A pediatra Mariane Arns, sobrinha da fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, morta em um terremoto no Haiti, lamentou o falecimento da tia, mas disse que ela morreu fazendo o que amava e destacou o legado que a familiar deixou. Zilda, que tinha 75 anos, morreu durante o forte terremoto que abalou o Haiti na terça-feira (12).
"Minha tia ensinou o povo brasileiro a trabalhar com o pouco que tinha. Com o soro caseiro e a multi-mistura, ela mostrou que não é preciso investir altas quantias para suprir as nossas necessidades. Foi um trabalho maravilhoso", disse Mariane, que há mais de duas décadas mora e trabalha em Maringá.
Pediatra como a tia, Mariane revela que foi influenciada por Zilda na escolha da profissão - outros familiares também seguiram a carreira médica. "Não só eu, mas todos nós, brasileiros, crescemos acompanhando o trabalho dela, que mostrou que lutar pela vida, ainda mais a vida infantil, é gratificante."
Zilda Arns estava na capital do Haiti, Porto Príncipe, para um encontro com bispos e realizaria, às 10h desta quarta-feira, uma palestra sobre a Pastoral da Criança na Conferência Nacional dos Religiosos do Caribe. "Ela morreu trabalhando e fazendo o que amava", disse Mariane.
Ela destaca que a tia fazia visitas frequentes a Maringá, para acompanhar o andamento das ações sociais na região - a primeira Pastoral da Criança foi fundada em Florestópolis, a cerca de 100 quilômetros de Maringá. "Acho que o mais importante agora é que a população continue fazendo as coisas simples que ela ensinou. Esse legado não pode ser esquecido."
Além de Mariane, demais familiares, amigos e políticos estão lamentando a morte de Zilda Arns. Clique aqui e confira os depoimentos. O governador do Paraná, Roberto Requião, decretou luto oficial de três.
Homenagens em Maringá
No próximo sábado (16), a Arquidiocese de Maringá vai celebrar missa pelo falecimento de Zilda Arns. A missa será presidida pelo arcebispo metropolitano, Dom Anuar Battisti, a partir das 19h30, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória.
Ainda nessa quarta-feira (13), o prefeito de Maringá Silvio Barros manifestou o pesar pelo falecimento de Zilda Arns: "A doutora Zilda Arns foi uma pessoa de extrema importância para a saúde de muitas das crianças maringaenses e brasileiras", lembrou. Para o prefeito Silvio Barros o trabalho de Zilda Arns a frente da Pastoral da Criança vai perpetuar a profissional dedicada e competente que ela sempre foi, e servir de exemplo para os milhares de voluntários que vão manter a missão da pastoral de salvar vidas.
Conheça o trabalho de Zilda Arns
Nascida em 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha (Santa Catarina), Zilda Arns Neumann morava em Curitiba desde os 10 anos de idade, quando se mudou com a família. Deixou cinco filhos e dez netos. Formada em Medicina, escolheu o caminho da saúde pública desde cedo. Trabalhou inicialmente como pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, na capital paranaense, e depois como diretora de Saúde Materno-Infantil, do governo estadual.
Em 1980, foi convidada a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória, no Paraná.
Em 1983, a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), criou a Pastoral da Criança com Dom Geraldo Majela Agnello, cardeal e arcebispo primaz do Brasil, que na época era arcebispo de Londrina. Em 27 anos de trabalho, a Pastoral conta com a ajuda de mais de 260 mil voluntários e atende quase 2 milhões de gestantes e crianças menores de seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres, em 4.063 municípios brasileiros.
Em 2008, mais de 1,9 milhão de gestantes e crianças menores seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres foram acompanhados pela ONG em 4.063 municípios brasileiros. Ao todo, a Pastoral conta com mais de 260 mil voluntários que levam conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres.
No ano de 2004, também a pedido da CNBB, fundou a Pastoral da Pessoa Idosa que atende 129 mil idosos acompanhados, todos os meses, por 14 mil voluntários.
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