Uma semana após a ação de fiscalização organizada pela prefeitura de Curitiba, pouco mudou em relação ao comércio ambulante irregular na Rua XV de Novembro. Na quinta-feira (2), fiscais foram até o Calçadão, onde recolheram produtos e autuaram vendedores que se encontravam em situação irregular. Mas, poucos dias depois, a situação parece ter voltado ao seu “normal”.
De carregadores portáteis a uniformes de clubes e brinquedos, a Rua XV continua sendo o mesmo “shopping a céu aberto” de sempre, com vários tapetes espalhados ao longo de todo o trecho que vai da Rua Presidente Faria à Boca Maldita. O número de vendedores é um pouco menor do que o registrado outrora, mas eles parecem ainda não se intimidar com a mudança de postura da prefeitura, que estima a existência de 3 mil ambulantes irregulares.
Alguns parecem mais atentos a uma possível fiscalização, deixando mochilas e pacotes sempre a postos para recolher a mercadoria. Isso não é o suficiente, porém, para afastá-los do Calçadão da Rua XV e muitos até determinam um horário de atendimento. Caso queira procurá-los no dia seguinte, eles garantem que estarão ali sempre no mesmo horário. Segundo alguns deles, as vendas começam após as 16h, quando os fiscais deixam a região.
De acordo com a diretora do departamento de fiscalização da Secretaria de Urbanismo e Assuntos Metropolitanos, Raquel de Freitas Castro, a operação do último dia 2 foi apenas uma ação-piloto, ou seja, uma espécie de teste para verificar quais as dificuldades que a pasta ainda tem na hora de combater o comércio irregular.
“A Rua XV é muito movimentada, então precisamos saber como agir e trabalhar para melhorar essa fiscalização”, explica. “Tem muito ambulante que se mistura com quem passa pelo Calçadão e que pode se chocar com quem não tem nada a ver com a história. A ideia é aprimorar e melhorar essas ações antes de intensificá-las”. É a partir das imagens capturadas durante a ação-piloto que o departamento vai definir o efetivo nas abordagens e o modo mais eficiente de chegar até os camelôs.
Atualmente, a secretaria conta com cerca de 50 fiscais responsáveis por impedir o comércio irregular em toda a cidade. A Rua XV foi escolhida exatamente por ser um dos principais “shoppings a céu aberto” de Curitiba, embora uma lei municipal proíba a atividade na região. “Estamos partindo do marco zero. Tenho que me concentrar no Centro para então pensar nos bairros. Só com a constância é que vai vir o resultado”, diz a diretora.
A rotina das fiscalizações e a sua ida para outras regiões da cidade é algo que ainda vai ser definido. Segundo Raquel, tudo ainda está sendo estudado e estruturado antes de os fiscais irem, de fato, para as ruas.
Comerciantes comemoram
Apesar de os ambulantes ainda estarem presentes no Calçadão, os comerciantes legais da Rua XV já comemoram a redução no número de camelôs na região. De acordo com a proprietária de uma loja de brinquedos, a situação já foi muito pior a ponto de ser difícil trafegar pela rua mais famosa da cidade. “Eles falavam que o lugar era deles e a gente simplesmente acatava com medo”, afirma a mulher, que não quis se identificar, temendo uma possível retaliação dos vendedores que ainda habitam a área central.
Segundo ela, a presença desse comércio irregular afetava diretamente as vendas de sua loja. “Eles vendiam mais barato porque não pagam impostos e nem funcionários. Era difícil competir”, revela. “Isso fez com que alguns comerciantes abandonassem suas lojas e fossem para a rua”. Outra vendedora legal da Rua XV, Geiciane Simões, conta que o número de ambulantes era tão grande que chegou a impedir o avanço de ambulâncias e viaturas da Guarda Municipal de atendiam a algum chamado no Calçadão.
Só que essa mudança apontada pelos lojistas parece ainda ser um “efeito placebo”, já que a concorrência ainda continua desleal e pendendo para os camelôs. Logo em frente a uma loja que vendia material escolar, por exemplo, um homem vendia mochilas a valores bem abaixo da média e ainda usava isso como um diferencial do produto. “Você não vai encontrar algo com esse preço lá dentro”, dizia apontando para o comércio formal.