Delegado-geral da Polícia Civil defende transferências, mas relativiza paralisação
O delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Riad Braga Farhat, disse nesta terça-feira (13) que a transferência de presos dos DPs também é uma das demandas defendidas pelo departamento junto ao governo do estado. Ele defende que o processo já estava em curso, mas que será acelerado por causa da fuga em Colombo, mas relativiza o movimento, já que a polícia constitui um serviço essencial e não poderia parar
Questionado sobre o fato de a decisão de transferir os presos rapidamente foi tomada após a situação ter chegado a um limite, Farhat frisou que a situação está no limite há anos. "Em Curitiba e RMC, nos próximos 60 dias, todos os presos de delegacias serão transferidos. Isso vai beneficiar 3 milhões de pessoas, porque a partir do momento que tira presos das delegacias, desafoga trabalho dos investigadores, melhorando o trabalho da polícia judiciária na solução de crimes."
Farhat ressalta que depois que os presos das delegacias forem transferidos, as celas dos distritos e especializadas serão desativadas. Ele cita o projeto de centralizar todos flagrantes no 11.º Distrito Policial, na Cidade Industrial de Curitiba. "O preso permanecerá na delegacia única e exclusivamente para o flagrante." O 11º DP, atualmente, passa por uma "reforma" emergencial por causa de danos causados em uma tentativas de fuga no local, que possui 160 presos, em um local no qual caberiam, no máximo, 40.
A paralisação dos policiais civis que começou a 0 hora desta terça-feira (13) afeta os serviços ao cidadão prestados nas delegacias de Curitiba. A reportagem percorreu as principais divisões policiais e encontrou delegacias especializadas e distritos fechados. Apenas a Delegacia de Homicídios funcionava normalmente, além do 2º Distrito Policial, no Água Verde. A expectativa era de que ao longo do dia todas as delegacias fechassem.
Pela manhã, a Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), no Jardim Botânico, estava completamente fechada. O local possui cerca de 100 presos, o que corresponde a três vezes a capacidade da estrutura. Antônio Evanildo Costa Bispo, 55 anos, foi um dos que procurou a DFR e encontrou as portas fechadas. "Vim prestar esclarecimentos sobre um amigo meu que estaria com um notebook furtado. Nunca vi delegacia fechada."
A reportagem constatou que se encontravam em situação idêntica, sem atendimento, os distritos 11º (CIC), 6º (Capão da Imbuia) e 9º (Santa Quitéria). O Instituto de Identificação no DP do Santa Quitéria, porém, funcionava nesta terça-feira.
O Comando de Operações Especiais (Cope) e a Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos (Demafe) também não tinham atendimento à população na manhã desta terça.
O 1º Distrito Policial, no Centro, chegou a ficar aberto pela manhã, mas fechou por volta das 11 horas. Andando com a ajuda de muletas e o pé enfaixado, Michael Pereira dos Santos, 30 anos, conseguiu atendimento antes que o distrito fechasse. "Fui assaltado e agredido na semana passada, não sabia que podia fazer pela internet o Boletim de Ocorrência (BO). Meus documentos foram roubados e por isso vim fazer o BO," contou.
Na Delegacia de Homicídios, o delegado Cristiano Quintas relatou que o atendimento ocorria normalmente pela manhã. "Isso não quer dizer que não aderimos à paralisação. Não podemos parar pela natureza especial do nosso trabalho, não podemos deixar corpos pela rua." Guias eram expedidas normalmente e a maior parte das investigações também eram realizadas nesta terça.
A Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) estava aberta nesta manhã apenas para o registro de ocorrências. "Importante informar a população que estamos realizando esse serviço para não gerar um alerta para os bandidos", afirmou o delegado Cassiano Aufiero.
Paralisação pede transferências dos presos de delegacias
A paralisação de 24 horas dos policiais ocorre em protesto contra a manutenção de presos em delegacias do estado e contra as condições de trabalho que os policiais civis enfrentam nas delegacias. A motivação foi uma fuga de presos na Delegacia de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Na ocorrência, um agente de cadeia foi morto. A situação desencadeou o desconforto dos policiais, que já haviam reivindicado a transferência de presos de delegacias para o sistema penitenciário.
Uma assembleia está marcada para a o início da noite de terça para avaliar o andamento da paralisação. Essa reunião, no entanto, será apenas de avaliação. Uma votação para definir os rumos do movimento, conforme o presidente do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), André Luiz Gutierrez. "Vamos chegar à forma de manifestação mais efetiva. Na minha opinião, temos que fechar as delegacias que não têm mais condições de atender à população por causa do excesso de presos. Mas essa é uma das possibilidade, há ainda manifestações, protestos e inclusive a greve." A assembleia deliberativa acontece na tarde desta quarta-feira (14), na sede do Sinclapol do bairro Vila Izabel, em Curitiba.
Fim de semana conturbado
Na manhã deste domingo (11), uma tentativa de fuga na Delegacia de Colombo, na RMC, terminou com um agente de cadeia morto, um policial ferido e dois presos foragidos. A rebelião deste domingo começou na hora em que a comida dos presos era entregue. O agente Eliel Schimerski Santos morreu devido aos ferimentos. O investigador Diego Elieser Almeida e o agente Benedito Rodrigues dos Santos ficaram feridos, de acordo com o Sinclapol. Depois da ocorrência, 70 presos, dos 80 que estavam na unidade, foram transferidos.
Ainda no domingo, um agente carcerário foi preso suspeito de ter facilitado a fuga de presos da Delegacia de Colombo. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Polícia Civil, que informou que o agente teria recebido dinheiro de pessoas ligadas aos detentos. No entanto, o órgão disse que não há informações oficiais sobre a quantia que o suspeito teria recebido para ajudar na tentativa de fuga.
Já na madrugada desta segunda-feira, houve uma tentativa de fuga no 11º Distrito de Curitiba, na CIC. A ocorrência levou a Polícia Civil a determinar uma reforma emergencial na unidade. Os cerca de 160 presos que estão no local, que tem capacidade para 38, chegaram a ser deslocados para o pátio de sol para que reparos fossem feitos na carceragem. Não havia, até as 19h50 de hoje, confirmação de que o trabalho terminasse nesta segunda, pois a estrutura ficou bastante danificada.
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