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após indiciamento

Investigação sobre coletes expõe racha na segurança do PR; associação pede saída de secretário

Wagner Mesquita fez uma manifestação pública, em defesa do comandante da PM, Maurício Tortato | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Wagner Mesquita fez uma manifestação pública, em defesa do comandante da PM, Maurício Tortato (Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

A apuração sobre o recall realizado em coletes balísticos fornecidos a policiais do Paraná gerou uma racha nas forças de segurança do estado. As investigações terminaram com o indiciamento do comandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Maurício Tortato, que atacou o inquérito e recebeu apoio público do secretário de Estado da Segurança, Wagner Mesquita. Nesta sexta-feira (2), associações policiais reagiram, explicitando a cisão. O posicionamento mais duro foi da Associação dos Delegados do Paraná (Adepol), que pediu a destituição do secretário.

Em nota de repúdio, a Adepol afirmou que “causa espécie e muita preocupação” que o secretário, que deveria defender a autonomia do delegado que conduziu a investigação, “exerça juízo político de valor sobre o trabalho investigativo, antes mesmo do pronunciamento do Ministério Público”, titular da ação penal. “Agindo assim, o sentimento comum entre os delegados de polícia do Paraná é que o secretário perde a isonomia, respeitabilidade e altivez para a continuidade no cargo”, consta da nota.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente da Adepol, João Ricardo Kepes Noronha, disse que o apoio de Mesquita ao comandante da PM, no instante em que este atacou as investigações, gerou um mal-estar na Polícia Civil. “A partir do momento em que o secretário cria uma relação de instabilidade, ele está insuflando conflitos, está promovendo o racha”, disse.

Outra entidade policial, o Sindicato dos Investigadores de Polícia (Sipol) avaliou que a manifestação pública do secretário em defesa do coronel “desprestigiou” as instituições que participaram da investigação. O presidente do Sipol, Roberto Ramires, defende o afastamento imediato do comandante da PM, até que o Ministério Público (MP) e a Justiça avaliem o relatório final das apurações.

“Nós defendemos que o governador afaste o comandante [da PM] até que se elucide os fatos investigados. É muito ruim para a centenária Polícia Militar que seu soldado esteja na rua, sabendo que seu comandante foi indiciado”, apontou Ramires. “[O afastamento] é o procedimento que se adota com qualquer cidadão detentor de cargo público”, acrescentou.

Entre as entidades que representam militares, também houve impacto. A União das Praças do Corpo de Bombeiros do Paraná (UPCB) convocou assembleia extraordinária para definir se vai emitir um ofício à Sesp, pedindo o afastamento de Tortato. Pessoalmente, o presidente da UPCB, Henri Francis, é favorável à saída do coronel, pelo menos até a análise da investigação por parte do MP e Justiça. “Juridicamente, ele está sob suspeita para tomar qualquer outra decisão administrativa”, resumiu.

A UPCB e a Associação das Praças do Paraná (Apra) também apontaram que o relatório final do inquérito e as manifestações posteriores abalaram as relações entre as bases e a cúpula da segurança pública e entre as próprias corporações. “Não tem como negar que houve um racha, que provocou um desconforto entre as forças de segurança. O pior é que isso acaba escondendo o principal problema, que é muito grave, que é a questão dos coletes, que acabou expondo a vida dos policiais ao risco”, disse Francis.

“Tudo é pressão e aprendizado. Este abalo se concentra principalmente na cúpula. Na base os policiais trabalhando juntos. Mas, na nossa visão, existe o racha claro lá em cima”, apontou o presidente da Apra, Orélio Fontana Neto. “Por outro lado, ainda faltam coletes a policiais e nós defendemos que todos tenham coletes novos, que é um item individual básico de segurança”, acrescentou.

Defesa

Na quinta-feira, o coronel Maurício Tortato havia classificado o inquérito como “uma excrescência jurídica pautada em meias verdades” e disse que a apuração teria sido movida por “interesses inconfessáveis” do delegado de atingir o governo do estado. O comandante da PM disse ainda que agiu “responsavelmente” para garantir que os coletes passassem a ter condições de uso e apontou que o recall era um processo regular.

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