Paulo Delci Unfried voltou atrás e disse que não foi o autor do crime do Morro do Boi, que acabou com a morte do estudante Osíris Del Corso, de 22 anos, e com a estudante Monik Pegorari de Lima, 23, baleada. No último dia 30 de junho, Unfried havia confessado os crimes. Na tarde desta quinta-feira (23), no Fórum de Matinhos (Litoral), porém, Unfried mudou a versão e disse que teria confessado sob tortura.
Unfried, Juarez Ferreira Pinto - que está preso acusado de ser o autor do crime do Morro do Boi - e Monik Pegorari ficaram frente a frente no Fórum de Matinhos. Unfried foi convocado pelo juiz substituto da Comarca de Matinhos, Rafael Luís Brasileiro Kanayama, como testemunha. Unfried está preso desde o dia 25 de junho por invadir uma casa e violentar uma mulher em Matinhos. Com ele a polícia apreendeu duas armas. O exame de balística confirmou que o tiro que matou Osíris Del Corso partiu de uma delas.
A acareação entre Juarez, Unfried e Monik começou por volta das 13h30 e a sessão durou cerca de duas horas. Ao juiz, Monik foi categórica ao reafirmar que Juarez Ferreira Pinto foi quem cometeu o crime no Morro do Boi. "Inclusive ele (Paulo Unfried) falou que não fez mesmo. Na hora que o juiz perguntou se ele me conhecia ele disse que não me conhecia. Nunca tinha visto ele na vida e ele também não tinha me visto. Na frente do juiz ele disse que não fez nada", afirmou Monik Pegorari ao sair da acareação.
"Não sei nem porque vim aqui reconhecer ele (Paulo Unfried). Eu tenho certeza que foi ele (Juarez). Na hora que o juiz mandou eu olhar para o Juarez, ele fez a mesma cara de quando matou o Osíris", definiu Monik.
Paulo Unfried continua preso pelo crime cometido no dia 25 de junho. Juarez segue detido como acusado de ser o autor do crime do Morro do Boi. Além do juiz, dos dois presos e de Monik, a promotora Fernanda Maria Motta Ribas participou da acareação. Diante das declarações de Paulo Unfried, a promotora decidiu cancelar a reconstituição do crime pela versão de Unfried. Ela achou não ser necessário. A Secretaria da Segurança Pública (Sesp-PR) afirmou que não iria comentar a declaração de Unfried, que disse ter confessado sob tortura.
Testemunha
Paulo Unfried compareceu a audiência desta quinta apenas como testemunha. Quando confessou ser o autor do crime do Morro do Boi, ele tentou se matar, e por isso as promotoras que cuidam do caso o interrogaram. No depoimento, ele teria caído em contradição diversas vezes ao descrever o caso. Por isso, o juiz Kanayama o convocou para a acareação desta quinta. Unfried não prestou depoimento formal e só respondeu às perguntas que quis. O advogado de Juarez Ferreira Pinto, Nilton Ribeiro, afirmou que Unfried está aproveitando um bom álibi, que é o depoimento de Monik acusando Juarez, para dizer que não cometeu o crime.
Ribeiro afirmou que durante a sessão Paulo Unfried entrou diversas vezes em contradição ou não respondeu às perguntas. Unfried teria confirmado que a arma que matou Osíris era dele, mas que havia emprestado para um amigo naquela semana em que aconteceu o crime. No entanto, segundo o advogado Ribeiro, Unfried não soube dizer o nome do amigo para qual teria emprestado a arma.
Tortura
Nilton Ribeiro pediu ao juiz Kanayama que escute o depoimento dos policiais que teriam prendido Unfried, para checar a versão de que ele teria confessado sob tortura. O juiz indeferiu esse pedido, mas o advogado afirmou que vai recorrer dessa decisão. "Nós não vamos ficar reféns da vítima, que está equivocada, e muito menos de um criminoso frio como é o Paulo", definiu Nilton Ribeiro.
Tese reforçada
Em nota oficial, o Ministério Público Estadual (MP) afirmou que o depoimento prestado por Paulo Delci Unfried reforçou a tese da acusação, conforme a denúncia criminal apresentada anteriormente. "Portanto, o acusado pelo crime no processo continua sendo Juarez Ferreira Pinto", afirma a nota do MP.
Segundo o MP, Unfried afirmou que as declarações prestadas à Promotoria anteriormente, de que seria o autor do crime, foram "feitas em momento de muita pressão psicológica, temendo pela vida da família, e que a arma utilizada no crime, a qual tinha comprado no início do mês de janeiro de 2009, com finalidade de caça, tinha sido emprestada a um amigo, que a devolveu dois meses depois, após o crime", diz o texto do Ministério Público.
O não reconhecimento de Unfried por Monik e o nova afirmação da estudante de que Juarez Ferreira Pinto é o autor do crime, além da falta de álibi de Juarez, mantém o convencimento do Ministério Público a respeito do acusado, que já responde ao processo criminal.