O delegado Alessandro Thiers disse que investigava “se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram”| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil/

O Ministério Público do Estado do Rio é favorável à retirada do delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), do comando da investigação de estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos.

CARREGANDO :)

LEIA TAMBÉM: Delegado já prendeu advogada de vítima por suposto envolvimento em vandalismo

Sindicato de delegados critica advogada de adolescente vítima de estupro

Publicidade

O parecer foi dado na madrugada deste domingo (29), após pedido da defesa da vítima. A Promotoria pede ao Judiciário do Rio que a investigação de estupro seja transferida para a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), deixando sob responsabilidade da DRCI somente a apuração da divulgação do vídeo em que a menina aparece nua e desacordada.

Até o início da tarde deste domingo, o Tribunal de Justiça do Rio ainda não havia divulgado a decisão. A advogada da adolescente, Eloísa Samy, disse, por uma rede social, que o delegado já foi afastado da investigação. A informação não foi confirmada oficialmente.

Ela alega que Thiers investigava o caso com machismo e misoginia, colocando o estupro como crime menor. Em entrevista, o delegado disse que investigava “se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram”. Até agora, a polícia não prendeu nenhum dos envolvidos.

Publicidade

Caso

A adolescente foi estuprada na madrugada do dia 21 no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio. O caso só se tornou público após jovens postarem fotos e vídeos dela nua e desacordada. Segundo depoimento da vítima, ela encontrou num baile funk na comunidade um rapaz de 19 anos com quem estava “ficando”.

A jovem disse que foi parar numa casa com o rapaz e, a partir daí, só se lembra de ter acordado pela manhã em outra casa. De acordo com a adolescente, ela estava dopada, nua e sendo observada por 33 homens.

Em nota, o Ministério Público afirma que deu parecer favorável também a outros dois pedidos da defesa. Um deles diz respeito a medidas de proteção, previstas na Lei Maria da Penha, após um dos suspeitos, Rafael Belo, ter se aproximado da vítima.

No terceiro parecer, a Promotoria considera que o delegado Alessandro Thiers praticou um delito previsto no artigo 232 do Estatuto da Criança e Adolescente (submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento).

Foi negado, porém, o pedido de afastamento do delegado Thiers do comando da DRCI. O Ministério Público alega que é função da chefia da polícia decidir sobre a direção das delegacias.

Publicidade

Delegado já prendeu advogada de vítima por suposto envolvimento em vandalismo

Não é a primeira vez que Alessandro Thiers Pinho Alonso, de 41 anos, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) desde 2014, está à frente de um caso de grande repercussão. Ele conduziu, por exemplo, o inquérito policial sobre ações de vandalismo planejadas por black blocs durante as manifestações de 2013. Agora, o destino quis que o delegado voltasse a se encontrar com um dos alvos da investigação daquele caso: a advogada Eloísa Samy.

Dois anos atrás, Thiers chegou a prender Eloísa por suposto envolvimento em planos de vandalismo - em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, ela teria orientado dois ativistas procurados pela polícia a fugir. Agora, vê a antiga desafeta colocar em questão sua capacidade de apurar o estupro coletivo.

Acostumado a aparecer na TV, Thiers é tratado por muitos na Polícia Civil como um galã. Ele já teve um relacionamento com uma filha do ex-secretário estadual de Segurança Josias Quintal. Sexta-feira, enquanto ouvia os depoimentos da vítima e dos suspeitos de envolvimento no estupro, sua noiva, uma empresária, o aguardava na delegacia. Alguns colegas disseram, brincando, que “a marcação está cerrada”.

Na DRCI, Thiers conduziu outros casos que viraram notícia. Recentemente, ele assumiu os inquéritos que investigam ataques racistas pelas redes sociais contra a atriz Thaís Araújo e a cantora Ludmilla. Ele também foi titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM).