O ritmo de crescimento da renda dos 10% mais pobres da população brasileira foi sete vezes maior do que o dos 10% mais ricos, entre 2001 e 2007. Na prática, a magnitude do crescimento da renda dos mais pobres foi equivalente ao da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita anual chinês. A avaliação é do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Ricardo Paes de Barros, ao apresentar os resultados do levantamento "Pnad-2007: Primeiras Análises", estudo que realiza um aprofundamento dos dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) de 2007, divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Temos um País, hoje, cuja renda dos mais pobres está crescendo a um ritmo chinês, enquanto a renda dos mais ricos está subindo a um ritmo de crescimento (do PIB per capita anual) do Senegal", afirmou o economista. Serão quatro estudos a serem realizados pelo IPEA, com dados da pesquisa do IBGE. O primeiro dos estudos anunciado hoje no Rio, trata sobre pobreza, desigualdade e nova estratificação social. Segundo o levantamento do IPEA, de 2001 a 2007, a renda dos 10% mais pobres experimentou uma alta anual média em torno de 7%, enquanto que, no mesmo período, a renda dos 10% mais ricos cresceu 1,1%.
Valores absolutos
Mas em valores absolutos, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres continua muito grande. Em 2007, a renda per capital mensal dos 10% mais pobres era de R$ 84; e a dos 10% mais ricos, R$ 1.100. "Só para efeito de ilustração, a renda per capita mensal da fatia da população 1% mais rica, em 2007, é de R$ 4.000", afirmou.
O economista observou que esse cenário mostra uma grande redução no cenário de desigualdade de renda, no período. O índice de Gini, que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, passou de 0 593 em 2001 para 0,552 em 2007. O valor do índice varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). "Isso corresponde a uma taxa de redução média anual do índice de Gini, de 1,2% no Brasil, de 2001 para 2007", completou o economista.
Entretanto, ele comentou que, embora o cenário esteja mais positivo agora do que em 2001, ainda há muito o que fazer para diminuir o cenário de desigualdade no País. O levantamento mostra que o Brasil continua em posição de destaque no cenário internacional, em termos de concentração de renda. Mesmo após as mudanças verificadas, 113 países, ou cerca de 90% do universo pesquisado pelo levantamento, apresentam distribuição de renda menos concentrada que a do Brasil. "Não vai ser com seis anos de progresso que vamos conseguir mudar o perfil de desigualdade no Brasil", comentou.
"Nunca na história brasileira tivemos uma queda na desigualdade brasileira tão persistente, tão acelerada. A má notícia, talvez, é que vamos precisar de uma queda dessas por mais 18 anos para chegar a um nível de desigualdade comparável a do resto da humanidade", afirmou.
Ascensão social
O levantamento do IPEA também mostra que, de 2001 para 2007, 13 8 milhões de pessoas subiram de faixa social. Nessa escalada social, a grande maioria se originava da base da pirâmide: 10,2 milhões saltaram da camada de baixa renda (entre R$ 0 e R$ 545 66 de ganho mensal por família) para a de renda média (entre R$ 545,66 e R$ 1.350,92). O restante, 3,6 milhões de pessoas, subiram da faixa de renda média para a alta renda (acima de R$ 1.350,82).
"Nesse período (de 2001 para 2007), começamos a ter uma mobilidade social ascendente que não tínhamos faz tempo", assinalou o economista do instituto, Ricardo Amorim, um dos pesquisadores que anunciou os resultados do levantamento. Para ele, não foi somente uma questão de "talento individual" que levou essas pessoas a subirem os degraus sociais. "Talento individual é importante, mas não se desenvolve sem as condições sociais necessárias", argumentou.
De acordo com o pesquisador, o salto da base da pirâmide para a camada de renda média foi puxado basicamente por programas de assistência, e de transferência de renda além de oportunidades de emprego geradas no período. Já a subida da camada de renda média para a camada mais elevada foi gerada basicamente por aumento no volume de empregos formais, e o bom ritmo de crescimento econômico.
Com base nos dados levantados pelo instituto, do total de pessoas que passaram da camada mais pobre para a camada média de renda, de 2001 para 2007, 37% era da região Nordeste, o maior porcentual entre as regiões pesquisadas. Já do total de pessoas que subiram da camada de renda média da população para a mais elevada, 49% era da região Sudeste. A ascensão social também parece estar concentrada nos núcleos urbanos. Do total de pessoas que ascenderam da camada mais pobre até a faixa de renda média, 82% eram de área urbana. Ainda segundo o instituto, do total de pessoas de camada de renda média que ascenderam para a faixa mais elevada de renda, no período, 90% eram de origem urbana.
Perfis
Em resumo, o instituto informou que o perfil da pessoa que era da base da pirâmide e subiu para a camada média de renda da população, de 2001 para 2007, é não-branco; com escolaridade até a quarta série do ensino fundamental; com carteira assinada e urbano, morador da região Nordeste. Já o perfil do indivíduo que subiu da camada de renda média para a mais elevada é branco; com escolaridade melhor, acima da quarta série; com carteira assinada, urbano e morador da região Sudeste.
O pesquisador observou ser preocupante o perfil de ascensão social, que mostra uma concentração muito grande da ajuda nos programas de transferência de renda como motor de ascensão social entre os mais pobres.
"A queda na desigualdade, bem como a queda na pobreza, está bem dominada por programas de transferência de renda", comentou, assinalando que o desafio para o País é elevar a renda do trabalho entre os indivíduos na base da pirâmide.
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