Mariópolis - "Parece que eu escuto a voz dele e que ele já vai voltar", conta a auxiliar de produção Rosana Terezinha de Andrade, 35 anos. No próximo sábado fará um mês que o caçula da família, Thainan Andrade da Silva, que festejaria cinco anos no dia 30, se foi. O garoto desapareceu quando brincava em casa com os irmãos. Seu corpo foi achado um dia depois, escondido sob pedras num riacho em Mariópolis. Um primo de 13 anos confessou que brincava com Thainan quando ele escorregou e caiu na água. Com medo de apanhar dos pais, o adolescente disse ter tentado esconder o corpo e omitir a morte.
O laudo do Instituto de Criminalística, no entanto, apontou indícios de agressão no corpo de Thainan: ferimentos nas costas e na cabeça. O riacho tinha no máximo um metro de profundidade, 10 centímetros a menos que a altura da vítima. Thainan segurava uma bala de hortelã. "Se ele tivesse se afogado, iria se debater, não ficaria com a mão fechada", diz a mãe.
Foi justamente a bala que ajudou o delegado Pedro Machado, de Clevelândia, na investigação. A hipótese inicial era a de que Thainan tivesse sido vítima de um maníaco, mas depois se descobriu que ele havia passado em uma mercearia e comprado a bala com o primo. O delegado concluiu o inquérito isentando o adolescente da responsabilidade pela morte, indiciando-o por ocultação de cadáver. As marcas de agressão teriam sido causadas pela queda, mas os pais de Thainan discordam. "Tem de haver justiça, meu filho foi morto", afirma Claudenir Alves da Silva, pai de Thainan. O Ministério Público deve receber ainda hoje o inquérito.
"Vontade de matar"
Rosana não sabe se vai voltar a trabalhar. Ela toma calmantes e tem sessões com um psicólogo da prefeitura. O pai, Claudenir, já voltou a trabalhar como pedreiro. O casal e cinco filhos moram numa pequena casa de madeira no bairro Rosa, em Mariópolis. Rosana não consegue entender o que aconteceu. "Quem conhecia esse piá (o adolescente acusado pela morte de Thainan) sabe. Ele sempre falava que queria ser bandido quando crescesse. Dizia que queria matar alguém para saber como era. A gente aconselhava ele para não falar essas coisas", diz.
Dois dias depois da morte de Thainan, a família do adolescente se mudou para Pato Branco, a 20 quilômetros de Mariópolis, onde ele mora com os pais, a irmã de 10 anos e o irmão de 2. Eles diziam estar sendo ameaçados. Eliane da Silva, mãe do adolescente, diz acreditar no filho e afirma que ele também vem sofrendo pela morte do primo de "que mais gostava".
A cidade tem 5.944 habitantes e é considerada calma. Ivan Berton Soldatelli, diretor do colégio estadual onde o adolescente estudava, na 6.ª série, afirma que o envolvimento do jovem no caso é uma surpresa porque ele não apresentava comportamento violento.
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