Após conseguir acesso ao inquérito sigiloso que investiga a médica Virgínia Soares de Souza, a defesa da intensivista afirmou nesta sexta-feira (22) que a Polícia Civil apura as circunstâncias de seis óbitos e que havia um policial infiltrado como enfermeiro na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) geral do Hospital Evangélico. Além disso, o advogado Elias Mattar Assad, que defende Virgínia, disse que a investigação está embasada apenas em relatos de familiares de supostas vítimas já que ainda não viu relatório algum feito pelo agente infiltrado no inquérito.
Durante coletiva de imprensa concedida na tarde desta sexta-feira (22), Assad ainda afirmou que não conseguiu os áudios de interceptações telefônicas feitas pela polícia. Segundo ele, os "grampos" chegaram apenas em forma degravada, o que dificultaria a confirmação do contexto das conversas.
O advogado argumenta que os áudios divulgados na imprensa em que a médica afirma querer "desentulhar a UTI" pode estar fora de contexto. Ele avalia que a frase pode significar apenas que a médica gostaria de abrir espaço para ter mais leitos na UTI. "A tese da defesa não é inocência, é inexistência de fato criminoso. A polícia não conseguiu provas de existência de crime", afirma o advogado. A defesa não soube informar por quanto tempo o agente permaneceu infiltrado como enfermeiro na UTI. A equipe do advogado informou que o policial pode ter permanecido no local entre dezembro de 2012 e janeiro deste ano.
Ainda segundo o advogado, o pedido de prisão não foi embasado por nenhuma informação coletada por este policial. Assad disse ainda que a investigação, se não for comprovada, será um equívoco muito grande. "Se não for provado, será o maior erro de investigação da história. Este inquérito vai ser a maior gafe da história da Polícia Civil", afirmou. Segundo o advogado, a investigação não partiu de um fato concreto. Ele argumenta ainda que os atestados de óbito das pessoas que seriam vítimas no inquérito foram assinados por outros médicos, já que os intensivistas não têm esta atribuição normalmente.
Cartas na UTI
A defesa de Virgínia ainda rebateu algumas informações que têm sido divulgadas, como as cartas de pessoas que acusavam as equipes da UTI de tentativa de assassinato. De acordo com a enfermeira Liliane Andrade, que esteve presente na coletiva com outros profissionais em solidariedade à médica, essas cartas e a suposta sensação de que estaria sendo vítima de homicídio são decorrentes de um problema chamado agitação psicomotora e de consequências de medicação.
"Isso é muito comum. Com a confusão mental, escrever esses bilhetes e depois voltar atrás. Já ocorreram várias vezes", afirma ela, que trabalhou com Virgínia entre os anos de 2010 e 2011. Problemas pessoais
Liliane e o enfermeiro especialista em estado crítico, Claudinei Machado Nunes, afirmaram também que todas as acusações feitas contra a médica têm tido cunho pessoal. Segundo ele, grande parte dos profissionais que trabalhavam com Virgínia não gostava de estar próximo a ela pela rigidez no serviço.
O filho da médica, professor de música Leonardo Prisco de Souza Marcelino, acredita que problemas pessoais tenham desencadeado a série de denúncias contra sua mãe. "Há anos vejo minha mãe trabalhando. Vejo mais pacientes gratos do que com rancor", ressaltou.
Ele admite que Virgínia pode parecer grosseira e fria em alguns momentos. "Mas é natural para quem trabalha na área de emergência", argumenta.
Fim do sigilo
A defesa da médica deverá fazer um pedido de revogação do sigilo sobre o inquérito e da prisão temporária na segunda-feira. Caso consiga acabar com o segredo na investigação, Assad prometeu divulgar o conteúdo publicamente durante a semana.
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