Às vésperas do Dia Mundial Sem Carro – ideia que nasceu na França em 1997 e foi aos poucos adotada por vários países do mundo -, celebrado na próxima terça (22), uma contagem de ciclistas feita pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) apresenta indícios de que a bicicleta está sendo mais usada para transporte do que para lazer.
Ao contar o número de ciclistas que percorriam oito ruas e avenidas de São Paulo, ao longo de nove dias de agosto, sempre das 6h às 20h, o levantamento aponta que, na maior parte dos casos, há dois picos de uso: na manhã, das 8h às 10h, e no fim do dia, das 17h às 20h. Os horários coincidem com o pico do trânsito de veículos motorizados na cidade.
O sentido dos fluxos de bicicletas também é igual ao do tráfego de carros e motos: na manhã, do bairro para o centro, e no fim do dia, do centro para o bairro.
“Fala-se muito em ciclismo urbano, mas falta informação e o debate é feito em cima de achismos”, diz Carlos Torres Freire, um dos pesquisadores responsáveis pela pesquisa. “Como há um certo Fla-Flu sobre as ciclovias de São Paulo, é preciso construir séries históricas de dados feitas por instituições de pesquisa isentas neste debate.”
O estudo aponta que os locais com estrutura para os ciclistas dão vazão à demanda e têm uso mais intenso.
Na Faria Lima, cuja ciclovia está em operação desde 2012, circulam, em média, 1.852 ciclistas por dia ou 132 por hora. Na Paulista, são, em média, 1.690 por dia, ou 120 por hora. No horário de pico, são, em média, 197 por hora.
Já na Consolação, que ainda não tem infraestrutura cicloviária, foram contados, em média, apenas 243 por dia ou 17 por hora.
Fora deste padrão está a ciclovia da Radial Leste, onde foram contados, em média, somente 382 ciclistas por dia ou 27 por hora. “Ali há boa estrutura, mas baixo uso. Nossa hipótese é que isso se deve ao fato de ela não levar o ciclista até o centro, já que termina no Tatuapé”, explica Victor Callil, também pesquisador do Cebrap.
“O resultado da contagem mostra que as ciclovias estão, de fato, sendo utilizadas. Podem ser feitas críticas a seu traçado, mas o estudo deixa claro que elas têm sua função e são usadas por pessoas em seus deslocamentos diários”, completa Callil.
Para Marina Harkot, membro do coletivo de mobilidade Apé, o resultado da pesquisa é positivo, mas não surpreende. “Se criamos uma política cicloviária, faz sentido que as ciclovias sejam usadas não só para lazer, mas como meio de transporte”, diz.
“Isso faz parte de uma mudança de cultura de mobilidade. Sugere que parcela da população da cidade, a dos bairros centrais, está está adotando a bicicleta, espero, no lugar do transporte individual motorizado. Mas, sobre isso, ainda não temos dados.”
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