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| Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A falta de testes e comprovação científica da chamada “pílula do câncer” deve acender um sinal de alerta para os pacientes que buscam tratamento com a fosfoetanolamina, mesmo que haja urgência no tratamento da doença. De acordo com os especialistas procurados pela Gazeta do Povo, ainda não há evidências científicas comprovadas de que a substância combata o câncer.

Desenvolvida pelo professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, Gilberto Chierice, a fosfoetanolamina teria sido eficaz na cura de pacientes com a doença. A utilização da “pílula do câncer”, como é conhecida, foi aprovada na terça-feira (22) em votação simbólica no Senado. O projeto de lei autorizou a venda e o uso da substância, mesmo com os primeiros testes realizados tendo indicado que o composto não apresentou potencial para destruir células cancerígenas.

De acordo com o diretor do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP), Johnny Camargo, não há base científica suficiente para esse tipo liberação e decisões políticas não devem ser o caminho para a liberação da substância. “Levantou-se um viés extremamente perigoso e inadequado, já que não há comprovação científica de que a substância funciona de forma eficaz”, afirmou. Para o oncologista, a pesquisa ainda está no início e não há formas de determinar como a substância atuaria no organismo. “A principal defesa apontada para o uso da fosfoetanolamina é de que alguns pacientes apresentaram melhora com a sua utilização, mas esta é uma defesa empírica já que a pesquisa ainda está em fase inicial. É preciso que os testes sejam feitos de forma adequada e respeitando o tempo”, explicou.

Substância não pode ser considerada um medicamento

O médico oncologista do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Lucas Dan Yuasa, explicou que a “pílula do câncer” não pode nem ser considerada um medicamento, já que nem mesmo as primeiras pesquisas foram eficazes na hora de demostrar a atuação da substância no combate às células com câncer. Além disso, nenhuma das entidades que representam o setor científico e da medicina recomendam a utilização da substância para tratamento. A Agência Nacional de Viligância Sanitária (Anvisa), que atua da regulação sanitária e da reputação da indústria farmacêutica no país, o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Institucional Nacional do Câncer (INCA) e até a Organização Mundial da Saúde (OMS) já se posicionaram contrários à utilização da substância para o tratamento do câncer sem que o protocolo de pesquisa seja concluído de forma satisfatória.

No primeiro teste, a fosfoetanolamina não demostrou potencial para destruir as células ou evitar que elas se proliferem. “Não estamos dizendo que ela não funciona e nem que é inútil, mas – nas dosagens em que foi testada – a premissa de que a substância funciona desta ou daquela forma não foi comprovada”, explicou. De acordo com o oncologista, pode-se fazer uma mudança na dosagem da substância e das células a fim de se comprovar ou não sua eficácia. Mas tudo isso faz parte da pesquisa científica que deve seguir acontecendo. “Temos muito caminho pela frente”, disse.

Tratamento experimental

Os médicos afirmam entender a urgência com que os pacientes com câncer buscam tratamentos alternativos, mas alertam que a esperança de uma nova substância não deve fazer com que eles interrompam o tratamento já em curso. Como não há nenhum tipo de comprovação, a fosfoetanolamina pode ser prejudicial ao paciente. “Já não é fácil tratar o câncer com medicamentos com eficácia comprovada. Precisamos nos ater ao que está comprovado para não impor outros prejuízos físicos”, disse Lucas Dan Yuasa. O médico afirmou que a aprovação da substância pelo Senado deve ser entendida como uma liberação para a utilização da “pílula do câncer” para a pesquisa, assim como foi liberada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde (Conep/CNS).

Se o paciente sentir a necessidade de buscar o tratamento com a fosfoetanolamina, o médico recomenda que se busque os grupos de pesquisa para que faça o tratamento de forma voluntária, entendendo os riscos dessa utilização. “Se o paciente assim quiser, a recomendação é que participe do estudo de forma coerente e responsável, entendendo as implicações da sua escolha e não a utilização de forma indiscriminada”, afirmou.

De acordo com Johnny Camargo, do IOP, o paciente deve confiar no seu médico e entender que o câncer é uma doença complexa, sem soluções simples. “Não existe um tratamento único e não se deve colocar as esperanças em um remédio milagroso que cure todos os tipos de câncer. É preciso ter cautela”.

O Hospital Erasto Gaertner, referência no combate ao câncer no Paraná, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se posicionaria sobre a polêmica por não existir informações suficientes sobre o tema.

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