A polícia confirmou oficialmente, nesta quarta-feira (2), que o ex-comandante do Corpo de Bombeiros, o coronel reformado Jorge Luiz Thais Martins, de 56 anos, foi reconhecido por sobreviventes e testemunhas dos crimes como autor dos assassinatos em série. O resultado exato, no entanto, não foi divulgado pelas autoridades. "Pretendemos ouvir outras testemunhas. Não podemos afirmar quantas reconheceram suspeito, para não induzir as outras pessoas em eventuais outros procedimentos", disse o delegado Cristiano Quinta dos Santos, da Delegacia de Homicídios (DH). Fontes ouvidas pela Gazeta do Povo apontaram que todas as testemunhas (quatro delas, sobreviventes dos crimes) reconheceram o coronel.
O reconhecimento foi realizado na tarde de terça-feira (1º), na DH. Nove pessoas (quatro sobreviventes e cinco testemunhas) que constavam no inquérito participaram do procedimento. Em sete casos, o reconhecimento foi feito de modo visual: Martins foi colocado perfilado ao lado de outras cinco pessoas e, de uma sala anexada de onde não poderia ser vista, a testemunha apontava para o suspeito. Dois procedimentos foram auditivos: o coronel e outras cinco pessoas leram uma frase e a testemunha apontava quando reconhecia a voz do suspeito.
O delegado informou que a polícia iniciou o levantamento de novas testemunhas, chamadas referidas (que foram apontadas pelas primeiras pessoas ouvidas nas investigações). De acordo com o delegado, essas pessoas serão intimadas a depor e farão o reconhecimento fotográfico e pessoal do coronel Martins. "São testemunhas presenciais que viram os homicídios e testemunhas circunstâncias que teriam visto o atirador rondando a região onde os crimes ocorreram", explicou o delegado.
A polícia aguarda a conclusão de exames periciais, que são realizados pelo Instituto de Criminalística (IC). Nesta semana, a defesa do coronel apresentou uma pistola ponto 40, que pertenceria a Martins. A arma foi encaminhada para confronto balístico. A perícia vai apontar se os projéteis encontrados no local do crime são compatíveis com a pistola e se os tiros partiram deste armamento. Segundo o inquérito, em quatro dos cinco ataques foram encontrados cápsulas ou cartuchos deste calibre.
Justiça proibiu entrevistas, diz advogado
O advogado do coronel, Sílvio Micheletti disse que o coronel Martins está proibido judicialmente de conceder entrevistas, enquanto estiver preso. De acordo com o responsável pela defesa do suspeito, a ordem partiu do juiz Pedro Luis Sanson Corat, o mesmo que decretou a prisão preventiva. "A decisão foi tomada pela Justiça para que se mantenha a ordem no caso, mas, assim que for revogada esta prisão, o coronel vai se pronunciar", declarou o advogado.
Na terça-feira, Micheletti ingressou com o pedido de revogação. A solicitação foi feita também ao juiz Sanson Corat, que deve avaliar os novos fatos que vieram à tona após a decisão pela reclusão de Martins. Na avaliação da defesa, a prisão é desnecessária, uma vez que o coronel estaria colaborando com as investigações. E expectativa do advogado é de que o pedido seja julgado ainda nesta semana. "Amanhã [quinta-feira] já esperamos ter novidades", disse.
Bastidores da cobertura
A jornalista da Gazeta do Povo, Carolina Gabardo Belo, que participa da cobertura do caso, mostrou que dois jornalistas foram colocados entre as pessoas com características semelhantes ao coronel, ao longo do processo de reconhecimento pessoal. Os detalhes desta cobertura podem ser acompanhados no Blog Vida e Cidadania.
Caso
Segundo o inquérito policial, são cinco ataques atribuídos ao coronel Martins. Nove pessoas morreram e cinco foram baleadas, totalizando 14 vítimas. Os crimes ocorreram entre o dia 8 de agosto de 2010 a 14 de janeiro deste ano. Todos os atentados ocorreram no bairro Boqueirão, próximo ao local onde o filho de Martins foi assassinado, em outubro de 2009. Os ataques começaram depois que dois usuários de drogas, suspeitos de ter matado o filho do coronel, foram postos em liberdade. Segundo a polícia, nenhuma vítima dos ataques têm qualquer relação com a morte do rapaz.
De acordo com fontes ligadas à polícia, ouvidas pela Gazeta do Povo, em todos os casos foram atacados grupos de usuários de droga ou pessoas que estavam em pontos tradicionais de encontro de usuários. Em apenas um dos atentados não houve sobreviventes.
Veja o mapa com a localização de cada crime
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