As chuvas que atingiram a cidade de Angra dos Reis (RJ) pouparam a maior parte das pousadas e hotéis da cidade, mas esses estabelecimentos também sofrem as consequências da tragédia.
Na praia do Bananal, onde a pousada Sankay foi destruída, as pousadas que sobraram receberam ordens da Defesa Civil para cancelar todas as reservas "até segunda ordem".
Já nas pousadas distantes dos locais atingidos, os cancelamentos, em plena temporada de verão, são resultado da vontade dos próprios turistas.
Na madrugada de sexta (01), dois deslizamentos deixaram 50 mortos em Angra dos Reis, na praia do Bananal, em Ilha Grande, e no Morro da Carioca, na área continental da cidade.
O hotel Acrópolis Marina fica no centro de Angra, em uma área afastada de qualquer morro, e que não sofreu nenhum tipo de dano pela chuva. Ainda assim, todas as reservas foram canceladas até metade do mês de janeiro, segundo o funcionário Emerson Domingues.
"Somos o hotel mais centralizado da cidade. Não tem perigo nenhum, podem todos os morros de Angra vir abaixo que aqui não chega. Não tivemos problema nenhum, nossos hóspedes aproveitaram toda a festa do Ano Novo", afirma Domingues. "Mas os hóspedes estão cancelando. Nós não temos insistido, porque a gente entende que a situação é complicada e que não adianta nada o turista vir aqui preocupado. Estamos devolvendo os depósitos e cancelando, como pedido", explica.
Também na área continental da cidade, a pousada Ponta do Leste é outra que enfrenta cancelamentos. E os próprios funcionários têm orientado os turistas a transferir as reservas desta semana para a próxima.
"Não tivemos nada quebrado, mas estamos sem luz desde o dia 1º. Os hóspedes foram todos embora, a pousada está vazia.", conta o gerente Roberto Couto Vieira. "Então estamos sendo sinceros. Acabou de ligar um senhor aqui e eu recomendei transferir a reserva para a semana que vem", afirma.
Ilha Grande
Na Ilha Grande, a pousada Recanto dos Limas, que fica numa praia vizinha à do Bananal, teve cancelamentos em 40% de suas reservas, segundo o gerente Marcelo Hadama.
"Temos 43 hóspedes no momento e vamos funcionar normalmente. Não tivemos nenhum dano pela chuva. Só ficamos sem energia, mas estamos dando conta com o gerador", afirmou Hadama.
Na praia da Biscaia, a Pousada dos Golfinhos também teve cancelamentos de reservas para o mês de janeiro.
"A primeira e a segunda semana são as melhores do ano para a gente. Sempre está lotado. Agora, estão sobrando vagas", conta o gerente Luís Madureira. "A gente só vai saber a extensão do prejuízo daqui uma ou duas semanas."
No Recanto Kamomê, próximo à praia do Bananal, a proprietária Ivete Taguchi precisou procurar sua advogada por causa dos cancelamentos.
"Não aconteceu nada aqui, nem árvore caiu e todos cancelaram no mês de janeiro. Todos. Teve cancelamento até de uma moça que viria da Itália. E estão pedindo o dinheiro do depósito de volta. Eu não tenho condições de devolver esse dinheiro", afirma Ivete.
Segundo ela, a pousada deixa claro que o dinheiro do depósito para reservas não é devolvido em caso de cancelamentos. "Falei com minha advogada, ela disse que eu não sou obrigada a devolver. Mas é uma pressão muito grande", conta a proprietária.
"A pousada está em perfeitas condições e dá para chegar aqui pela estrada sem problemas. Meu filho veio no dia 2 numa boa. As pessoas precisam entender que tem segurança e que se todos cancelarem aí sim é que isso aqui vai virar o caos", lamenta.
Praia do Bananal
As pousadas vizinhas à Sankay tiveram que dispensar todos os hóspedes e cancelar as reservas, a pedido da Defesa Civil. "Não tem ninguém e não tem prazo pra voltar", afirma o funcionário da pousada Três Coqueiros José Maria dos Santos.
Na Pousada do Preto, o proprietário Kiyoshi Nakamashi pediu "sensibilidade" da Prefeitura. "Os hóspedes saíram, não temos reservas, mas a vida continua e a gente tem funcionário para pagar, impostos. A prefeitura devia sensibilizar para dar uma anistia aí para a gente do IPTU", afirma o dono do local.
Na contramão da maioria das hospedagens, no entanto, a Pousada Lagamar, na praia Vermelha, não apenas enfrenta poucos cancelamentos, como ainda conta com a solidariedade dos turistas, segundo o proprietário Rogério de Campos Mel.
"Os hóspedes que estão chegando ligam e perguntam o que a gente precisa. E prometem trazer lanterna, vela, comida, remédio", conta Mel. Das 40 reservas feitas para janeiro, apenas duas foram canceladas.
"Felizmente não fomos atingidos, mas estamos sem luz. Para quem liga, eu falo com franqueza: a situação em Angra é caótica, mas aqui está tudo em paz. Só precisa enfrentar o banho frio", afirma ele.
"O que aconteceu foi uma tragédia, mas a vida não pode parar. Ilha Grande é um paraíso muito grande para parar", diz Mel. "A mensagem para o turista é 'venha, venha sim. Estamos esperando'."
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