O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse hoje que a antecipação de pagamentos do Bolsa Família por parte da Caixa Econômica Federal não deve ser a causa para os boatos que levaram multidões aos caixas eletrônicos, causando tumultos.
Na ocasião, todos os benefícios, em um total de R$ 2 bilhões, foram liberados de uma só vez nas contas das 13,8 milhões famílias atendidas. Os pagamentos são habitualmente feitos com base em um calendário, que prevê o pagamento um dia determinado por mês de forma escalonada.
Os boatos, entre eles sobre o fim do programa, levou milhares de pessoas a caixas eletrônicos no fim de semana dos dias 18 e 19 de maio, causando confusões e imensas filas em 13 Estados.
O ministro disse que a Polícia Federal continua a investigação sobre uma ação orquestrada no caso. Segundo ele, o sistema da Caixa é nacional e "chama a atenção" como o boato só ocorreu em algumas regiões do país e com "velocidade que favorece a necessidade de investigarmos que se foi orquestrada".
"Na minha opinião pessoal, parece difícil associar essas duas situações como causa e efeito [antecipação de pagamento e boatos]. Você tem a divulgação do boato numa velocidade impressionante em alguns Estados. Se o sistema é nacional, porque aconteceu apenas em algumas regiões?", questionou.
Por mais de uma vez durante a coletiva de imprensa, Cardozo ressaltou que nenhuma linha de investigação é descartada. O ministro, contudo, não deu mais detalhes sobre as investigações.
Ele disse apenas que a Polícia Federal investiga se o boato foi espalhado por telefone. Segundo o ministro, essa linha de apuração foi aberta após ser informado por um jornalista sobre o depoimento de uma beneficiária do Bolsa Família que afirmou ter recebido um telefonema com o boato.
Pouco antes, também em entrevista coletiva a jornalistas, o presidente da Caixa, Jorge Hereda, admitiu que a instituição se equivocou ao informar que a liberação dos pagamentos a todos os beneficiários havia ocorrido apenas no sábado, como forma de aplacar a corrida pelos benefícios.
Para a oposição, essa liberação antecipada é a provável causa dos tumultos. O PSDB, inclusive, pediu nesta segunda-feira ao Ministério Público que investigue a mudança na liberação de recursos do programa.
DEM pede convocação de ministros para falarem do caso Bolsa Família
Em mais uma ofensiva da oposição, o DEM pediu hoje a convocação dos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social) para explicarem na Câmara dos Deputados a antecipação do pagamento do Bolsa Família.
O partido apresentou dois requerimentos nas Comissões de Fiscalização e Controle e Finanças e Tributação da Casa.
Se as convocações forem aprovadas, os ministros serão obrigados a comparecer ao Congresso para explicar o episódio do boato que levou milhares de pessoas a agências da Caixa Econômica Federal para sacarem o dinheiro do benefício.
O DEM também apresentou pedido para o presidente da Caixa, Jorge Hereda, ser convidado a falar sobre o caso.
"Diante de tal desencontro de informações e, mais ainda, diante das falsas declarações apresentadas pela diretoria da Caixa Econômica Federal sobre a liberação dos benefícios do programa Bolsa Família e as razões que levaram à alteração do calendário de pagamentos do programa, julgamos fundamental a presença dos ministros da Fazenda e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome nesta Casa, para esclarecerem o tema", disse o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO).
PSDB
Os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Álvaro Dias (PSDB-PR) também encaminharam pedido ao Ministério Público para investigar se dirigentes da instituição cometeram crimes de improbidade administrativa e falsidade ideológica no episódio.
Segundo a oposição, está claro que "membros da alta administração do banco" podem ter contribuído para os boatos.Em defesa da Caixa, o senador Wellington Dias (PI), líder do PT no Senado, diz que o boato foi propagado por uma central de telemarketing, com sede no Rio de Janeiro, sem qualquer participação do banco. Sobre a antecipação do pagamento do benefício, Dias disse que isso é algo "normal" nas instituições financeiras.
Por se tratar de um convite, o presidente da Caixa não é obrigado a comparecer no Congresso. Os requerimentos também precisam ser aprovados pelas comissões para que Hereda fale aos deputados e senadores.
"Houve uma mentira flagrante do pessoal da Caixa. A antecipação do pagamento do benefício é que provocou o tumulto", disse Aloysio.
O banco público é responsável pela distribuição do benefício. No último dia 18, boatos sobre o fim do programa provocaram corrida às agências da Caixa em 13 Estados.