Ao longo dos 450 km que a lama vinda de Mariana, no interior de Minas Gerais, já percorreu, pelo leito do rio Doce, os moradores se queixam do forte mau cheiro. Além dos compostos químicos e do minério diluídos na água das duas barragens da mineradora Samarco (uma joint venture entre Vale e BHP Billiton) que se romperam no dia 5, há o odor de animais mortos.
No centro de Resplendor, onde a lama chegou na quinta (12), é possível ver peixes e pitus boiando às margens do rio tornado marrom.
Ali, a maior preocupação dos moradores é com o sumiço das capivaras, visto como um indício da gravidade do desastre ambiental. O abastecimento na cidade foi cortado, e a prefeitura trata e distribui a água de um córrego próximo com carros-pipa.
Em Tumiritinga, onde a lama chegou dia 10, o cheiro é insuportável, diz a secretária de administração, Janine Vicente. “O rio era usado para agricultura, pecuária e pesca. Agora ninguém consegue ficar muito tempo perto.”
Neste domingo (15), a lama estava próxima à barragem da hidrelétrica de Aimorés.
Os moradores se reúnem para ver a cor escura que vem tomando o rio, enquanto aguardam a chegada da lama, o que pode ocorrer a partir desta terça (17), diz o Serviço Geológico do Brasil.
“Por enquanto, não dá para perceber nada, porque a água está lá em cima. Todo mundo está nervoso”, afirma Marcelo Leão, secretário municipal de Administração.
Em Governador Valadares, onde o abastecimento foi interrompido no dia 8 e a lama chegou um dia depois, a prefeitura retomou o tratamento e a distribuição de água.
A água do rio Doce chegou a alguns imóveis com cor amarelada e cheiro forte. Segundo a prefeitura, isso se deve a resíduos que estavam na rede e nas caixas-d’água, e disse que a água é potável. O abastecimento só deve voltar ao normal no fim da semana.
Nos últimos dias, cientistas da Unifesp, Unesp e outras universidades se uniram para uma avaliação independente dos impactos ambientais da tragédia. Pesquisadores fazem coletas na foz do rio Doce, onde a lama não chegou, para documentar o antes e o depois e avaliar as condições do meio ambiente.
Para o grupo, os impactos ambientais devem ser monitorados “com a maior isenção e precisão possíveis”. Eles fazem campanha de arrecadação pela internet para reunir R$ 50 mil para a pesquisa.
A 16 km de Resplendor, cerca de 150 indígenas da etnia krenak bloqueiam a ferrovia Vitória a Minas, da Vale, desde sexta (13), em protesto contra os danos causados ao rio. Eles receberam ordem judicial para desocupar os trilhos, mas dizem que só saem quando conversarem com representantes da Vale ou da Samarco.
Em nota, a Vale afirmou que 360 mil litros de água que a empresa enviaria para cidades estão parados nos trilhos.
Em Mariana, mais um corpo foi encontrado - agora quatro aguardam identificação. Sete vítimas já foram reconhecidas e restam ainda 15 desaparecidos. A prefeitura suspendeu temporariamente o recebimento de donativos.
No sábado (14), o prefeito Duarte Júnior (PPS) assinou decreto de calamidade pública na cidade.