O prédio em construção que desabou na zona leste de São Paulo tinha um pavimento a mais do que a planta da obra entregue à prefeitura.
O desabamento ocorrido em São Mateus na terça-feira (27) deixou pelo menos oito mortos e 26 feridos. Até a noite desta quarta-feira, ainda havia dois desaparecidos - procurados pelos bombeiros nos escombros.
As plantas do projeto, que abrigaria no futuro uma loja de roupas populares, indicavam um imóvel térreo, mas um primeiro andar foi acrescentado ao imóvel.
Segundo técnicos, sobrepeso decorrente do pavimento extra pode ter levado ao colapso da estrutura. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo e a Polícia Civil apuram as razões do desabamento.
Foi a segunda falha que a prefeitura constatou depois do acidente. A primeira foi o fato de a obra não ter autorização do município para ocorrer, o que resultou no embargo do imóvel, em março.
Embargo
Só em abril, um mês depois desse embargo, é que os responsáveis pela obra entregaram à prefeitura o primeiro projeto - que correspondia à construção de três salas comerciais, todas no térreo. A prefeitura indeferiu o pedido e outro projeto foi apresentado em junho.
Quem assina os projetos e a responsabilidade técnica pela obra é a arquiteta Rosana Januário Ignácio. A reportagem tentou falar com ela ontem: da primeira vez, ela desligou o telefone assim que a reportagem se identificou; depois, não atendeu mais as ligações.
Consta no projeto também o nome do dono do imóvel, Mostafa Abdallah Mustafa. Ele não foi encontrado hoje.
Segundo a prefeitura, a Salvatta Engenharia também errou. A empresa havia sido contratada pelo Magazine Torra Torra, que alugou o imóvel, para avaliar as condições do local e fazer pequenos acabamentos.
O erro da Salvatta, diz a prefeitura, foi não ter pedido autorização ao município para fazer obra. Há ainda suspeita de que a empresa tenha feito intervenção para construir um elevador e escada rolante, para o qual tampouco houve pedido prévio.
Peso
À polícia, que abriu inquérito para investigar o caso, o eletricista Reginaldo Caetano dos Santos disse que no sábado, três dias antes do desabamento, houve uma determinação de engenheiros e arquitetos da Salvatta Engenharia para parar a obra.
Santos disse que a determinação se deu depois de constatado que a estrutura da edificação não suportava o peso, o que exigiria reforço. Preocupado, chegou a comentar que "iria rezar para que nada se mal ocorresse".
Havia no primeiro andar cerca de 500 tijolos e toras de eucalipto estocadas. A orientação foi para os funcionários retirarem esse material.
Não se sabe, entretanto, por que a obra continuou na segunda e na terça.
Também à polícia, o pintor Gleisson Feitosa disse que esperava material para reforçar a obra quando tudo ruiu. Ele ficou preso nos escombros e teve escoriações.
Outro lado
Edilson Carlos dos Santos, advogado de Mostafa Abdallah Mustafa, não comentou o fato de a obra ser diferente do projeto entregue à prefeitura.
"Não tenho esses detalhes técnicos. Terei acesso amanhã aos documentos após reunião com Mostafa."
Ele afirma que colocará o dono do imóvel à disposição da polícia. Issam Sidom, que mediou o aluguel do local ao Torra Torra, diz que Mostafa está medicado e sem "condições emocionais para falar".
A Salvatta Engenharia nega que tenha havido reunião para falar sobre parar a obra.
A empresa afirma que não chegou a detectar irregularidades no local --e que fez "pequenas escavações" para prospecção, sem afetar a estrutura do imóvel. Diz ainda ter insistido para o dono do imóvel apresentar projetos da obra, sem êxito. A empresa afiram que não sabia do embargo ocorrido meses antes.
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