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A matéria "O português na opinião de quem vem de fora", publicada neste jornal no último dia 6, levou um leitor a fazer o seguinte comentário, por e-mail: "Também me sinto um estrangeiro em relação ao nosso idioma. Nunca aprendi conjugação verbal nem regência". O e-mail é longo, mas todo o conteúdo vai na mesma direção: a absoluta descaracterização desse economista (sim: ele fez Economia na UFPR) quanto ao seu domínio da nossa língua. Pedi permissão para falar sobre o assunto, não sem antes tranquilizá-lo: definitivamente e felizmente o português é português para ele e para os milhões de brasileiros que se sentem estrangeiros.

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Ironicamente, os brasileiros que dizem que não conhecem o português o fazem em português. Numa analogia caricata, é como se um peixe dissesse que não sabe nadar... na água. No caso específico, a longa e deliciosa mensagem do meu leitor desmente-o linha por linha. Imagino que, no seu dia a dia, as situações concretas em que ele usa nosso idioma também são provas contundentes de que ele não tem nada de estrangeiro. E uma espiada na sua infância, dos 2 aos 5 anos, certamente evidenciará que aprendeu o suficiente de conjugação verbal e regência para ser qualificado como um falante nativo do português.

Essa minúscula autoestima dos brasileiros diante da própria língua vem de longe. Está enredada em um discurso de que existe apenas um modo certo de falar e de escrever, de que a língua é homogênea, estática e apenas meia dúzia de iluminados a domina. Mas não é assim.

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Toda língua é um conjunto de variedades – e o fato de não dominarmos certos registros não é prova de que não conhecemos o português. Se uma variedade que não dominamos se colocar como conditio para nossa vida, é necessário dominá-la. As variedades cultas, como sempre gosto de frisar, são de extrema importância.

Cada situação seleciona um registro, uma variedade. Essa é a prova dos nove para os falantes.