Funcionários de hospitais particulares de Curitiba começaram o segundo dia de greve, nesta quinta-feira (5), com um protesto no Centro da capital paranaense. O sindicato fez uma aglomeração na Praça Rui Barbosa pela manhã, na qual foram definidos os rumos da movimento ao longo do dia. Os manifestantes passaram pela Rua Emiliano Perneta, no Centro de Curitiba, e, às 15h, caminhavam em direção ao hospital São Vicente, na Rua Vicente Machado.
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Curitiba e Região (Sindesc) estimava que 200 manifestantes participaram da manifestação. A instituição informou que havia funcionários de ao menos 12 instituições de saúde no local: San Julian, Angelina Caron, Marcelino Champagnat, Hospital Nossa Senhora das Graças, Mater Dei, Pequeno Príncipe, Santa Casa, São Vicente, Cajuru, Zilda Arns, Erasto Gaerthner e Hospital das Nações.
A Prefeitura de Curitiba fez um levantamento e informou que 24% dos funcionários aderiram à greve no Hospital Zilda Arns. Para evitar problemas, foi promovido um remanejamento interno e funcionários fazem horas extras. Assim, conforme o órgão, não há prejuízo aos atendimentos.
No Hospital Cajuru, de acordo com levantamento da prefeitura, 44% do pronto-socorro está em funcionamento e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não há problemas. No local, 14 cirurgias canceladas.
No Santa Casa, houve piora no funcionamento por causa da greve, segundo a prefeitura, mas a instituição conseguiu manter o atendimento com o auxílio de alunos de graduação. 53% dos funcionários do local aderiram à greve. Na UTI, apenas um trabalhador compareceu ao trabalho.
No levantamento da prefeitura consta ainda que o Pequeno Príncipe tem situação mais crítica. A UTI cardiológica no local está funcionando com 45% da sua capacidade. O setor cirúrgico está com 19% em funcionamento e há 5 pacientes internados na emergência.
O Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), em nota, disse que 9% dos profissionais de enfermagem das unidades de internação e centro obstétrico aderiram à greve. Na Maternidade Mater Dei, que também é administrada pelo HNSG, 40% dos profissionais de enfermagem das Unidades de Internação e Pronto-socorro aderiram à greve.
O diretor técnico do Hospital São Vicente, Ângelo Luiz Tesser, relata que a situação nesta quinta-feira é praticamente igual à enfrentada na quarta. Ele diz que a adesão à greve é restrita ao segmento dos técnicos de enfermagem e que os setores mais afetados pelo movimento foram centro cirúrgico, pronto atendimento e unidades de internação. "Tivemos que cancelar nove cirurgias das 32 programadas. Ainda não fechamos nenhuma ala. Na medida que restringe internamentos eletivos, isso diminui número de atendimentos. Nas emergências, procuramos atender na medida da nossa capacidade."
O Hospital Erasto Gaertner, via assessoria de imprensa, diz que nenhum atendimento é afetado por causa da greve.
Pequeno Príncipe cancela cirurgias
A situação também é complicada no Pequeno Príncipe, o maior hospital pediátrico do estado. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, dos 118 técnicos e auxiliares de enfermagem que deveriam ter trabalhado no turno da manhã, 48 deles (40%) não compareceram.
No Pequeno Príncipe, a paralisação afeta principalmente a UTI cardíaca, que tem déficit de 45% dos funcionários, e o Centro Cirúrgico, onde 75% dos trabalhadores faltaram. Somente nesta quarta, apenas seis das 11 cirurgias marcadas para a data foram realizadas. No primeiro dia de greve 23 cirurgias tiveram de ser canceladas, entre as quais duas cardíacas, duas neurológicas e uma ortopédica.
A decisão forçada do hospital em cancelar alguns procedimentos cirúrgicos por causa da insuficiência de técnicos e auxiliares de enfermagem inquieta ainda mais a mãe Jussara Padilha, que chegou em Curitiba na última segunda-feira (2) com o filho de um ano, portador de Síndrome de Down. Ele sofre de sopro no coração e precisa se submeter a uma cirurgia para reparar o problema. Acontece que, com a greve, o procedimento já foi cancelado por duas vezes nesta semana.
A mãe conta que a cirurgia já estava agendada há seis meses. Na esperança de que a greve acabe ou que o hospital reúna todas as condições para operar o menino, ela diz que pretende ficar em Curitiba pelo menos até o fim da semana. Se nada der certo, ela o filho terão que voltar para Cascavel, a quase 500 quilômetros da capital.
O diretor do HPP, José Álvaro Carneiro, acrescenta que, apesar de ser uma instituição particular, entre 60 e 65% dos atendimentos feitos são via convênio com o SUS. "É o lado perverso da greve", lamenta.
O Hospital Pequeno Príncipe ressalta que, apesar das baixas - que contrariam determinação do Tribunal Regional do Trabalho -, pacientes de setores mais críticos, como a UTI cardiológica, não estão sem atendimento, pois funcionários de outros setores estão sendo remanejados para suprir as demandas mais imediatas. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, o fato obriga alguns trabalhadores a cancelaram as folgas ou, até mesmo, a dobrarem o turno.
Outros hospitais
A reportagem também entrou em contato com as assessorias dos hospitais Angelina Caron, Marcelino Champagnat, Santa Casa de Curitiba, Cajuru, Mater Dei (Hospital Nossa Senhora das Graças), Pequeno Príncipe e aguarda retorno. Ninguém atendeu aos telefonemas, até as 10h25, nas instituições San Julian e Hospital das Nações.
Problemas na quarta
Na quarta-feira (4), ao menos cinco instituições de saúde foram afetadas pela greve. Cirurgias precisaram ser desmarcadas e enfermeiros, técnicos, auxiliares e funcionários da limpeza cruzaram os braços. Os hospitais Pequeno Príncipe, Cajuru, São Vicente, Zilda Arns Santa Casa de Curitiba relataram problemas. Por alguns momentos, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ficaram sobrecarregadas, situação que foi normalizada até o fim do dia.
Sindipar repudia greve
O Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Paraná (Sindipar) manifestou, nesta quarta-feira, repúdio ao que a entidade classificou como "desrespeito imposto à população de Curitiba pelo sindicato representativo da classe trabalhadora, ao ignorar determinação judicial para assegurar as condições básicas de segurança na atenção à assistência e à vida." O documento cita que os danos causados pelo suposto descumprimento serão comunicados à Justiça.
A entidade representantes das empresas cita os repasses do poder público como agravante na hora de discutir reajustes e lista sete pontos a serem esclarecidos. Entre eles estão o fato de a Justiça ter pedido que não houvesse greve enquanto o dissídio estivesse em análise, além de a proposta de reajuste salarial (veja no box) ter sido acolhida "mesmo sob as dificuldades atuais." O texto continua com o relato de que "todos os procedimentos de urgência e emergência que deixaram de ser realizados" serão apurados e que "a falta do atendimento também recai sobre o profissional, e não somente ao sindicato dos empregados, inclusive com possibilidade de processo penal."
Proposta
Na terça-feira (3), houve uma audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) entre patrões e empregados. A proposta apresentada pela desembargadora Ana Carolina Zaina, mediadora da reunião, foi de database em 1.º de maio, reajuste de 7,93% para salários acima do piso, sendo 6,8% a contar de maio 2014 e 1,13% a contar de janeiro de 2015. Para os que recebem acima do piso, a magistrada propõe um ganho real de 2% aos trabalhadores (tendo em vista INPC de 5,82%). Além disso, a desembargadora propôs o reajuste do auxílio-alimentação para R$ 300. Em relação ao cálculo do adicional de insalubridade, a proposta é de R$ 750 a partir de maio de 2014, passando para R$ 850 a partir de janeiro de 2015.
Protesto dos funcionários de hospitais particulares