedc, Juliana e Isabela se apresentaram acompanhadas de advogados e devem permanecer presas temporariamente por cinco dias. A expectativa é de que elas prestem depoimento nesta quarta-feira (30). O esquema do qual elas são suspeitas de integrar foi descoberto pela polícia no dia 18 de março. De acordo com o relatório da Dedc, o grupo comprava óculos por R$ 0,41 na China e revendia os produtos por até R$ 500 em óticas brasileiras. Além disso, a polícia aponta que a fraude gerou prejuízo de mais de R$ 50 milhões em sonegação fiscal.
A polícia espera que o ex-deputado Francisco Sales Dias Horta se apresente nos próximos dias. De acordo com o delegado, o advogado de Horta entrou em contato com a Dedc e se comprometeu a apresentar o suspeito. "O advogado disse que o ex-deputado ficou muito abalado com o resultado das investigações e com a prisão dos filhos", contou Aufiero.
Ainda segundo o delegado, as informações obtidas pela polícia dão conta de que Horta já estaria no Brasil. A Dedc chegou a acionar a Interpol, organização internacional de cooperação entre polícias de países, para tentar localizar o ex-deputado.
Presos na primeira fase da operação estão soltos
Seis pessoas que foram presas na primeira fase da Operação Ilusão de Ótica, no dia 18 de março, já estão nas ruas. Segundo a polícia, a prisão temporária deles venceu no domingo (27). Dentre os suspeitos, está Francisco Dias Horta Neto, apontado como filho do ex-deputado. As outras pessoas que foram presas temporariamente e que ganharam liberdade são Adriana Sales Dias Horta, Glauciene Pinto de Jesus, Hélio Pinto de Jesus, Jéferson Santos Afonso e Marcus Vinícius Assis.
"A prisão temporária foi decretada para que a polícia conseguisse coletar as provas necessárias, para que os suspeitos não se comunicassem entre si, não coagissem testemunhas ou atrapalhassem os trabalhos policiais", explicou Aufiero.
A conclusão do inquérito deve demorar alguns meses, segundo o delegado. Isso porque a polícia apreendeu farta documentação, que precisa ser analisada. Já foram cumpridos 90 mandados de busca e apreensão e mais de cem mil peças de óculos de origem chinesa foram recolhidas pela polícia. Dentre a documentação encontrada, estão comprovantes de remessa de dinheiro para o exterior, sobretudo para a Suíça e Alemanha. A Dedc apreendeu ainda apostilas que versam sobre lavagem de dinheiro.O esquema
Em cinco meses de investigações, a polícia levantou evidências de que as óticas receptavam óculos de origem chinesa. O produto entrava no Brasil pelo Paraguai e as empresas adulteravam notas fiscais para não levantar suspeitas.
A polícia apontou que as óticas acusadas de integrar o esquema fazem parte das redes Visomax e Grupo Vega. Uma rede de Belo Horizonte, em Minas Gerais, também estaria envolvida nas irregularidades. Segundo as investigações, o ex-deputado Franciso Horta foi o mentor das irregularidades e usava familiares e funcionários como "laranjas" para a criação de empresas de fachada. A Gazeta do Povo tentou ouvir representantes dos grupos mencionados e advogados dos suspeitos, mas ninguém foi encontrado pela reportagem.
Em junho de 2017, a Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), determinou o arquivamento do inquérito que investigava a Visomax e seus sócios na operação "Negócio da China", extinguindo a investigação sem qualquer penalidade a qualquer deles. No entendimento do MPF, acolhido pelo juízo, o inquérito policial continha incorreções que anulariam as prisões e provas obtidas durante a investigação. O MPF também sustentou que a pretensão punitiva de algumas infrações estaria prescrita e que para outras faltariam evidências de materialidade.
Atualizado em 19/04/2022 às 16:09