No mundo das drogas pessoas de diferentes idades têm um histórico parecido: começam com a maconha e o álcool, experimentam cocaína e, mais tarde, o crack. É como se fosse a sentença final de uma vida nas drogas, o ponto do limite da dignidade e da quebra de relações com a família e com a vida social. É o que a Gazeta do Povo mostrou ao longo desta semana com a série de reportagens sobre a droga.
Quanto tempo dá para viver assim? Essa é uma das grandes perguntas em relação ao crack no Brasil hoje. A dependência chega rápido. Segundo o médico psiquiatra José Leão de Carvalho Júnior, é na segunda vez de uso que ela se apresenta e leva a uma sobrevida média de quatro anos. "Se o paciente não morrer pela violência, normalmente morrerá por causas cardiológicas", avisa.
Em 2005, uma pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) estimou que a população usuária de crack no país seria de 600 mil pessoas, mas a mortalidade entre esses usuários é desconhecida. O único estudo disponível sobre o assunto é o dos pesquisadores Marcelo Ribeiro de Araújo e Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou 131 dependentes de crack em tratamento entre a década de 1990 e 2005.
Em 12 anos, 27 deles (20,6%) tinham morrido, principalmente por homicídio (16 pacientes). Uma taxa alta de mortalidade, mas muito mais motivada pela violência e a frágil situação socioeconômica dos usuários do que pelos efeitos da droga em si.
Violência
Na falta de estudos mais aprofundados e atuais, alguns números dão a ideia de quantas vidas são interrompidas por causa do crack. A delegada de Homicídios de Curitiba Vanessa Alice afirma que 90% dos crimes cometidos na capital e região metropolitana estão ligados direta ou indiretamente ao tráfico de entorpecentes, à briga por pontos e à cobrança de dívidas. Nesse aspecto, as 979 mortes violentas registradas pelo Instituto Médico-Legal no primeiro semestre deste ano 23% a mais que no mesmo período do ano passado e 35% a mais que em 2008 dão a dimensão do problema.
Ocorrências
Outro dado disponível é de um levantamento feito pela assistente social da Vara do Adolescente Infrator Adriana Accioly Gomes Massa. Ela revelou que dos 682 boletins de ocorrência feitos na Delegacia do Adolescente entre janeiro e 18 de junho deste ano, 9,23% foram por porte ou posse de drogas e 9,82% por tráfico. "São 20% dos atendimentos diretamente relacionados com as drogas, mas, de forma geral, 90% das ocorrências, entre furtos, roubos etc, têm a ver com o tráfico de drogas, e a maioria com o crack."
Na busca por uma saída do vício, mais de 6 mil pessoas deram entrada nos Centros de Atenção Psicossocial de Curitiba de 2009 para cá, a maioria buscando tratamento contra o crack. Quantos ainda continuam na luta, não se sabe. Boa parte desses pacientes tem recaídas no meio do tratamento e não aparece mais e a Secretaria Municipal de Saúde não faz um levantamento sistematizado dos atendimentos.
Interatividade
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