Os pais foram de um extremo a outro na educação dos filhos. Se há cinco ou seis décadas as crianças não tinham vez nem voz nas famílias, hoje muitas ocupam o lugar central, o que traz consequências graves para a vida dos pequenos.
A permissividade sem freios leva ao que alguns pesquisadores chamam de “infantocracia”. Funciona assim: quando os pais não exercem a autoridade, a criança entra em competição pelo poder de decisão na casa. Ao conquistar essa autoridade, o filho torna-se um tirano, em busca somente do próprio bem-estar.
Crianças que antes de dormir obrigam a mãe ou o pai a contar e recontar histórias uma infinidade de vezes; fazem birra por qualquer desejo frustrado; determinam onde a família vai almoçar no fim de semana; pedem coisas sem limite; querem a atenção dos pais o tempo inteiro e não dão sossego nem quando eles estão no banheiro. Todas essas situações podem sinalizar que os filhos precisam de mais limites.
Marcos Meier, mestre em Educação, consultor educacional e palestrante, afirma que os pais não devem ter medo de exercer a autoridade. “Leve 20 crianças ao alto de uma montanha, à beira de um precipício, e diga a elas para que brinquem à vontade com uma bola. Elas vão ficar com medo, sem vontade de brincar. Mas se você colocar um limite, uma grade resistente que as proteja, elas vão se divertir à vontade”, compara, ao explicar a importância das regras em casa.
Satisfazer grande parte das vontades da criança pode, paradoxalmente, trazer insatisfações, não só na vida adulta, mas no próprio presente, explica a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora de 40 livros sobre relações familiares, desenvolvimento pessoal e gestão de conflitos.
“Quanto mais a criança tem, mais ela quer, e o que ela tem deixa de ser importante. Ela passa a focalizar naquilo que ainda não tem. Também se torna desagradável, com dificuldade de contato com outras crianças, pois só vai querer brincar do que deseja e não terá flexibilidade para fazer acordos”, alerta.
Fazer tudo o que a criança pede também prejudica os estudos, pois para aprender é fundamental tolerar frustrações. Para Maria Tereza, só quando o filho suporta bem a decepção de não conseguir resolver um problema de matemática ou tocar um instrumento é que vai seguir adiante e praticar até obter sucesso. Além disso, filhos que não se acostumaram a rotinas terão dificuldade para cumprir hábitos fundamentais para sedimentar o conhecimento.
“Existe um ciclo de aprendizagem, que inclui assistir a aulas, fazer lição de casa e dormir bem. Mas os pais precisam colocar regras para a criança fazer as tarefas da escola e dormir no horário. É preciso dormir oito horas contínuas para que o cérebro libere substâncias que fazem a fixação dos conteúdos”, afirma Meier.