Oito pessoas foram denunciadas criminalmente à Justiça pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por mortes de pacientes ocorridas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba. Seis deles são funcionários do hospital e foram denunciados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e sem chances de defesa às vítimas) e formação de quadrilha. Segundo o MP-PR, os acusados abreviaram a vida dos pacientes com o objetivo de "girar a UTI", ou seja, de abrir novas vagas no centro médico.
A denúncia atribui ao grupo sete mortes, ocorridas entre 2006 e janeiro deste ano. O MP-PR afirma que os profissionais da saúde acusados agiam como se tivessem o poder de decretar a morte das vítimas, além de escolherem quais pacientes teriam o direito a permanecer vivos no centro médico.
Primeira a ser presa nas investigações, a médica Virgínia Helena Soares de Souza é acusada de coautoria em todas as sete mortes. Os outros médicos denunciados são Maria Israela Cortez Boccato, Edison Anselmo da Silva Júnior e Anderson de Freitas. Também são acusadas as enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff. De acordo com o MP-PR, cada qual a seu tempo, participou em pelo menos uma das mortes ocorridas na UTI do Evangélico.
Outras duas pessoas foram denunciadas apenas pelo crime de quadrilha: a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes. O processo será distribuído a uma das varas do Tribunal do Júri que avalia se aceita ou não a denúncia criminal.
Inquérito da Polícia Civil
O inquérito da Polícia Civil sobre as mortes ocorridas na UTI do Hospital Evangélico entre 2011 e 2012 concluiu que houve formação de quadrilha e homicídio qualificado, crimes que teriam sido cometidos por seis pessoas além das cinco que ainda estão presas, outra médica foi indiciada.
"Isto é método nazista", diz advogado de Virgínia
O advogado Elias Mattas Assad, que defende a médica Virgínia, voltou a criticar as investigações e o inquérito policial, que terminaram com oito funcionários do Evangélico denunciados à Justiça. Para o defensor, a Polícia Civil e o MP-PR não conseguiram provar que os crimes imputados aos acusados realmente ocorreram. Ele afirma que as investigações começaram embasadas por um denunciante anônimo "que tinha ódio do hospital e de Virgínia", criando "falsas premissas".
"Não serão os médicos que sentarão ao banco dos réus; será a própria medicina e a medicina intensiva", disse.
Ainda segundo Assad, ao denunciar os profissionais da saúde, sem provas, as autoridades inverteram a premissa segundo a qual todos são inocentes até que se prove o contrário. Ele afirma que foram cometidas uma série de arbitrariedades na condução do inquérito e comparou as investigações com as apurações de regimes totalitários.
"As testemunhas da defesa foram convocadas como cúmplices. Isso é método nazista. Não se acusa alguém assim. Colocamos médicos na cadeia e estamos blasfemando contra a medicina", bradou o advogado.
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