Pelos R$ 0,20 (ou não), contra a corrupção, a favor do impeachment... São vários os motivos pelos quais os brasileiros têm sido convocados às ruas, com mais frequência e presença desde 2013, quando “o gigante acordou”. Curitiba, destaque nacional pelo grande número de participantes nas manifestações recentes, já foi palco de uma das mais violentas e inusitadas revoltas populares de que se tem notícia e tudo por causa de um pente.
A Guerra do Pente, como o episódio ficou conhecido, foi descrita assim na manchete da revista O Cruzeiro de dezembro de 1959: “Pente faz Curitiba perder a cabeça”. Não foi exagero.
A compra de um pente na loja de um imigrante estabelecido na Praça Tiradentes foi o estopim para três dias de quebra-quebra e violência, que teriam deixado um saldo de dois mortos, segundo jornais da época – informação não confirmada pelos registros da polícia e do Instituto Médico-Legal –, e mais de cem lojas depredadas.
De início, disparos para o ar e bombas de gás lacrimogêneo foram os recursos utilizados pela Polícia Militar para conter os grupos exaltados que, sem saber exatamente qual era o motivo da agitação, gritavam “Brasil! Brasil!” enquanto depredavam o que aparecesse pela frente. Não adiantou e os conflitos se acirraram.
Os ânimos só foram contidos quando o Exército interveio e o Centro de Curitiba foi tomado por pelotões de soldados armados.
População insatisfeita
Historiadores e estudiosos do conflito analisam que a Guerra do Pente foi uma espécie de reação popular a uma série de insatisfações com a política e a economia nacional.
Na época, o país vivia a euforia do governo de Juscelino Kubitschek que, embora marcado por um surto desenvolvimentista, também enfrentava a dívida externa e a inflação alta. No Paraná, o governo Lupion lidava com denúncias de corrupção e de grilagem de terras. A insatisfação popular era um barril de pólvora e a fagulha foi o conflito entre um policial e um comerciante imigrante.
Nos três dias que se seguiram, os alvos da Guerra do Pente foram comerciantes árabes, judeus, italianos e brasileiros, mas todos conhecidos como “turcos”.