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| Foto: Fabio Arantes/Secom SP

A gestão Fernando Haddad (PT) planeja recompensar financeiramente o paulistano que trocar o carro ou o ônibus pela bicicleta, por meio da criação do bilhete mobilidade, que substituirá o atual bilhete único. Segundo a prefeitura, quem fizer parte do percurso diário de bike passará a acumular créditos. Eles serão calculados de acordo com a distância, o local e o horário percorridos, e poderão ser resgatados em dinheiro ou consumidos em uma rede credenciada de serviços.

A ideia é estimular o uso da bicicleta como meio de locomoção até o trabalho e integrar os diferentes tipos de modais. Para isso, a prefeitura promete dar “descontos” na passagem de ônibus, na viagem de táxi ou nos percursos realizados em carros compartilhados, como o Uber. Todos passariam a aceitar os créditos acumulados pelos ciclistas, assim como estabelecimentos credenciados, como em um programa de milhagem. Também está previsto o resgate em dinheiro de créditos, a exemplo da Nota Fiscal Paulista. Se essa for a opção, o reembolso deverá ser liberado a cada quatro meses ou duas vezes ao ano, em conta bancária.

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Segundo prevê o projeto, desenvolvido em parceria com o vereador José Police Neto (PSD), a verba para o pagamento dos ciclistas sairia do montante repassado às empresas de ônibus como subsídio - por ano, são cerca de R$ 2 bilhões. O valor é necessário porque a tarifa, hoje de R$ 3,80, não cobre todos os custos do sistema. De acordo com a empresa que presta o serviço e a quantidade de viagens dentro de três horas (período do bilhete único), esse valor pode alcançar até R$ 5.

“Subsídio não deve ser repassado apenas para o transporte coletivo. Temos de mudar essa lógica e usar melhor esse dinheiro. Ao incentivar o uso da bicicleta, tiram-se carros das ruas e passageiros dos ônibus superlotados”, afirma Police Neto.

O projeto de lei proposto originalmente por ele já foi aprovado em primeira discussão e, com o apoio da gestão Haddad, deve ter o aval definitivo da Câmara Municipal até o fim do ano. A previsão é de adotar o bilhete mobilidade já em 2017.

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Valores

Os valores dos créditos não estão definidos. Mas, segundo a SP Negócios, empresa municipal responsável pela implementação , deverão ser calculados de modo a atrair o paulistano no horário de pico.

Subsecretário do Tesouro Municipal, Luiz Felipe Vidal Arellano reforça que o valor dos créditos deve ser suficiente para estimular as pessoas a andar de bicicleta. “Se for muito baixo ninguém se sentirá incentivado a aderir, mas, por outro lado, não pode representar uma elevação dos gastos da Prefeitura”, diz, referindo-se ao custo dos subsídios.

Formatos semelhantes já funcionam em outras cidades do mundo. Em Paris, por exemplo, o ciclista recebe cerca de R$ 0,90 (0,25) por quilômetro rodado. “Em São Paulo, acho que oferecer de R$ 4 a R$ 8 por dia em créditos resolveria. Esse seria um valor significativo para atrair e para ajudar a bancar a manutenção da bicicleta, o seguro, os equipamentos. Quem aceita o desafio de ajudar a cidade deve ser reconhecido e recompensado”, diz Police Neto.

Aplicativos

Para participar do programa, o ciclista deverá adquirir o bilhete mobilidade (ou continuar usando seu bilhete único) e baixar um aplicativo indicado pela prefeitura. A checagem do percurso feito pelo ciclista poderá ser feita com a ajuda da tecnologia, via celular, ou mesmo por meio de pontos de medições – em terminais, estações de metrô ou de aluguel de bicicleta.

Para ciclista, só vai funcionar se o reembolso for igual ao subsídio

O valor dos créditos é que determinará o sucesso ou o fracasso do programa, na avaliação do ciclista Roberson Miguel, de 36 anos. Defensor da expansão das ciclovias para a periferia e do uso da bicicleta como meio de transporte diário, ele vê potencial no projeto, desde que o reembolso seja equiparado ao subsídio pago às empresas de transporte.

“A prefeitura tem de definir um valor cheio. Não é justo fazer esse cálculo de acordo com a distância percorrida. O ciclista vai deixar de usar o ônibus ao pedalar três, quatro ou dez quilômetros”, diz.

Outra ressalva feita por ele diz respeito ao uso dos créditos. O ciclista defende que a rede credenciada sugerida pela Prefeitura seja mais diversificada - e inclua, por exemplo, sacolões municipais, mercados e papelarias.

IPTU

Segundo o vereador José Police Neto (PSD), cogita-se ainda permitir o uso desses créditos no pagamento de tributos, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), ou contas de água ou luz. A gama completa de opções deverá ser definida somente com a regulamentação do projeto, pelo prefeito, após a aprovação definitiva pela Câmara.

Para a ciclista Fabia Barbieri, de 39 anos, qualquer política que promova a bike como meio de transporte é bem-vinda. “Estamos discutindo uma mudança cultural. Isso, sabemos, leva tempo. Então, quanto mais formas de incentivo tivermos, melhor será”, diz.

Sócia-fundadora do aplicativo Bike na Firma – no qual empregadores cadastrados concedem benefícios a funcionários que vão trabalhar de bicicleta –, ela afirma que substituir o carro pela bicicleta durante a semana rende uma economia de R$ 7,2 mil por ano. “Vale a pena, financeiramente falando. Talvez esse projeto ajude a mostrar isso.”

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