Gestantes com suspeita de zika atendidas na rede pública de saúde passarão a fazer dois exames de ultrassom durante o pré-natal em vez de um. A mudança, que atende a uma recomendação feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), passa a valer no fim de novembro.
Além da ampliação do número de exames, o novo protocolo deverá trazer uma série de orientações para médicos e profissionais de saúde para o tratamento de gestantes com suspeita ou portadoras de chikungunya, doença também transmitida pelo Aedes aegypti que, a exemplo da zika, traz o risco de ser transmitida durante a gestação para o bebê.
Ao contrário do vírus da zika, o maior risco de transmissão da chikungunya da mãe para o bebê ocorre nos três meses finais de gestação. O contágio pode fazer com que a criança nasça com problemas graves de saúde, provocados principalmente pela ação do vírus no sistema nervoso.
O diretor de Vigilância em Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, disse em entrevista que não há nenhuma orientação para que a gestante com chikungunya faça o parto cesáreo. “As avaliações deverão ser caso a caso. Não há uma indicação clínica específica para isso”, disse. Ele observou, no entanto, que haverá recomendação para que se verifique a necessidade de se adequar a rede para um eventual aumento da demanda por UTIs para os bebês.
Hage afirmou que o governo deverá reforçar os preparativos da rede pública para enfrentar um eventual aumento de casos de chikungunya no Brasil entre a população em geral. A expansão da doença preocupa por três razões. Primeiramente, ela é conhecida em outros países por provocar epidemias explosivas. Além do grande número de casos, a doença pode tornar-se crônica, exigindo da rede pública não apenas atendimento no setor de urgência, mas na rede especializada, sobretudo com direcionamento ao alívio da dor e de problemas nas articulações. Há, ainda, um número expressivo de mortes relacionadas à doença. “A taxa de mortalidade é de 0,4 caso a cada 100 mil habitantes”, disse Hage – esse é um indicador semelhante ao da dengue.
O problema, no entanto, é que há um grande número de pessoas suscetíveis ao vírus no Brasil. “Não sabemos o motivo, mas a chikungunya, quando chegou ao país ficou concentrada em dois estados, somente agora ela se expandiu”, afirmou à reportagem Carlos Brito, infectologista da Universidade Federal de Pernambuco .
Números
Agora, no entanto, o vírus já está presente em todos os estados e a doença parece despertar. O número de casos relatados neste ano é dez vezes maior do que o identificado em 2015. Até agora, foram registrados 236.287 pacientes com a doença, enquanto no ano passado haviam sido identificados 23.431 casos. A epidemia está concentrada no Nordeste e a tendência, na avaliação de especialistas, é de que o comportamento se replique em outras regiões, caso medidas de controle do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, não sejam adotadas de forma eficiente.
O manual de esclarecimento, afirmou Hage, deverá conter informações sobre como diferenciar os três tipos de infecção provocada pelo mosquito – dengue, chikungunya e zika –, a forma de atendimento, os medicamentos que podem ser adotados e aqueles que devem ser evitados. “A ideia é fazer um protocolo integrado, com abordagem para os três tipos de infecção”, disse.
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