Richa aponta "motivações políticas"
Antonio Senkovski
O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse ontem que a tentativa de invasão do Palácio Iguaçu, ocorrida ao final da manifestação que reuniu cerca de 10 mil pessoas na noite de segunda-feira, em Curitiba, foi feita por um grupo de "baderneiros" que o fizeram com "fins políticos". A manifestação terminou com sete detidos pela Polícia Militar.
"Lamentavelmente, no final de um longo percurso desses manifestantes, baderneiros, não tenho dúvida alguma que com fins políticos, tentando invadir o Palácio Iguaçu, depredar o patrimônio que é dos paranaenses. A partir da hora que estão partindo para a violência, quebraram a ordem pública e começam a depredar um patrimônio, aí a policia reagiu, mas mesmo assim com todo o cuidado no uso da força", completou Richa, que ressaltou que a manifestação é um direito.
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, um trabalho de inteligência está sendo conduzido para identificar as pessoas que cometeram crimes durante o protesto. "Os indícios são muito grandes que já uma vinculação política de oposição para prejudicar o governo", disse.
Cronologia
Confira os principais embates sobre o subsídio do governo estadual na tarifa do transporte coletivo da rede integrada:
Fev 2012 Autoridades locais admitem a possibilidade de colocar subsídio direto no sistema de transporte coletivo de Curitiba.
Mai 2012 Governo do estado formaliza subsídio de R$ 64 milhões em um ano. Beto Richa (PSDB) é acusado de fazer uso eleitoreiro da medida, para beneficiar o então prefeito Luciano Ducci (PSB).
Dez 2012 Richa e o prefeito eleito Gustavo Fruet (PDT) iniciam negociações para manutenção do auxílio financeiro, que foi marcada por reviravoltas e incerteza.
Mar 2013 Richa sugere a isenção do ICMS que incide sobre o óleo diesel como subsídio no transporte coletivo para Curitiba e grandes cidades do Paraná e diz que auxílio financeiro do governo acabará.
Depois de pedido do senador Roberto Requião (PMDB), Ministério Público passa a investigar legalidade do subsídio concedido para Ducci.
Mai 2013 Urbs e Comec fazem novo convênio para subsídio no transporte. Governo do estado vai repassar R$ 40 milhões em dez meses.
Richa sanciona lei que isenta ICMS sobre diesel e prefeitura anuncia que vai subsidiar o sistema em R$ 22,7 milhões, com receitas obtidas com ISS e o Fundo de Urbanização de Curitiba.
Jun 2013 Regulamentada lei que promove a isenção do ICMS sobre diesel, anuncia redução na tarifa de linhas metropolitanas não integradas e gera mal-estar com Fruet.
42,4% foi o aumento da frota brasileira entre 2008 e abril de 2013, totalizando 43.541.296 veículos, segundo o Denatran. Em Curitiba, houve um crescimento de 23,4% da frota no mesmo período.
Cerca de 50 mil fecham ponte em Florianópolis
Folhapress
Manifestantes bloquearam o acesso às duas pontes que ligam a ilha de Florianópolis ao continente na noite de ontem, durante ato em solidariedade ao movimento nacional contra o aumento das passagens de ônibus. Eles também protestam contra o dinheiro público investido na Copa do Mundo.
A polícia militar estimou em 50 mil o número de pessoas durante a manifestação, que foi acompanhada por 350 policiais militares.
A capital catarinense tem histórico de protestos contra o aumento das tarifas. Neste ano, porém, a prefeitura informou que não haverá reajuste.
Os manifestantes, na maioria estudantes, reuniram-se por volta das 18h em frente ao Terminal de Integração do Centro - por onde passam, segundo as empresas de ônibus, 200 mil pessoas por dia.
Desde antes das 18 horas, policiais já se posicionavam nas cabeceiras das pontes para garantir o fluxo de veículos.
Um grande ato está agendado para amanhã, às 18h, no mesmo local. O protesto é convocado pela Frente de Luta pelo Transporte Público.
"A solução é os governantes trabalharem com planejamento estratégico para pensar o Brasil de maneira mais racional."
José Matias-Pereira, especialista em Administração Pública.
A integração do transporte da capital com as cidades da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) é a principal dificuldade para reduzir o custo da tarifa de ônibus e atender ao pedido dos ativistas, que exigem que a passagem caia para R$ 2,60. Hoje, o subsídio repassado pelo governo do estado para manter a integração é insuficiente para permitir uma redução imediata do preço da passagem na Rede Integrada de Transporte (RIT).
INFOGRÁFICO: Rede urbana ajuda a cobrir o buraco do transporte metropolitano
A desoneração de impostos federais (PIS e Cofins), anunciada em maio e já em vigor, não equilibrou as finanças do sistema, mas diminuiu os custos em quase R$ 0,12. Hoje, há um déficit de R$ 5,7 milhões por mês nas contas da parte metropolitana do sistema, enquanto o governo estadual repassa à prefeitura de Curitiba R$ 4 milhões. A diferença é coberta por uma sobra de aproximadamente R$ 2 milhões mensais na parcela que circula na capital.
A tarifa técnica do sistema, valor que é repassado para as empresas operadoras, foi fixada em R$ 2,9994, mas o usuário continua pagando R$ 2,85. Na parte do sistema que circula apenas em Curitiba, esse custo cai para R$ 2,7498. A diferença positiva gera um superávit que ajuda a equilibrar as contas da rede, já que o custo do transporte metropolitano é mais alto, estimado em R$ 3,9589.
Essa contribuição de uma parte do sistema para outra foi viabilizada com a isenção de tributos federais, que permitiram a redução da tarifa técnica. A Urbs, operadora do sistema, ainda estuda como será aproveitada a isenção de ICMS sobre o óleo diesel. "Na época que fizemos o convênio, contamos que teria essa diminuição dos valores. Então, o subsídio já foi calculado pensando nessas diminuições", afirma o presidente da Comec, Rui Hara.
Desconforto
Todo esse imbróglio em relação a um possível desconto no valor pago pelo usuário e o anúncio do governador Beto Richa de redução das tarifas nas linhas metropolitanas não integradas agravou o mal-estar entre governo do estado e prefeitura de Curitiba. Um exemplo é a regulamentação do desconto do ICMS sobre o diesel que condiciona o benefício a um desconto real no preço da passagem. "Sou o único governador do Brasil a agir dessa forma e baixei [as tarifas] onde eu pude, mas dei condições dos prefeitos das grandes cidades do Paraná fazerem o mesmo", alfinetou o governador.
Os R$ 4 milhões mensais de subsídio do governo cobrem o rombo mensal do sistema e há um excedente de cerca de R$ 233,7 mil. Esse dinheiro, que poderia ser usado para cobrir parte do déficit acumulado de R$ 143 milhões, voltará para os cofres do governo. A devolução está prevista no convênio assinado entre Urbs e Comec, que também prevê que qualquer alteração na tarifa para mais ou para menos precisa ser repactuada pelas partes. "Com todas essas ações, ainda há um déficit no sistema e nós temos que evitar criar outra bomba-relógio", argumenta o prefeito Gustavo Fruet (PDT).
Desoneração do ICMS do diesel não teve efeito imediato
A divulgação de que as tarifas das linhas metropolitanas não integradas da região de Curitiba teriam redução por causa da desoneração do ICMS do combustível, regulamentada pelo governo na última semana, foi questionada pela Urbs, que opera o sistema integrado. O presidente do órgão, Roberto Gregório da Silva Junior, se disse surpreso com o anúncio e cobrou responsabilidade do governo do estado em audiência realizada na segunda-feira na Câmara de Curitiba.
O decreto publicado na semana passada elenca uma série de exigências anteriores à concessão do desconto. Essa burocracia, na visão de Gregório, impediria uma redução tão rápida assim como a concedida pelo governador e prefeitos do interior. "Será que entre 11 e 16 de junho [assinatura e regulamentação da lei] todos esses procedimentos foram adotados?", questiona. As reduções foram atribuídas às desonerações promovidas pelo governo federal.
Aumento de custo
Em Curitiba, o impacto da redução do ICMS pode ser anulado com o aumento dos custos que podem haver para adaptação de frota e contratação de pessoal para o cumprimento da lei que veta a dupla função. A desoneração traria um desconto de R$ 0,03, enquanto as adaptações e contratações poderiam aumentar em até R$ 0,05 a tarifa.
Por questões jurídicas, a Urbs tem evitado multar as empresas para não ser alvo de questionamentos. Isso ocorre porque o documento que proíbe que os motoristas também cobrem as passagens não revoga uma outra lei, aprovada em 2001, que versa sobre a função e condições de trabalho dos cobradores.
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