A escolha de uma praça de pedágio como local de um protesto contra o tráfico de drogas foi estratégica, segundo a definição do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). "Se a gente fizesse isso no assentamento ou mesmo na cidade ninguém ia prestar atenção. A melhor maneira de chamar a atenção do estado todo é vindo para o pedágio", explica a agricultora Kelly Resende, uma das lideranças da manifestação realizada ontem, em São Miguel do Iguaçu, Região Oeste.
No Paraná, as praças de pedágio são o alvo preferido das manifestações do MST. Os principais protestos ocorrem em abril, por conta da lembrança do massacre de Eldorado de Carajás, quando soldados da Polícia Militar do Pará assassinaram 19 trabalhadores rurais. Em abril desse ano, 12 das 27 praças de pedágio do estado foram ocupadas. Em abril do ano passado foram 25.
"O MST é esperto e cria fatos para chamar a atenção da opinião pública", explica o doutor em Filosofia Política pela Universidade de Sorbonne e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dênis Rosenfield. Segundo ele, o movimento aproveita a má reputação das concessionárias para buscar a aprovação da opinião pública. "A tarifa (de pedágio) no Paraná é alta e ninguém gosta de pagar tanto. Além disso, há uma notória diferença entre as concessionárias e o governador. Então o MST escolhe o pedágio como um símbolo de luta e expurga ali todos seus males, apesar de não haver nenhuma relação dessas praças com a causa do protesto", afirma Rosenfield.
Para o advogado e professor da Unicuritiba, Alexandre Knopfholz, o pedágio tornou-se uma espécie de símbolo do mal para o MST. "Junto de algumas outras empresas, as concessionárias são os representantes do capital do mal. Servem para tudo, embora do ponto de vista prático não exista nenhum nexo entre uma coisa e outra", diz.
A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovia (ABCR) afirmou que, como a ação ficou isolada a uma praça de pedágio, não iria se manifestar. A Ecocataratas, que administra a praça ocupada, não afirmou se irá processar os manifestantes.
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