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As galerias que podem ter sido usadas como rota de fuga de traficantes no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, têm trechos altos o bastante para que um homem de até 1,70m ande sem se curvar. A polícia passou a investigar se a obra de saneamento teria sido usada pelos criminosos após denúncia de morador feito ao disque-denúncia.
A rede de águas pluviais se mistura ao esgoto da favela. Uma equipe do Jornal Nacional entrou na galeria nesta segunda-feira (29) com o capitão Ivan Blaz, do Bope. Dentro da galeria, há papéis usados para embalar cocaína, sinal de que os criminosos podem ter passado por lá. São quilômetros de túneis que se estendem por toda a comunidade.
Pela rede de esgoto é possível seguir pelos túneis até o bairro do Engenho da Rainha e sair numa das principais avenidas da região, a dois quilômetros da área do conflito. Para o capitão do Bope, dessa maneira eles poderiam sair sem chamar atenção de ninguém.
Blaz afirma que os bandidos podem ter planejado com antecedência uma eficiente rota de fuga. O coronel Paulo Henrique Moraes, comandante do Bope, afirma que há sinais de que o projeto da rede de esgoto foi alterado, a pedido de traficantes, para facilitar a fuga.
Em nota, a Secretaria Estadual de Obras e a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro informou que as galerias do Alemão foram construídas com extensão e diâmetro compatíveis com o escoamento do grande volume de águas pluviais e esgoto da comunidade.
Em uma semana, PM registra 37 mortos no Rio
A Polícia Militar divulgou na tarde desta segunda-feira (29) mais um balanço da semana de ataques que o Rio de Janeiro sofreu. Segundo os dados da corporação, atualizados por volta de 14h30, entre os dias 22 e 28 deste mês foram registradas 37 mortes, 118 prisões, 130 pessoas detidas para averiguação e 102 veículos incendiados.
Além disso, a PM informou ter apreendido material inflamável e explosivos, como 12 coquetéis molotov, dois artefatos explosivos, 14 litros de gasolina, 5 litros de álcool, 07 galões de gasolina, 6 dinamites, 6 espoletas e 77 granadas e bombas caseiras.
Na manhã desta segunda, policiais militares do Grupamento Tático Móvel conseguiram evitar que dois homens ateassem fogo em carros na Linha Vermelha. Os policiais contaram que passavam pelo local, por volta das 7h30, no momento em que os criminosos acabavam de fechar a via, no acesso pela Avenida Brasil, no Caju, Zona Portuária do Rio, para promover os ataques.
Ainda de acordo com a polícia, os criminosos chegaram a efetuar disparos em direção aos agentes, mas eles não revidaram para evitar que motoristas fossem atingidos. Alguns, assustados com a ação, pararam o carro no meio da pista. Outros chegaram a voltar na contramão, segundo policiais.
Um dos homens foi preso e o outro conseguiu fugir. Com o preso, que tem passagem pela polícia por tráfico de drogas, foram apreendidos uma garrafa PET com gasolina, um isqueiro e um radiotransmissor.
Carros pegaram fogo nesta madrugadaEntre meia-noite e 6h desta segunda-feira, o Corpo de Bombeiros registrou seis chamados para incêndios em veículos em pontos diversos do estado. Os registros não identificam se os veículos são ônibus, carro ou caminhão. Dois casos ocorreram na Região Metropolitana e os outros quatro, no interior do estado. Em nenhum deles houve vítimas.
Um dos casos foi registrado na Rua Carlos Gomes, no bairro Ponto dos Cem Réis, em Niterói, na Região Metropolitana. O outro caso foi na Rua Marquês de Jacarepaguá esquina com Rua Apolônia Pinto, no Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio.
Este os casos no interior do estado, o último foi registrado às 2h34, no Centro da cidade de Três Rios, no Centro-Sul Fluminense.
Ocupação
As Forças Armadas e as polícias do Rio vão continuar ocupando o Conjunto de Favelas do Alemão até a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade. O que, segundo o governador Sérgio Cabral, deve acontecer no primeiro semestre de 2011. A afirmação foi feita na manhã desta segunda-feira (29) durante a abertura do Fórum sobre Infraestrutura da Olimpíada Rio 2016, em Copacabana.
Reurbanização
Também na manhã desta segunda-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que vai promover uma grande "invasão" de serviços públicos, não só na comunidade da Penha como no Conjunto de Favelas de Alemão e nos bairros do entorno dessas comunidades, imediatamente.
O plano, que começou a ser preparado na semana passada segundo o prefeito, vai começar com os serviços como recolhimento de lixo e limpeza de ruas e logradouros públicos da comunidade. Segundo Paes, não serão poupados recursos humanos e financeiros.
O prefeito também disse que as aulas nas escolas públicas nas regiões dos conjuntos da Penha e do Alemão serão reiniciadas nesta terça-feira (30).Os caminhões de limpeza pública voltaram a entrar apenas nesta manhã no Alemão. Por todos os cantos da comunidade é possível ver montanhas de lixo.
"Alguns foram presos tentando sair da comunidade vestidos de religiosos, de mata-mosquitos. É possível que alguns tenham conseguido e, ainda antes da operação, ter ido em direção ao (Morro do) Juramentinho", admitiu o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Henrique Moraes.
Segundo ele, uma rede de grandes canais em um galeria de esgoto pode ter facilitado a fuga. "São galerias de esgotos muito grandes, em que uma pessoa anda em pé, tranquilamente, e que ainda estão sendo investigadas", contou Moraes. Ainda de acordo com ele, como as obras foram feitas por várias empreiteras e interrompidas algumas vezes, não há um engenheiro que conheça sua extensão por completo.
Dia histórico para o Rio
Um dia histórico para o Rio de Janeiro. Uma força de segurança, composta por homens da Polícia Militar, Civil, Federal,Marinha e do Exército, reconquistou, neste domingo (28), o comando do Complexo do Alemão, um dos principais redutos de traficantes da capital fluminense. Perto de 3 mil homens participaram da ação, que iniciou por volta das 8 horas da manhã. Pelo menos dez blindados da Marinha e do Exército foram usados para conduzir as tropas pelos principais locais da região.
O controle da comunidade foi assumido em menos de duas horas, quando foram presos suspeitos de envolvimento com o tráfico.
"O território jamais será dado de volta aos criminosos", disse o subchefe operacional da Polícia Civil, Rodrigo Oliveira. Às 9h22, o comandante-geral da Polícia Militar, Mário Sérgio Duarte, declarou: "Vencemos". O hasteamento de uma bandeira do Brasil no alto do teleférico do morro do Alemão, às 13h22, representou o que as forças de segurança trataram como libertação da comunidade.
A ocupação se deu sem "grandes confrontos", segundo Duarte, o que fez o delegado Marcus Vinicius Braga chamar a situação de "preocupantemente tranquila". A única vítima foi um homem levado ao hospital após trocar tiros com as forças de segurança. Um menor também ficou ferido, mas não corre risco.
Em vez de reagir à ocupação, os traficantes tentaram fugir ou se esconder, o que fez com que as forças de segurança organizassem uma busca de casa em casa da comunidade. No total, 30 pessoas foram presas, incluindo Elizeu Felício de Souza, conhecido como Zeu , um dos homens condenados por participar da morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo.
Oito dias de confronto
A ação deste domingo foi o resultado de oito dias de confrontos. Desde o último domingo (21) criminosos orquestraram uma série de ataques por toda a cidade, atirando contra policiais e ateando fogo em dezenas de veículos. A reação da polícia e o cerco aos criminosos teve início na última quinta-feira (25) quando uma megaoperação do Bope atacou os criminosos nas favelas da Penha e controlou a Vila Cruzeiro e provocou a fuga em massa de mais de uma centena de criminosos que se esconderam no Alemão. As forças de segurança começaram no dia seguinte o cerco ao Conjunto.
Segundo o governador do estado, Sérgio Cabral, a operação representa uma página virada para o Rio. "A reconquista do território do Complexo do Alemão pelo Estado é um passo fundamental e decisivo na política de segurança pública que traçamos para o Rio de Janeiro", disse.
Veja no mapa a localização das favelas Vila Cruzeiro e Morro do Alemão
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