Vamos ter um tempo para debater essa possível greve que, neste momento, não tem uma solução
Com a greve dos professores da rede estadual de ensino marcada para 15 de março, o governo do Paraná ganhou um mês para tentar evitar que as paralisações interrompam as aulas das 2,1 mil escolas do estado. Esta seria a quarta greve na educação pública do estado em quatro anos.
O período será usado para tentar convencer a APP Sindicato, que representa os professores, de que as reivindicações exigidas são inegociáveis neste início de ano. A entidade, porém, estará mobilizada para convencer a comunidade e lideranças dos colégios de que sua pauta é válida.
A decisão pela greve foi tomada em assembleia realizada sábado (11), em Maringá, com a presença de 3 mil professores. As propostas de parar as atividades já na quarta-feira (15), quando começa o ano letivo, ou de interromper o trabalho a partir do dia 22 deste mês foram derrotadas na assembleia.
As principais reivindicações dos professores têm relação com um pacote de medidas adotadas pelo governo no início do ano. A primeira delas diz respeito à hora-atividade. O governo diminuiu em duas horas o período semanal usado para corrigir provas e preparar aulas.
Também mudou o sistema de distribuição de aulas extraordinárias, priorizando professores com alta frequência nos últimos cinco anos. Isso prejudica servidores que se afastaram por motivo de doença ou para cursos de aperfeiçoamento. Por fim, o governo adiou – sem definição de nova data – o reajuste salarial prometido para os servidores, para recompor a inflação de 2016.
O chefe da Casa Civil do governo Beto Richa (PSDB), Valdir Rossoni, afirma que o período antes da greve será usado para dialogar com a APP e para mostrar que as reivindicações dos professores não podem ser atendidas neste momento. “Vamos ter um tempo para debater essa possível greve que, neste momento, não tem uma solução”, afirma.
Rossoni completa que está difícil convencer a APP, mas que é uma medida necessária. “O que estamos com dificuldade é convencer a APP de que não temos condição de oferecer mais do que pagar em dia, fazer as promoções e progressões e pagar o 13.º salário”. Foram 75 mil atos de progressão e promoção de servidores estaduais, a maioria professores, feitos em janeiro deste ano.
Segundo o chefe da Casa Civil, o reajuste salarial prometido só será pago quando a economia do estado melhorar. “A economia do Paraná se comportou bem até o meio do ano [de 2016]. Depois desacelerou e tivemos um mês de dezembro e um janeiro desastrosos”, afirma Rossoni.
Ele diz ainda que as decisões sobre distribuição de aula e hora-atividade são inegociáveis. O governo defende que está amparado na lei ao diminuir a hora-atividade, pois o concurso para contratação dos professores estabelece carga horária de 20h/relógio [60 minutos], e não 20h/aula [50 minutos cada], que era o critério utilizado até então para a distribuição das aulas.
O deputado Luiz Claudio Romanelli, líder do governo na Assembleia Legislativa, afirma que a questão da hora-atividade deve acabar sendo resolvida na Justiça. “A posição da Casa Civil é inegociável. Esse tema já está judicializado.”
Um deputado próximo ao governador Beto Richa também acredita que será difícil o governo recuar em suas posições adotadas em relação às reivindicações dos professores. “O que a gente sente é que os professores não estão tão mobilizados quanto em outras vezes. O governo acredita que não vai ser preciso recuar.”
Com categoria dividida, sindicato tentará mobilizar professores
A APP Sindicato diz que não há chance de a greve não começar em 15 de março e afirma que usará o tempo até lá para unir a categoria e a sociedade em torno das reivindicações da classe.
“Encerramos 2016 com muita divisão, porque o governo jogou essa divisão para a categoria. Vamos construir bem esta greve tanto com a categoria quanto com a sociedade”, afirma Hermes Silva Leão, presidente do sindicato.
Serão eleitos representantes nas escolas para mobilizar pais, alunos e professores em favor da greve. Além disso, uma vez por semana, os professores vão dar cinco aulas de 30 minutos cada e usar o período restante para debater tanto com a sociedade quanto a comunidade acadêmica as reivindicações da categoria.
Leão diz que há perseguição do governador Beto Richa com os professores do estado e que não acredita na possibilidade de diálogo. “Essa greve vai acontecer e é uma greve por tempo indeterminado.” (JS)
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