Agentes podem entrar em greve
Inconformados com a situação do sistema prisional do Paraná, cerca de 160 agentes penitenciários de várias regiões do estado fizeram ontem uma manifestação em Cascavel, no Oeste. Eles dizem que a tragédia ocorrida na PEC poderia ter sido evitada se a Secretaria de Justiça do Paraná tivesse ouvido as denúncias feitas pelo sindicato da categoria (Sindarspen). Segundo Anthony Johnson, presidente do sindicato, os agentes estão trabalhando com insegurança e muito medo. Ele diz que há riscos de novas rebeliões nas unidades para onde os presos foram transferidos. "Queremos contratações e investimentos, só isso. Não estamos nem falando em salário." O sindicato deve realizar uma assembleia nos próximos dias e não descarta uma greve.
A presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) vai muito além da exibição das iniciais da facção criminosa em bandeiras durante a rebelião de 44 horas que tomou a unidade no início da semana. Segundo agentes penitenciários e autoridades ligadas ao sistema carcerário, o local abriga presos da facção e a presença deles ajuda a explicar a barbárie que resultou em 5 mortos e 25 feridos.
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Agentes ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato disseram que a presença da facção na PEC é conhecida desde gestões passadas e que o PCC "tem grande parcela de responsabilidade no motim". "Há muitos arrebatados pelo PCC, mas apenas uns sete ou oito já estavam batizados", contou um desses agentes. O batismo é uma espécie de ritual de iniciação no qual o detento é apresentado por outro já batizado e ambos pingam uma gota de sangue em um copo com cachaça artesanal produzida dentro dos presídios e bebem.
Até outubro do ano passado, o governo do Paraná relutava em reconhecer a presença do PCC em penitenciárias do estado. Naquele mês, porém, o jornal O Estado de São Paulo teve acesso a uma investigação do Ministério Público de São Paulo que apontou a presença do PCC em 22 estados, sendo o Paraná o segundo com a maior quantidade de faccionados (623).
A partir dessa revelação, a Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) admitiu a presença do PCC no Paraná, mas sempre alegou que o grupo estava controlado. Presos faccionados, inclusive, estariam concentrados na Penitenciária Estadual de Piraquara I. Mas, segundo Paulo Damas, juiz da Vara de Execuções Penais de Cascavel, quatro presos de alta periculosidade foram transferidos para a PEC recentemente. "Não sei até que ponto eles estão envolvidos na rebelião, mas são muito perigosos e acredito que são faccionados."
Há a hipótese também de rixa entre facções dentro do presídio. Entre os cinco mortos, o IML identificou três. Um deles é Juareci Gromowski, que havia sido preso em 2008 por furto e voltou a ser preso neste ano por roubo. Segundo informações iniciais, os mortos faziam parte do grupo detido na ala chamada de "seguro", onde ficam presos condenados por estupro ou assassinato de crianças. "Se não era estuprador, poderia ser ligado a facções rivais, como o Primeiro Comando do Paraná", disse um agente.
Os outros dois mortos identificados são: Sergio Humberto de Melo, 35 anos, preso desde 2003 por estupro de vulnerável, e Cícero Gomes Nogueira, cuja pena não foi divulgada.
Desaparecidos
O número de desaparecidos após o motim na PEC caiu de sete para dois após nova checagem nas listas dos 797 presos transferidos. A redução ocorreu porque as transferências foram realizadas em caráter de urgência, de acordo com a Seju, e alguns nomes não constavam na lista inicial. Além disso, um dos desaparecidos foi localizado vivo, escondido sob uma cama dentro da penitenciária. O paradeiro de outros dois presos ainda é desconhecido. Eles podem estar mortos ou terem fugido. A inspeção deve durar ao menos até amanhã.
Colaborou Luiz Carlos da Cruz, correspondente em Cascavel
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