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Com o bloqueio do protesto dos moradores, um ônibus da linha Fazendinha Tamandaré cruzou a vila para poder cumprir a viagem | Lineu Filho / Agência de Notícias Gazeta do Povo
Com o bloqueio do protesto dos moradores, um ônibus da linha Fazendinha Tamandaré cruzou a vila para poder cumprir a viagem| Foto: Lineu Filho / Agência de Notícias Gazeta do Povo
  • Moradores fizeram um protesto porque alegam que os Bombeiros levaram muito tempo para chegar ao local

Em meio a uma quase penumbra e a fumaça de pneus queimados em um protesto, a comunidade da Portelinha, no bairro Santa Quitéria, vivia momentos de tristeza na noite desta quarta-feira (12). Em uma casinha no fim da descida de uma ruela sem nome, na sede do clube de mães do local, era velado o corpo do menino Eduardo Dominique Oliveira, de 8 anos, que morreu após um incêndio na casa onde vivia. Um retrato de São Luiz Orione, em uma pose clemente, completava a cena de luto, que tinha ainda cerca de 20 pessoas em lágrimas rodeando o caixão. Mas além de tristeza, o clima também era de revolta.

Odilon Marques, um dos moradores que ajudou no resgate do menino, reuniu vizinhos e conhecidos em uma manifestação perto do clube de mães durante a noite, enquanto ocorria o velório. Por volta das 22 horas, três barreiras com pneus, galhos e pedaços de madeira incendiados foram feitas na Rua Rezala Simão, no entroncamento com a Rua Edson D´avila Ator e Diretor. A barreira fez táxis, carros de moradores da região e até um ônibus ligeirinho da linha Fazendinha Tamandaré, passar pelo meio da vila.

Em um ambiente com movimento de carros e o burburinho provocado por cerca de 20 manifestantes no local próximo ao velório, Odilon lamentava em um discurso que tinha também tom de revolta. "Assim que a casa pegou fogo, eu chamei os Bombeiros. Primeiro liguei para o 190, porque na hora do desespero a gente não pensa. Depois me passaram o telefone certo liguei para o número dos Bombeiros e eles demoraram mais de 1h30 para chegar aqui. Quando chegaram, a criança nem estava mais aqui, já tinha sido levada ao hospital." Odilon reclamava muito ainda do fato que após os Bombeiros chegarem, os agentes estacionaram o caminhão na rua e foram a pé verificar a situação do incêndio, antes de encostar o caminhão próximo à casa queimada.

A vila tem apenas uma torneira, segundo os moradores, e com pouca pressão. Por causa disso, a prioridade dos moradores, assim que o fogo começou, foi saber se as três crianças que estavam em casa sozinhas tinham saído do local. Duas delas fugiram depois que as chamas começaram, mas a mais velha, de oito anos, correu para um pequeno banheiro de alvenaria e ficou em um canto do local. Os moradores, com pedaços de tábua, quebraram a parede desse banheiro e conseguiram retirar Eduardo. Ele estava com muitas queimaduras e saiu de lá falando algumas palavras enquanto os próprios moradores levaram ele ao Hospital do Trabalhador.

"Nossa prioridade era tirar as crianças, estava muito quente e usei um capacete de moto para ajudar na proteção contra o calor", conta José Bartolomeu Periardi, um dos moradores que ajudou no resgate. Thiago de Almeida também estava quebrando a parede e ajudou a tirar a criança do local do incêndio. Ambos contam que fizeram uma fila e conforme baldes iam sendo preenchidos com água, em uma das únicas torneiras comunitárias da vila, eram passados de mão em mão até a casa, que fica bem no meio da vila. O local da casa incendiada fica bem próximo a um muro, onde ainda era possível, nesta noite, ver restos de uma geladeira, de bicicletas e carvão do que sobrou da casa.

Cleia Margarida Salvador, moradora de uma residência ao lado da casa incendiada, estava no velório de Eduardo. Sobre a "claridade" de uma lâmpada ligada a uma rede elétrica improvisada, que oscilava a cada segundo e quase apagava, antes de voltar e de novo diminuir, ela fez um apelo para que o poder público leve água e luz ao local. Durante a conversa, algumas crianças que estavam em uma varanda e brincavam com lápis de cor, saíram correndo. Nas mesas ficaram mensagens de homenagem a Eduardo, com frases como "futebol sem bola, sou eu assim sem você, por que tem que ser assim" e desenhos ainda por pintar. Na parede, perto da imagem de São Luiz Orione, um dos cartazes prontos, feitos pela criança, dizia: "Eduardo, vc é 10, vc é 1000, vc é o melhor do Brasil."

Bombeiros

A reportagem tentou contato com o Corpo de Bombeiros no início da noite desta quinta, mas não foi possível localizar o responsável por passar informações sobre o caso. Nesta quinta-feira, a reportagem entrou em contato com o setor de Relações Públicas da corporação, que indicou um responsável para falar sobre o caso, mas até às 10h40 não foi possível estabelecer contato.

Sepultamento

O sepultamento do corpo de Eduardo Dominique Oliveira, que estava marcado para as 9h30, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais, foi alterado pra as 13h30 desta quinta-feira (13) no mesmo local.

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