Os crescentes casos de dengue e da febre chikungunya, além da relação entre o zika vírus e a microcefalia em recém-nascidos, têm deixado muitos pais apreensivos com o Aedes aegypti. Em meio à guerra contra o mosquito transmissor destas doenças, uma importante peça de defesa tem ganhando espaço no enxoval dos bebês. Trata-se de uma linha de roupas feitas com citronela, uma planta aromática que tem efeitos de repelente.
Sociedade orienta sobre o uso de repelentes nas crianças
A peça vem sendo produzida desde julho do ano passado pela empresa GBaby, de Londrina. De acordo com a coordenadora de marketing do grupo, Karen Nishi, a ideia da linha Baby Protect vinha sendo trabalhada há mais de dois anos. “É um nicho de mercado que entendemos como muito importante. Até os seis meses, os bebês não podem usar repelentes. Então, criamos uma roupa que pode proteger eles dos insetos, inclusive, do Aedes aegypti.”
Cresce a procura pelo repelente natural
O surto de zika vírus também fez aumentar a procura por outros itens feitos com citronela, como pomadas e loções. Nas últimas semanas, as vendas do produto na farmácia de manipulação Phloraceae, em Londrina, por exemplo, mais do que dobraram. “O produto acabou e quando foi reposto, o lote já estava praticamente esgotado”, explicou Lucimara Bertoli, que é diretora técnica da empresa.
A farmacêutica informa que não faz a indicação do item no balcão, mas que a citronela tem sido receitada por muitos pediatras. “Hoje não se encontra um repelente que seja seguro para as crianças de seis meses a dois anos. Então, os médicos têm indicado a citronela com um preventivo contra o Aedes aegypti.”
Apesar da origem natural, Lucimara não recomenda a citronela para crianças abaixo dos dois anos. “Não existem estudos sobre a segurança dos produtos nesta idade. Então, o ideal é procurar um pediatra para que ele oriente”, ressaltou.
Já para as crianças acima dos dois anos, a farmacêutica acredita que a citronela pode ser bastante efetiva quanto está associada com outro repelente. “É muito difícil dosar a durabilidade da citronela. Isso porque tem uma variação com relação a colheita, aos lugares onde ela foi plantada.”
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O projeto foi desenvolvido em parceria com uma empresa de Santa Catarina, que faz a produção das microcápsulas com óleo essencial de citronela. O nome desta indústria é mantido em sigilo e, pelo acordo, esse material é feito exclusivamente para a GBaby. As microcápsulas - que são 80 vezes menores do que um fio de cabelo - são inseridas nas fibras dos tecidos por meio de um fixador. Depois deste processo, o tecido é levado para Londrina, onde é feito o trabalho de corte, costura e despacho.
Atualmente, são produzidas cerca de 20 mil peças desta linha por mês, como bodies, camisetas, macacões, tocas, luvas, sapatinhos e mantas. “É uma linha voltada para o dia a dia do bebê”, explica Karen. A indústria abastece 2.500 pontos de venda em todos os estados do Brasil , entre estabelecimentos multimarcas e as 16 lojas do grupo. No Paraná, a empresa conta com unidades em Londrina, Maringá e Ponta Grossa.
De acordo com a coordenadora de marketing, a procura pelos produtos desta linha cresceu muito desde o fim do ano passado. A principal demanda está na região Nordeste do país, que teve um aumento de 30% nos pedidos.
“Por conta do surto de zika vírus, a procura tem sido muito maior do que imaginávamos. Então, estamos estudando ampliar essa linha pra atender crianças maiores, além de produzir outras peças”, afirmou Karen. Entre os projetos analisados está o uso da nanotecnologia na confecção de roupas para gestantes.
Eficácia
De acordo com a Gbaby, a fragrância da citronela é liberada pela ruptura das microcápsulas que contém o óleo do repelente natural. O fabricante garante que a substância não altera as características do tecido, mantendo a eficácia do repelente entre 20 e 30 lavagens. A marca londrinense também informou que a durabilidade do produto foi atestada por laudos feitos por uma outra empresa.
“Existem muitas variáveis [com relação à durabilidade], como a temperatura da água, os produtos utilizados na lavagem das roupas. Mas como os bebês se desenvolvem muito rapidamente, a criança costuma perder a peça antes mesmo que a capacidade de proteção termine”, explicou Karen.
Por não ser um medicamento ou um cosmético, ela explicou que a linha de roupas com citronela não precisa de certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mesmo assim, ela garante que os conjuntos não geram problemas aos bebês porque a citronela está impregnada nas fibras do tecido. “A nanotecnologia tem essa capacidade de potencializarão do componente. As cápsulas são muito pequenas, mas extraem o princípio ativo da melhor maneira possível”, ressaltou.
Para o pediatra e homeopata Maurílio de Oliveira, não há como falar sobre a eficácia da roupa porque ele não tem informações técnicas sobre o produto. Contudo, ele reconhece a eficiência da citronela como repelente natural, embora ela tenha uma durabilidade menor se comparada a outros produtos. “Ela é mais volátil, ajuda a repelir, mas o tempo de ação é menor do que de outros repelentes. Então, teoricamente, teríamos que usar mais vezes”, explicou.
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Leia a matéria completaA farmacêutica Lucimara Bertoli lembrou que o uso da nanotecnologia com filtros solares já tem efetividade comprovada. Por isso, ela acredita que existe a possibilidade de eficiência nas roupas feitas com citronela. “Nós exalamos dióxido de carbono, que é o que atrai alguns insetos. A citronela mascara esse cheiro e engana o mosquito.”
Sociedade orienta sobre o uso de repelentes nas crianças
No mês passado, o Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou um documento com recomendações de como proteger as crianças do mosquito Aedes aegypti e das doenças que ele transmite. O texto também traz orientações sobre o uso de repelentes. Veja algumas informações:
Abaixo de 6 meses
Não é recomendado o uso de repelentes porque não há estudos nessa faixa etária sobre a segurança dos produtos.
Acima dos 6 meses
É recomendado o IR3535, que protege por cerca de 4 horas. É usado na Europa há vários anos e, em concentrações de 20% é eficaz, mas os estudos diferem quanto ao período de ação contra o Aedes aegypti, que parece ser muito curto.
Acima de 2 anos
Os que contém DEET são os mais utilizados. Quanto maior a concentração da substância, mais longa é a duração do seu efeito. Uma formulação com cerca de 7% de DEET, por exemplo, confere proteção por aproximadamente duas horas. A concentração máxima para uso em crianças varia de país para pais.No Brasil, a maioria dos repelentes disponíveis possuem menos de 10% de DEET.
Outra opção são os repelentes com Icaridina, que confere proteção por 3 a 5 horas (em concentrações de 10%) e de 8 a 10 horas (em 20%). Deriva da pimenta e permite aplicações mais espaçadas que o DEET, com eficácia comparável. Parece ser mais potente contra o Aedes Aegypti do que o DEET.
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), os óleos naturais parecem ter eficácia razoável. Porém, por serem altamente voláteis, protegem por pouco tempo. O mais efetivo como repelente neste grupo é o óleo de capim-limão, que em concentração de 30% é comparável ao DEET a 20%. Já o óleo de citronela fornece proteção curta por evaporar muito rápido.
Orientação quanto à aplicação dos repelentes
- Nunca aplicar na mão da criança para que ela mesma espalhe no corpo. Elas podem esfregar os olhos ou mesmo colocar a mão na boca
- Aplicar a quantidade e intervalo recomendados pelo fabricante
- Não aplicar próximo da boca, nariz, olhos ou sobre machucados na pele e seguir as orientações do fabricante, guardando a bula
- Assim que não for mais necessário, o repelente deve ser retirado com um banho com água e sabonete
- Não permitir que a criança durma com o repelente aplicado. Apesar de seguro, o repelente é uma substância química e pode causar reações alérgicas ou intoxicações na criança quando utilizado em excesso.
- Em locais muito quentes (temperaturas maiores que 30 graus) ou em crianças que suam muito, os fabricantes recomendam reaplicações mais frequentes.
- Repelentes com hidratantes ou protetores solares devem ser evitados. Os repelentes reagem com os protetores solares e acabam por reduzir o efeito do protetor quando aplicados juntos. Pode-se aplicar o protetor solar e após 20 a 40 minutos realizar a aplicação do repelente escolhido.
- A apresentação em loção cremosa é mais segura do que a apresentação em spray e deve ser preferida nas crianças.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
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