O agente de turismo Kleber Aryoshi e o decasségui Israel Silva apostam em oportunidades no Japão| Foto: Fábio Dias/Gazeta Maringá

Reconstrução voltará a atrair brasileiros nos próximos meses

Enquanto muitos encaram a situação do Japão com temor, há também quem veja o momento como oportunidade para a recuperação econômica do país.

É o caso de Israel Pereira da Silva, de Porto Rico, a cerca de 170­­ quilômetros de Maringá, que na segunda-feira voltará ao Japão, após dois anos.

Ele estava entre os trabalhadores que abandonaram o país por conta da crise econômica. Con­­fiante, acredita em dias melhores. "Aqui eu estava parado, com dificuldade para achar emprego. Então, decidi retornar", explica Silva, que vai atuar em uma indústria de alimentos.

O coordenador do projeto do Sebrae "Dekasségui Empre­­ende­­dor", Marcos Aurélio Gon­­çalves, acredita em uma nova onda de imigração nos próximos meses. "O que, num primeiro momento, pode significar desemprego, a médio e longo prazo representará procura por trabalhadores estrangeiros. Serão necessários investimentos públicos e privados para a reconstrução do Japão, o que vai aquecer a economia", afirmou o consultor.

O otimismo também é compartilhado pelo diretor da agência de trabalho Itiban, Kleber Aryoshi. "Essa preocupação existente no momento é algo provisório. A procura por trabalho deve aumentar, porque eles vão precisar de mão de obra para reconstruir as cidades. Foi assim após o terremoto que destruiu Kobe em 1995".

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Emprego

Procura por trabalho no país diminui 90% após tragédia

O caos que atingiu o arquipélago japonês também gerou reflexos na procura por trabalho no país do sol nascente. No Paraná, algumas agências especializadas em empregar brasileiros no Japão estão registrando queda na busca por vagas. De acordo com Kleber Aryoshi, diretor da Itiban, de Maringá, a procura caiu aproximadamente 90% na semana passada.

"O pessoal está muito assustado com a radiação. Pelo menos 20% dos que já estavam com embarque agendado adiaram a viagem para o mês que vem, por medida de precaução", explica. Além disso, Aryoshi conta que 10% das fábricas japonesas também pediram para segurar os novos trabalhadores até o mês de abril.

Em Londrina, a agência Japan Tech também sentiu a influência da catástrofe. "De cada dez que ligavam buscando vagas, pelo menos três não estão nos procurando. A gente sente que o pessoal está com um pé atrás, principalmente porque ficam preocupados com o que está sendo divulgado pela mídia. Mas temos vagas disponíveis e as empreiteiras japonesas estão precisando de mão de obra", informou a gerente da unidade, Mirian Ota.

De acordo com dados divulgados pelo projeto "Dekasségui Empreendedor" do Sebrae, em média 1,8 mil trabalhadores brasileiros se mudaram para o Japão todos os meses no ano passado. Dessa quantia, 50% são do estado de São Paulo e 30%, do Paraná.

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Pouco mais de uma semana após o terremoto e o tsunami que de­­vastaram a costa nordeste japonesa, a maior parte dos dekasséguis, brasileiros que moram no país, permanece no Oriente, à espera de um período de recuperação. A decisão de ficar é tomada mesmo diante do medo de novos tremores e da radiação nuclear emitida pela Usina de Fukushima Daiichi.

A permanência se explica, em grande parte, porque muitos dekasséguis – cerca de 85% do to­­­­tal, conforme estimativa da As­­sociação Brasileira de Dekas­­séguis (ABD) – vivem fora da área afetada pela catástrofe.

O presidente da ABD, Kiy­­oharu Miike, conta que os brasileiros que estão no Japão se adaptaram ao país e pensam muito antes de deixar o que conquistaram. "Se não ocorrer mais nada de grave, acho difícil haver um grande êxodo. Mas, podemos dizer que, no Japão, o futuro é o dia seguinte. O país vive uma situação que ainda não está encerrada".

A ABD, com sede em Curitiba, estima que cerca de 255 mil dekasséguis estejam no Japão e que, destes, pelo menos 30 mil sejam paranaenses.

Retorno

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O consultor do Sebrae e coordenador do projeto "Dekasségui Em­­pre­­endedor", Marcos Auré­­lio Gonçalves, confirma que o número de brasileiros que retornaram do Japão nos últimos dias ainda não é significativo. "No ano passado, tivemos uma média mensal de 900 pessoas voltando ao Brasil. Houve um pequeno incremento neste mês, diante de toda a situação. Mas não acredito que ocorra um fluxo como em 2009, quando tivemos o pico de 12 mil brasileiros deixando o Japão em um único mês, por conta da crise econômica", lembra Gonçalves.

O consultor reconhece, po­­rém, que a preocupação aumentou dentro da comunidade. "À medida que crescem os riscos do acidente nuclear, cada vez mais brasileiros ficam apreensivos e pensam na possibilidade de voltar", diz Gonçalves, que mantém contato diário com vários trabalhadores que estão no Japão.

Outro fator que colaborou para aumentar o medo foi o tremor de nível 6 na escala Richter, registrado terça-feira (15), na região de Shizuoka (a 120 quilômetros de Tóquio), onde residem vários brasileiros.

Insistência

Entre os imigrantes que não planejam retornar ao Brasil está Fernando Saito, de 39 anos , que vive em Izumo na província de Shimane, região ao sul do Japão e que não foi afetada pelo terremoto e pelo tsunami. Ele informou que a situação no local segue praticamente normal, a não ser pela possibilidade de racionamento de energia elétrica e pela falta de água e de alguns alimentos nos supermercados.

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Depois da tragédia, os irmãos de Saito que vivem no Brasil pediram para que ele deixasse o país. "Eles ficaram preocupados, mas não adianta entrar em desespero. Além disso, voltar ao Brasil e fazer o quê? Enquanto não tiver na­­da definido por aqui, voltar não faz parte do meu pensamento", afirma o dekasségui, que é de Terra Boa, a 75 quilômetros de Ma­­ringá, e está no Japão há três anos.