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terceira idade

Negligência é a principal violência cometida contra idosos em Curitiba

Assistente social Mônica Freitas com idosa do Asilo São Vicente de Paulo: entidade faz trabalho constate para idosos não perderem contato com a família. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Assistente social Mônica Freitas com idosa do Asilo São Vicente de Paulo: entidade faz trabalho constate para idosos não perderem contato com a família. (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

Restabelecer o vínculo das idosas do Asilo São Vicente de Paulo com suas famílias não tem sido tarefa fácil para as assistentes sociais da instituição. Das 160 senhoras que vivem na casa-lar, 33 sequer são visitadas pelos parentes. Situação que se enquadra na condição de negligência, a principal violência registrada contra idosos em Curitiba e que, segundo o Estatuto do Idoso, é crime.

Levantamento da Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura aponta que das 367 notificações contra pessoas de idade em 2015, 82% são de negligência. “A maioria das idosas já chega em situação de abandono. Já tivemos caso de filho que simplesmente abandonou a mãe no portão do asilo sem nem nos comunicar e sumiu, nunca mais apareceu”, afirma o padre José Aparecido Pinto, diretor do São Vicente de Paulo.

O abandono é só uma das situações que se configuram como negligência. Descuido com a alimentação, com os medicamentos e outros casos de desatenção ao bem-estar do idoso também entram na notificação campeã de reclamações na FAS. A segunda violência mais registrada é a psicológica, com 20,9% dos casos. Na sequência vêm a violência física (26,7%), a patrimonial (6,7%) e a sexual (1,3%).

Mas o que chama a atenção é que, independente do tipo de agressão, a grande maioria, 82% das notificações, foi cometida pela própria família. Em especial os filhos, responsáveis por 48,3% dos casos registrados pela FAS.

Prevenção

A assistente social Marcia Nagata, coordenadora de Atenção à Pessoa com Deficiência e Idosos da FAS, afirma que há maneiras de a família prevenir a violência contra o idoso. O primeiro passo é que todos tenham consciência de que o cuidado com a pessoa de idade deve ser de todos e não de uma pessoa apenas. “A família tem que unir esforços. Se o cuidado for rotativo, se todos derem sua parcela de atenção, não pesa para ninguém”, reforça a servidora pública.

A também assistente social Mônica Freitas, do São Vicente de Paulo, ressalta a importância do diálogo na família a respeito da atenção ao idoso. Inclusive para superar mágoas. Como exemplo, ela cita o caso de uma senhora que ficou três anos sem contato com a filha. O trabalho da equipe multidisciplinar da instituição conseguiu reativar o vínculo entre mãe e filha, que desde o ano passado vai constantemente ao asilo. Ambas chegaram até a viajar juntas para passear no Rio de Janeiro. “Nesse caso foi fundamental o apoio da família da filha, inclusive do marido dela”, ilustra.

Outra forma de evitar atritos é buscar atividades que não deixem o idoso sozinho em casa. Os Centros Dia, unidades para onde a família encaminha o idoso para passar o dia, é uma delas. No São Vicente de Paulo, por exemplo, o familiar deixa o idoso no asilo às 7h30 e o busca às 17h30. Nesse período, há uma série de atividades, como oficinas, mas o idoso também tem possibilidade de fazer algo da sua rotina caseira, como ler ou fazer tricô.

“Essa é uma das melhores formas de se evitar o atrito, porque o idoso continua no seio da família, mas no período de atividade profissional dos familiares está em um lugar seguro e bem-atendido”, reforça a psicóloga Claudia Carneiro, coordenadora do Centro Dia do São Vicente de Paulo e membro do conselhos do Idoso municipal, estadual e nacional.

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O problema é que o poder público não atende à demanda deste tipo de atendimento. Atualmente, o município oferece apenas 20 vagas públicas em Centros Dia no Lar Recanto Tarumã – há a opção do serviço particular. A previsão é de que até o ano que vem o número de vagas aumente para 60, com a assinatura de outros dois convênios. Ainda assim, é muito pouco para atender uma população estimada de aproximadamente 200 mil idosos na cidade, segundo o último censo do IBGE, de 2010. “Nessa eleição, por exemplo, eu não vi até agora um candidato que tenha apresentado proposta para a pessoa idosa”, resigna-se o padre José Aparecido.

Denúncias

A procuradora de Justiça Rosana Beraldi Bevervanço, coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos dos Idosos do Ministério Público do Paraná (MP-PR), enfatiza que qualquer pessoa que presencie maus-tratos a uma pessoa de idade deve denunciar ao poder público. “Muitas pessoas ainda têm aquela mentalidade de que não devem se meter no problema familiar dos outros. Mas o Estatuto do Idoso é bem claro: é função de todos prevenir a violência contra o idoso”, ressalta.

A procuradora lembra que há formas de se fazer denúncia de maneira anônima. E quanto antes isso ocorrer, maior a chance de o problema ser resolvido ainda na esfera familiar, sem precisar recorrer à Justiça. “O que não pode acontecer é como um caso em que atendemos em que a idosa era tão maltratada pela família que quando a socorremos ela estava desnutrida a tal ponto que não suportou e morreu”, exemplifica a procuradora.

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