Alvaro e Lerner em foto de 2002: anos de oposição no Paraná.| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Um “não” de Alvaro Dias foi suficiente para barrar a entrada de Jaime Lerner ao PSDB na década de 90. Era o terceiro ano de Lerner como governador do Paraná e ele havia procurado o então presidente Fernando Henrique Cardoso para migrar do PDT para o ninho tucano. Alvaro, opositor histórico de Lerner, não aceitava tamanho disparate.

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Gazeta noticiou em 1997 a saída de Lerner do PDT. 

Nem mesmo o aparente apoio de alguns nomes fortes do PSDB, como o próprio FHC, foi suficiente para que Lerner tivesse aval no núcleo partidário do Paraná. Os bastidores dessa disputa política estão relatados no livro Diários da Presidência – 1997-1998, de Fernando Henrique. O desfecho da história todos já conhecem: Lerner foi barrado pelo diretório estadual do partido, ingressou no PFL e foi reeleito ao cargo em 1998.

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“Foi uma decisão doída”, disse Lerner à Gazeta na época

Era dia 15 de agosto de 1997. Jaime Lerner reuniu-se no Chapéu Pensador, na sede da Copel em Curitiba no bairro Bigorrilho, e anunciou sua saída do PDT. Até então, não tinha assinado com o PFL, o que veio a ocorrer em poucos dias. No dia seguinte, a Gazeta do Povo, em reportagem assinada por Zanei Barcellos relatou a desfiliação de Lerner ao PDT. “Foi uma decisão doída devido ao companherismo de tantos anos”, disse na oportunidade.

A matéria lembra que Lerner tentou ingressar no PSDB, “mas foi barrado pelos simpatizantes do ex-governador Alvaro Dias, com que Lerner disputou o governo nas eleições passadas”. A publicação recorda que desde 1996 “Lerner estava propenso a deixar o PDT devido a pressões do governo federal”. Ao fazer esse anúncio, o então governador já tinha o aval para entrar no PFL. Como mostra uma reportagem da Gazeta do dia 14 de agosto em que Lerner “telefonou ao presidente Fernando Henrique Cardoso, quando obteve aval para entrar no PFL”.

Um jantar em 28 de abril de 1997 no Palácio da Alvorada praticamente definiu a incompatibilidade de ter Lerner e Alvaro num mesmo partido. Segundo FHC, todos desejavam que Lerner entrasse no PSDB. “Todos pensam como eu. Gostariam que o Lerner entrasse, que o Alvaro concordasse, mas tinham medo de que o Alvaro não fosse concordar. E foi o que aconteceu. O Alvaro veio mais tarde e mostrou incompatibilidade total”, escreve o ex-presidente.

Participaram do jantar os ex-governadores Mario Covas, Tasso Jereissati, Eduardo Azeredo e Marcelo Alencar, além do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta.

FHC saiu do jantar com a confirmação de que Lerner não entraria no PSDB. “Não tenho mais caminho senão dizer ao Lerner que não há essa possibilidade e esperar as consequências”, escreve.

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Para o ex-presidente, politicamente seria melhor admitir o Lerner, mas ele sabia das dificuldades. “São não sei quantos anos de oposição de uns aos outros.”

Com a filiação rejeitada, Lerner se reuniu em 12 de agosto de 1997 com FHC e o vice Marco Maciel para discutir o ingresso no PFL – sigla de Maciel. Em menos de uma semana, o imbróglio já tinha se resolvido e o atual DEM tinha Lerner como membro.

Um ano depois, aliança branca

Ainda em agosto de 1997, o Lerner queria estabelecer uma aliança prévia com o PSDB através de um acordo com Alvaro Dias. A ideia era ter PFL e PSDB juntos no pleito estadual para não ter riscos de perder para Roberto Requião (PMDB).

Nos ‘Diários’, FHC antevê a situação: “É difícil. Podemos insistir”. No fim, oficialmente o PSDB não entrou na coligação de Lerner, como atesta os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No entanto, os tucanos tampouco lançaram uma candidatura própria ao governo. Isso porque FHC, mais uma vez, entrou na jogada: “Falei com Álvaro, com Lerner, vamos fazer de conta que não estão na aliança, quando na verdade estão. Aliança branca”, diz a versão de Fernando Henrique sobre o ocorrido.

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“Se Lerner entrar eu saio”, disse Alvaro

Chamado pelo presidente FHC para jantar no Palácio do Alvorada com governadores tucanos, Alvaro Dias percebeu que era o único senador presente no evento. Não sabia de antemão que entre as pautas discutidas estava o ingresso de Jaime Lerner no PSDB. No início do encontro, Mario Covas, de São Paulo, comunicou que o grupo queria Lerner.

“Eu não tinha direito de discordar. Era recente no partido. Expliquei que eles tinham as suas razões e eu tinha as minhas. Eram trajetórias políticas históricas de oposição. Ele pertenceu à Arena e eu ao MDB. Disse que se ele ingressasse, eu sairia. Preferiram ficar comigo”, relata Alvaro. O senador teve duas passagens pelo PSDB – uma entre 1994 e 2001, e outra entre 2003 e 2016.

Foram dois pleitos em que Alvaro concorreu diretamente com Lerner. Um em 1994 para o governo, em que Lerner derrotou Alvaro. Outro em 1986 em que Lerner foi vice de Alencar Furtado e perdeu a disputa pelo governo para o atual senador. “Sempre estivemos em lados opostos”, ressalta Alvaro.

Sobre as eleições de 1998, Alvaro confessa que queria se lançar para o governo do Paraná. FHC não queria que o PSDB tivesse candidatura própria para facilitar as alianças do partido no estado. No entanto, as pesquisas colocavam Alvaro à frente. “Era o Lerner, o Roberto Requião e eu. Fui conversar com o Requião e achamos que se os dois lançassem candidatura poderia facilitar para o Lerner. Acabei saindo para o Senado”, conta.

Os membros do PSDB ficaram livres para apoiar qualquer um dos candidatos. “Eu não apoiei ninguém. Mesmo com o Lerner apoiando o Fernando Henrique para a Presidência, eu nunca estive no palanque ao lado dele”, relata.

Lerner foi procurado pela reportagem que não conseguiu contato com ele.