O governo do Rio pediu nesta terça-feira (23) a transferência de pelo menos oito detentos para presídios de segurança máxima fora do estado. A informação é do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, que afirma que esse número pode chegar a 13. O pedido de transferência já foi feito à Vara de Execuções Penais.
Ainda segundo Beltrame, que participa de um coletiva na sede da Secretaria de Segurança Pública, no Centro da cidade, esses detentos seriam chefes de facções criminosas importantes e precisam ser afastados do Rio de Janeiro. O secretário voltou a afirmar nesta terça que os ataques que vêm acontecendo são uma represália à política de segurança implantada no estado, que tem como principal foco as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) instaladas nas favelas.
"Quanto mais provocarem as nossas propostas, mais forças terão as nossas ações", diz o secretário. Segundo ele, há, ao todo, 450 policiais nas ruas do Rio, sendo 300 policiais militares e 150 policiais civis.
Informações apontam que algumas ordens podem ter partido da Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Catanduvas (PR), mas, para Beltrame, esses dados são escassos e ainda estão em análise.
O secretário também confirmou que o governo recebeu informações, ainda não confirmadas pelos órgãos de inteligência da polícia, de que duas grandes facções criminosas do Rio teriam se unido para ordenar os ataques. Ele explicou também que a Secretaria recebeu há cerca de um mês algumas informações sobre os atos criminosos, mas de acordo com Beltrame, muitos deles não se confirmaram ou foram reprimidos pela polícia.
Apesar do caos e da sensação de insegurança dos moradores do Rio, para Beltrame, esses ataques não são representam o momento mais crítico da política das UPPs. A princípio, o secretário revelou que não pretende usar a Força Nacional para conter os atos criminosos.
"Quem atravessar o caminho daquilo que está sendo posto ao Rio será atropelado". "Não temos a pretensão de acabar com o tráfico. Ele existe em Nova York, em Paris, e em qualquer lugar do mundo. Mas o território imposto por armas de fogo tem que acabar", falou.
Apoio de helicóptero
Além do aumento do efetivo da Polícia Rodoviária Federal no Rio, com a transferência de agentes de vários estados do país, o reforço na segurança vai contar ainda com um helicóptero usado em ações táticas operacionais com equipes especializadas. Com a medida, haverá um aumento 200% no efetivo que atua nas estradas federais no estado.
O anúncio da medida foi feito nesta terça-feira (23) pela a assessoria de imprensa do MJ, confirmando que o governador do estado, Sérgio Cabral, ligou nesta manhã para o ministro, Luiz Paulo Barreto, e fez o pedido de reforço devido aos ataques criminosos nas últimas 48 horas.
De domingo (21) até a noite de segunda-feira (22), nove roubos de motoristas e incêndios em veículos assustaram os moradores do Rio de Janeiro.
Força de Segurança Nacional poderá ser acionada
Serão transferidos agentes de vários estados do país, numa mobilização que vai implicar em redução de folgas das equipes para intensificar o patrulhamento em pontos estratégicos do estado, segundo informações da assessoria da PRF no Rio.
Embora não revele os números, o Ministério da Justiça ainda disponibilizou recursos financeiros que poderão ser usados para compra de equipamentos e veículos. Na articulação estratégica, que envolve ações das polícias Rodoviária Federal, Civil e Militar, ficou acertada a troca sistemática de informações entre os Centros de Inteligência de cada unidade.
O Ministério da Justiça também informou que a Força de Segurança Nacional está em estado de alerta e pode ser acionada a qualquer momento a pedido do governo do Estado do Rio.
Beltrame havia descartado ajuda federal
Na segunda-feira (22), o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, havia descartado um pedido de ajuda ao governo federal para conter a onda de crimes do último fim de semana. Na ocasião, Beltrame afirmou que um "pequeno grupo de uma facção criminosa" seria o responsável pela série de arrastões: "Nós não vamos nos desviar deste tipo de conduta. Se não formos em frente com esse projeto, o Rio está sujeito a não conseguir resultados melhores na Segurança Pública", disse.
Operação 'Fecha Quartel'
Após os nove ataques criminosos no Rio e Grande Rio, nas últimas 48 horas, a Polícia Militar anunciou na manhã desta terça-feira que colocará todos homens nas ruas para reforçar o policiamento. Segundo a polícia, folgas vão ser reduzidas e até o ano que vem o governo promete contratar 7 mil novos policiais.
"Hoje os policiais trabalham na operação que chamamos de 'fecha quartel'. Vão todos os policiais para rua", afirmou o Relações Públicas da PM, coronel Lima Castro, ressaltando ainda que a polícia está fazendo blitzes para apreender materiais incendiários e chegar a suspeitos responsáveis pelos ataques.
"Fizemos várias reuniões e decidimos antecipar as medidas que adotaríamos para o final do ano, diminuindo as escalas, reforçando o nosso policiamento na rua. Vamos ter o Batalhão de Choque operando nas vias especiais, as novas motocicletas para serem distribuídas, sobretudo nos batalhões das regiões metropolitanas", completou.
Segundo ele, além das implantações das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), a polícia vem organizando ações para prender criminosos que fugiram dessas localidades e estão em outras favelas da cidade. "Mas a polícia não pode mais trabalhar sem dados, sem informações, porque é um risco muito grande na comunidade. Estamos fazendo operações cirúrgicas, pontuais, para não colocar pessoas em risco", disse Lima Castro.
Operação em mais de 20 favelas
Com o efetivo de pelo menos 13 batalhões, a Polícia Militar realiza nesta terça-feira operações em mais de 20 favelas cariocas para reprimir ataques a motoristas registrados nos últimos dias, além de policiamento ostensivo nas ruas, segundo informou o coronel Marcus Jardim, comandante do 1º Comando de Policiamento de Área (CPA), que coordena as ações em uma base montada no 22º BPM (Maré), próximo à Linha Vermelha.
Até o fim de dezembro, de acordo com a polícia, mais 250 motocicletas vão circular pela cidade. Na segunda-feira (22), 140 veículos foram distribuídos para os batalhões: "Irão intensificar o policiamento nestas áreas que estão sendo alvo desses criminosos", disse o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte.
Os primeiros ataques começaram há quase dois meses. No início, as autoridades chegaram a negar a possibilidade dos crimes para não amedrontar a população. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no fim de setembro, foram três carros roubados e um homem feito refém.
Diante dos ataques, a PM passou a usar, desde o dia 8 de setembro, um helicóptero para ajudar no patrulhamento. Além disso, 19 batalhões tiveram mudanças de comandante. Ainda em setembro, um ataque acabou com um motorista baleado. Mais uma vez foi anunciado reforço no policiamento.
Cronologia
No domingo, criminosos atearam fogo em dois carros na Linha Vermelha, depois de assaltar os motoristas. Um carro da aeronáutica foi metralhado na ação. À noite, na Via Dutra, na altura da Pavuna, dois carros foram roubados e uma vítima foi baleada; houve ainda arrastões em Laranjeiras e na Lagoa, na Zona Sul.
Na segunda-feira (22), motoristas de dois carros e uma van tiveram seus veículos incendiados no Trevo das Margaridas, em Irajá. Próximo dali, na Rua Monsenhor Félix, no mesmo bairro, uma cabine da PM foi baleada. Ninguém ficou ferido.
À noite, suspeitos atiraram contra policiais na Avenida Dom Hélder Câmara, em Del Castilho, no subúrbio, atingindo a cabine da PM e um carro que estava estacionado perto. Também no subúrbio, na Via Dutra, dois carros foram queimados na altura da Pavuna, próximo ao local do episódio de domingo, e outros dois veículos foram roubados. Na Zona Norte, outros dois carros foram incendiados, um no Estácio e outro na Tijuca.
Na manhã desta terça-feira (23), mais um carro apareceu queimado, desta vez na Praça da Bandeira, na Zona Norte. Segundo policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira), o proprietário contou que encontrou o carro pegando fogo e acredita que tenha sido um ataque. Peritos vão ao local para verificar o que ocorreu.
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