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Indumentária nazista foi apreendida com  o grupo que, segundo a polícia  gaúcha, teria relações com nazistas paranaenses | Ascom/PC
Indumentária nazista foi apreendida com o grupo que, segundo a polícia gaúcha, teria relações com nazistas paranaenses| Foto: Ascom/PC

Comunidade exige "ação firme"

A comunidade israelita do Paraná encara com preocupação as notícias sobre grupos neonazistas no estado. "Nossa preocupação está sempre presente. Não sabemos até onde esse pessoal é organizado", afirma Léo Krieger, vice-presidente da Federação Israelita do Paraná. "Isso é o recrudescimento de um fanatismo, de uma ideia mórbida." Krieger afirma que as sinagogas têm sistemas de segurança. "O problema é que contra o terror não existe segurança. Entregamos nas mãos das autoridades, que haja uma ação firme."

Na análise do historiador Antônio Carlos Coelho, especialista na história de Israel, historicamente o judeu é visto como alguém que ameaça a ordem e o modo de vida ocidental. "Isso é uma coisa que o judeu não consegue explicar. Durante cerca de 1,6 mil anos, desde o século 4, quando judeus foram acusados do deicídio (morte de Deus), criou-se no Ocidente uma diferença entre judeus, que teriam sido os responsáveis pela morte de Cristo, e os cristãos", comenta. (JML)

A apreensão de material de propaganda nazista, armas e explosivos em cinco cidades do Rio Grande do Sul, na última segunda-feira, mostrou que os objetivos dos neonazistas brasileiros estão muito além de comemorar o aniversário do ditador alemão Adolf Hitler (1889-1945), como ocorreu na festa realizada no dia 20 de abril que resultou no assassinato de um casal de estudantes universitários na região metropolitana de Curitiba. Segundo o delegado Paulo César Jardim, titular do 1° DP de Porto Alegre, o grupo é altamente organizado em pelo menos quatro estados – São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – e entre seus planos está atacar sinagogas com artefatos explosivos.

O grupo neonazista que vem sendo investigado no Rio Grande do Sul é o Neuland ("nova terra", em alemão), o mesmo a que pertencem os acusados de matar o casal de estudantes Bernardo Dayrell Pedroso, de 24 anos, e Renata Waechter Ferreira, de 21, na noite de 20 de abril, em Campina Grande do Sul. Os integrantes do Neuland pregam a criação de um novo país, sem a influência de judeus, negros e homossexuais. A Polícia Civil do Paraná prendeu seis pessoas acusadas do crime, entre elas o economista Ricardo Barollo, 34 anos, que mora em São Paulo. Ele teria sido o mandante dos assassinatos, que teriam sido motivados por uma disputa interna dentro do grupo. Um dos acusados de atirar nos estudantes, Jairo Maciel Fischer, de 21 anos, é morador da cidade de Teutônia, e vinha sendo investigado pela polícia gaúcha.

Mortes em massa

O delegado Paulo César Jardim disse ontem que 25 pessoas acusadas de ligação com o grupo neonazista foram presas desde 2001 no Rio Grande do Sul. Segundo ele, os acusados são claros em seus depoimentos: têm a intenção de matar judeus e cometer atentados terroristas em sinagogas nos quatro estados em que atuam. "A frase mais comum deles por aqui é: ‘como temos que matar os judeus, não vamos matar um por um. É mais fácil matar todos juntos’", afirmou Jardim. Na segunda-feira, a polícia gaúcha apreendeu três bombas de fabricação caseira. "São bombas que têm pregos e parafusos como estilhaços. Não acredito que tenham um poder de destruição grande, mas, dentro de uma sala fechada, os estilhaços podem ser mortais."

Além dos explosivos, os policiais apreenderam livros, camisetas, facas, botas, CDs e DVDs de temática nazista, além de emblema do movimento de extrema direita. As apreensões foram feitas nas cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Alvorada e Cachoeirinha. Ninguém foi preso e quatro pessoas estão sendo procuradas. "Desta vez, o que queríamos era desbaratar as células", afirma Paulo César Jardim. "Já prendi vários nazistas, não estamos lidando com bandidos comuns. São pessoas que têm uma ideologia e que se sentem presos políticos. Eles tentam me convencer de que eu estou errado, que a sociedade está errada." Segundo Jardim, os integrantes do movimento têm entre 16 e 30 anos e maioria pertence à classe média. "Mas também tem os obreiros, os skinheads", afirma o delegado. O grupo possuiria cerca de 50 membros no Rio Grande do Sul e aproximadamente 40 armas de fogo, além de ligações com neonazistas argentinos.

A reportagem tentou ontem contato com Antônio Caricati, delegado do Cope (Centro de Operações Policiais Especiais) responsável pela investigação da morte de Dayrell e Renata, mas foi informada que ele estaria fora de Curitiba. O delegado não atendeu o telefone celular. Por meio de sua assessoria, a Secretaria de Estado da Segurança Pública afirmou que a investigação do grupo neonazista continua e que não há nenhuma informação de que sinagogas seriam atacadas.

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