No último mês de março, a cidade de Medellín, na Colômbia, ganhou o prêmio Lee Kuan Yew World City, sendo reconhecida, entre 38 selecionadas, como um modelo a ser seguido em termos de inovação e qualidade de vida. Da violência urbana vivida intensamente até o início dos anos 1990, tendo o narcotraficante Pablo Escobar como símbolo, aos projetos que ajudaram a melhorar os índices de educação, saúde e segurança, entre outros. Esse é o caminho reconhecido pelo Lee Kuan Yew World City Prize, concedido a cada dois e organizado pelo governo de Singapura – cidade-país de 5,4 milhões de habitantes referência mundial dentro do conceito de smart city, apesar de estar sob um regime ditatorial. Em 2014, 2012 e 2010, respectivamente, o mesmo prêmio foi recebido por Suzhou (China), Nova York (EUA) e Bilbao (Espanha).
Veja o vídeo que a premiação preparou sobre Medellín
“Acima de tudo,cidade recuperou sua autoestima”, avaliam arquitetos que conhecem Medellín de perto
Leia a matéria completaComo bem lembra o júri da premiação, a expansão urbana descontrolada é um problema não só em Medellín, mas em vários centros urbanos da África, Ásia e América Latina. “O fato de que a situação em Medellín era exacerbada pela guerra contra as drogas, lutada nos telhados e lajes dessas comunidades, faz apenas com que a transformação da cidade seja ainda mais excepcional”, diz o júri em suas justificativas para a escolha da cidade colombiana. Daí a ideia de que Medellín possa ser um exemplo para outras cidades que também têm a violência urbana como principal desafio.
No conjunto de iniciativas que deu a Medellín esse reconhecimento estão, principalmente, esforços nas áreas de mobilidade, meio ambiente e ocupação de espaços públicos, implementados, sem sua maioria, pela companhia Empresas Públicas de Medellín (EPM).
Conheça três das ideias que deram certo em Medellín
Em geral, o júri do Lee Kuan Yew World City Prize ressalta que os projetos de Medellín não ficaram limitados a determinadas gestões e que a originalidade e a ousadia são características dos projetos que moldaram a Medellín atual. Essa também é a opinião de dois designers e professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba, que conhecem a cidade colombiana bem de perto.
“As mudanças que observamos hoje não foram lentas. Foram rápidas e devido a uma gestão municipal muito forte e organizada em sintonia com os empresários e o poder público, em prol de implementar mudanças radicais e urgentes para reverter o quadro desolador em que a cidade se encontrava”, observa Libia Patricia Peralta Agudelo, designer colombiana que conhece Medellín desde pequena e que tem parte de sua família, incluindo mãe e irmãos, vivendo lá atualmente.
Sobre a EPM e os arranjos estruturais de Medellín
Criada em 1920 para administrar os bondes elétricos da cidade, a companhia Empresas Públicas de Medellín (EPM) ganhou, com o apoio do Banco Mundial, um novo status a partir da década de 1950. Alvo do marketing de lugares e da ação incisiva das agências internacionais de desenvolvimento e financiamento, a EPM é hoje um grupo empresarial de serviços públicos, com atividades que vão da instalação de redes elétricas à implantação de projetos de mobilidade. Controlada pela prefeitura de Medellín, funciona a partir de uma dinâmica bem parecida com as operações consorciadas urbanas e parcerias público-privadas brasileiras e tem, segundo a premiação, investido cerca de 30% do seu lucro anual em projetos de infraestrutura urbana e de cunho social.
“Nesta iniciativa [de revitalização de Medellín], assim chamada de “acupuntura urbana”, várias ações foram realizadas ao mesmo tempo, em vários setores. (...)Tanto em questões de urbanismo, envolvendo a recuperação de setores da cidade que eram críticos, tais como as favelas tomadas pelo tráfico, até locais degradados que tinha se tornado intransitáveis, como o Centro da Cidade, a Praça Maior e o Centro Administrativo de Alpujarra”, conta Patricia.
O marido de Patricia, o também designer e professor da UTFPR Eloy Casagrande Júnior, lembra dois dos projetos que mais revolucionaram as comunidades de topografia acidentada de Medellín: o Metrocable, conjunto de teleféricos que hoje transportam quase 600 mil pessoas diariamente de forma integrada ao metrô; e o La Escalera, a colocação de escadas rolantes para facilitar a locomoção da Comuna 13/ San Javier. “Além disso, todos os bairros receberam postos policiais e têm projetos como o UVA (Unidades de Vida Articulada), que são espaços públicos com centros esportivos, culturais e de encontro comunitários. A taxa de homicídio caiu quase 80% nos últimos 15 anos. A linha de pobreza, para o período entre 2002 e 2010, diminuiu quase 40%. É claro que ainda há violência, mas numa escala menor. Eu nunca me senti ameaçado ao caminhar na cidade e nos bairros.”
Patricia ressalta também como o poder público se valeu, em 2004, de um momento econômico bom, aliado a políticas fiscais que favoreciam o apoio e a participação de empresas, e apresentou um Plano Diretor coerente e ambicioso, mas exequível para Medellín. “Hoje há uma grande autoestima nos habitantes da cidade. As pessoas cuidam, mostram, participam, o que antes era impossível.”
Lee Kuan Yew World City Prize 2016 Laureate from AUDEonline on Vimeo.
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