Um simulador de tráfego criado pelo pesquisador Martin Treiber, da Universidade Técnica de Dresden (Alemanha), repercutiu no Brasil após uma versão nacional ser reproduzida no site do coletivo HackLab. O projeto sustenta que a redução dos limites de velocidade melhora a velocidade média de tráfego.
A discussão sobre o tema pautou a eleição municipal de São Paulo. João Dória (PSDB), eleito prefeito no primeiro turno, encampou a promessa de aumentar os limites das marginais Tietê e Pinheiros.
De acordo com o perfil do Hacklab no Facebook, o modelo utilizado por eles – com autorização do pesquisador alemão – sofreu pequenas modificações para deixar alguns parâmetros fixos, como densidade de carros, passagem do tempo e proporção de caminhões. “Com isso, isolamos o efeito do limite de velocidade”, diz trecho do comunicado do coletivo.
No simulador, é possível aumentar e diminuir a velocidade máxima permitida para observar o comportamento do trânsito em circuito fechado. Em uma velocidade máxima de 50 Km/h, a velocidade média fica em 39 Km/h. Ao aumentar o limite para 70 Km/h, essa média cai para 21 Km/h.
De acordo com o consultor de comportamento no trânsito Horácio Figueira, isso ocorre por conta do tempo de reação e percepção do motorista. “Com uma velocidade menor, ele [o motorista] consegue enxergar o evento [carro à frente, por exemplo] antes. Isso causa menor turbulência [na redução da velocidade].”
A explicação de Figueira é similar a do Hacklab: quanto maior a velocidade, menor o tempo disponível para reação do motorista. Com mais freadas bruscas, o “anda” e “para” se torna mais frequente e a velocidade média de tráfego acaba caindo.
São Paulo
A gestão Fernando Haddad (PT) reduziu os limites de velocidade das marginais em junho de 2015 de 90 Km/h para 70 Km/h nas faixas expressas, de 70 km/h para 60 km/h nas centrais e de 70 km/h para 50 Km/h nas locais.
Em reposta a um pedido da Gazeta do Povo, a Companhia de Engenharia de Tráfego compilou dados que mostram queda de 21% na média diária de congestionamento da Marginal Tietê (14 Km para 11 Km) e de 10% na Marginal Pinheiros (10 Km para 9 Km) quando comparados o período de julho de 2014 a junho de 2015 com os 12 meses subsequentes. Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta semana também mostrou queda de 52% no total de acidentes fatais nas duas vias, passando de 64 acidentes com mortes entre julho de 2014 a junho de 2015 para 31 ocorrências desse tipo nos 12 meses seguintes.
Apesar de o caso de São Paulo estar no centro do debate, o coletivo informa em sua página oficial que o simulador desenvolvido por eles não é um modelo para a cidade. “Uma cidade é sempre mais complexa do que qualquer modelo. Nosso objetivo é explicar como é possível a diminuição da velocidade máxima melhorar a velocidade média.”
A redução dos limites de velocidade das vias urbanas é uma tendência mundial. Antes de São Paulo, cidades como Toronto, Paris e Londres já haviam adotado medidas semelhantes – como mostrado em reportagem recente publicada pela Gazeta do Povo. A gestão Gustavo Fruet também seguiu essa tendência e implantou a chamada Área Calma, com limite de 40 Km/h em um polígono formado por 140 quarteirões do centro de Curitiba, além de duas Vias Calmas, onde o limite máximo é de 30 Km/h.