Outrora apontados como solução para desafogar o trânsito de automóveis, os elevados viários caíram em descrédito entre os urbanistas e o uso desses espaços virou tema de debates polarizados em todo o mundo. O caso mais evidente no Brasil é o do elevado Costa e Silva, o Minhocão, em São Paulo. Ainda no início de março, o viaduto ganhou status legal de parque. Mas a via ainda é centro de um debate entre os que querem seu desaparecimento por causa do impacto negativo na paisagem da cidade e os que lutam para transformá-lo em uma área permanente de lazer.
O debate em São Paulo ocorre há alguns anos, mas acabou aquecido com a decisão do prefeito Fernando Haddad (PT) de sancionar uma lei que denomina o elevado como Parque Minhocão sempre que ele estiver fechada aos carros. Hoje, o local é interditado para veículos durante a semana entre 21h30 e 6h30 e aos finais de semana a partir das 15 horas. O projeto de lei foi enviado pelo vereador José Police Neto (PSD).
A sanção não foi bem digerida por associações que querem o desaparecimento do elevado. “A lei está forçando a barra para transformar o Minhocão em parque. Mas não há segurança no local para isso e o parque não resolve os problemas da degradação da região”, argumenta o arquiteto Lucio Gomes Machado, morador de São Paulo e para quem o local deveria ser desmontado.
Defensores do Minhocão como área de lazer, garantem que o local é seguro. Um exemplo, dizem, é a própria altura do guarda-corpo. Detratores do parque dizem que esse aparato expõe as pessoas ao risco de queda, por ser muito baixo. Mas a Associação Parque Minhocão garante que ele está dentro das normas da ABNT e que tem altura idêntica ao do guarda-corpo do Viaduto Santa Ifigênia, onde transitam pedestres.
Nova York se valeu dessa solução urbanística para recuperar uma antiga via férrea elevada. A High Line estava abandonada e trazia insegurança a quem vivia naquela região. Hoje, ela é um parque linear suspenso reconhecido em todo o mundo. Mas apesar das semelhanças com o Minhocão, Machado diz que as duas vias não podem ser comparadas. “A High Line cruzava um bairro de depósitos e indústrias. Além disso, ela tem um dano urbanístico muito menor do que o do Minhocão por passar apenas sobre uma via”.
Criado há 45 anos durante a gestão do então prefeito Paulo Maluf, o Minhocão deverá ser desativado para o trânsito de automóveis particulares nos próximos anos. Pelo menos é isso o que define o novo Plano Diretor de São Paulo, sancionado por Haddad no ano passado. Mas ainda não está claro se o elevado se tornará definitivamente um parque ou se será demolido. Durante a cerimônia de sanção da Lei, o atual prefeito afirmou não ter posição formada sobre o assunto. Disse, porém, que a construção do viaduto foi um “erro”.
Implosão de elevados foi solução mais comum ao redor do mundo
A transformação desses elevados em áreas de convivência não tem sido comum. A capital do Rio de Janeiro, por exemplo, implodiu a Elevado da Perimetral em uma tentativa de revitalizar a região portuária carioca. O projeto incluiu a implantação de ciclovia e paisagismo, abrindo espaço de circulação para o Museu do Amanhã.
Boston, nos Estados Unidos, gastou mais de U$$ 14 bilhões (mais de R$ 40 bilhões no câmbio atual) para construir um conjunto de túneis e implodir o que eles chamavam de “Green Monster” (Monstro Verde). Após quase 20 anos em obras, a paisagem da cidade mudou radicalmente com a implantação de jardins sobre os novos túneis.
Seul, na Coréia do Sul, teve de lidar não só com as enormes estruturas de concreto, mas também com poluição e degradação às margens do rio Cheonggyecheon. Além de limpar o curso da água, a capital sul-coreana optou por demolir todos os viadutos sobre ele. O resultado foi a apropriação do espaço pelas pessoas, algo desejado por quem frequenta o Minhocão.
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