Foto de 2015 de Santiago, no Chile. No ano passado, a capital chilena teve sua primeira emergência ambiental em razão d a poluição em 16 anos.| Foto: Ariel Marinkovic/X-Cam/EFE

As cidades latino-americanas lutam para conseguir conjugar mobilidade, governança e meio ambiente, na região com os maiores índices de desigualdade do planeta, que é também uma das mais urbanizadas – enquanto a média da população mundial vivendo em cidades hoje é de 54%, nas cidades da América Latina esse índice chega a 80%. Esse tema foi o foco de discussão de um grupo de especialistas que se reunirão na sede da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), em Santiago do Chile, entre segunda (2) e terça-feira (3).

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O crescimento econômico da região, que aprofundou padrões de consumo insustentáveis como o uso de veículos privados, não fez mais que aumentar essas diferenças e piorar o trânsito e o ar que os cidadãos respiram.

O desafio começa com “acabar com as enormes desigualdades (...) porque as pessoas com menos recursos são as que mais têm que se mover para chegar ao trabalho”, uma média de uma hora e 40 minutos para cada trajeto no Chile, afirmou Cristian Bowen, subsecretário de Transportes do país.

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E, tanto no Chile como em outros países da região, as mais penalizadas são as mulheres, as que mais dependem do transporte público, lembra Paola Jirón, acadêmica da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Chile.

“O transporte é determinante não apenas nas mudanças climáticas, mas também na desigualdade, nas problemáticas de qualidade de vida e em como se intensifica o isolamento das comunidades mais distantes”, diz Carolina Toha, prefeita de Santiago e presidente do grupo assessor de alto nível de transporte sustentável das Nações Unidas.

Mobilidade sustentável e saúde

A mobilidade deve buscar o “equilíbrio justo entre a sustentabilidade e o desenvolvimento”, diz Toha, partidária de integrar todos os atores do espaço público na solução - automobilistas, ciclistas, pedestres, condutores do transporte público, taxistas e motoristas.

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A contaminação gerada pelo transporte ultrapassou a capacidade da saúde de suportá-la, alerta o mexicano José Luis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos da CEPAL.

Em megalópoles como a Cidade do México ou Santiago, a concentração de partículas na atmosfera ultrapassa em mais de duas vezes as recomendações da Organização Mundial da Saúde. A capital mexicana, de 21 milhões de habitantes, vive há um mês e meio uma grave contingência ambiental; já em Santiago, 34 alertas ambientais foram declarados só no ano passado.

Do mesmo modo, os congestionamentos do trânsito em cidades como a Cidade do México, São Paulo – a cidade latino-americana com mais veículos motorizados – Santiago ou Rio de Janeiro, têm um custo econômico alto, alerta Samaniego.

Isso porque a saturação dos automóveis é diretamente proporcional ao aumento da renda. “A qualidade do serviço público de transporte e o padrão de consumo dominante promovem a fuga para o transporte privado”, explica Samaniego, acrescentando que, no entanto, o problema de congestão e consumo de combustíveis fósseis não é de responsabilidade de todos.

Na Colômbia, lembra o especialista, os ricos consomem 80% da gasolina. Por tanto, os subsídios que muitos governos dão aos combustíveis beneficiam principalmente os mais ricos, ou seja, aqueles que podem comprar um carro.

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A qualidade de vida urbana deveria ser uma prioridade na agenda estratégica de 2030, recomenda. A agenda a qual Samaniego se refere é aquela que será consolidada em Quito, Equador, no próximo mês de outubro, na conferência da ONU Habitat III.

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Mudança de paradigma

Por tudo isso, a sustentabilidade e a integração vão ter que “permear o resto dos componentes da política pública”, afirma o argentino Ricardo Sánchez, responsável da Divisão de Recursos Naturais e Infraestrutura da Cepal, que defende uma “mudança de paradigma”. “Mantemos estigmas de governança que foram criados há anos”, diz. “O maior desafio para desenvolver um sistema de logística e mobilidade complementar, integrado e de alta qualidade na nossa região não é só financeiro, mas também intelectual e institucional”, afirma Sánchez.

Mas nada do que é feito tem sentido se os usuários do transporte público pensam que é “uma desgraça e não uma vantagem e continuam sonhando em ter um carro”, diz a prefeita de Santiago, que luta para que as políticas de sustentabilidade e equidade “convençam”, já que “há muita resistência”.