Atualizado em 15/03/06, às 19h50
Pequenos protestos e reuniões marcaram o dia na Ponte da Amizade, divisa do Brasil com o Paraguai. A quarta-feira foi considerada tranqüila para os turistas e sacoleiros que transitaram pelo local durante todo o dia. Mas seguem os impasses e existe a possibilidade de mais confusão para os próximos dias. Até mesmo a pressão pela saída do Paraguai do Mercosul já existe entre algumas entidades paraguaias.
A maior polêmica envolve as reuniões feitas do lado paraguaio. Se as retaliações feitas contra os brasileiros nos últimos dias não surtiram efeito, vários órgãos do Paraguai prometem pressionar ainda mais o governo brasileiro. Funcionários de lojas devem continuar impedidos de entrar no Paraguai para trabalhar no comércio de importados. Moradores de Foz do Iguaçu, turistas e mototaxistas devem continuar evitando cruzar a Ponte da Amizade, para não ter o veículo apreendido por fiscais de trânsito do Paraguai.
Até que o governo federal brasileiro se posicione sobre os conflitos na fronteira de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, a retaliação dos paraguaios parece não ter fim. Uma reunião entre o prefeito de Ciudad del Este, Javier Zacarias Irún e taxistas e políticos de Ciudad del Este, realizada em Assunção nesta quarta-feira, não chegou a uma solução para o impasse. Entre as sugestões viabilizadas pelos paraguaios, a proibição da passagem de caminhões com a safra de soja e de todo veículo que entre em Foz do Iguaçu transportando mercadorias serão aplicadas.
Além disso, as lideranças paraguaias reivindicaram durante o encontro o aumento de rigor na fiscalização sobre brasileiros que trabalham ilegalmente no comércio paraguaio. Também exigiram o fechamento da fronteira, porém o prefeito Irún rejeitou a proposta e pediu aos trabalhadores "uma manifestação progressiva, por etapas". Ele não descartou o bloqueio integral da travessia de veículos e pedestres na fronteira.
Além do fim da fiscalização da Receita Federal, os paraguaios ainda exigem a liberação dos veículos que foram apreendidos na semana passada transportando muamba.
Em Foz do Iguaçu
Já do lado brasileiro aconteceram alguns tumultos desorganizados. A Receita Federal (RF) apreendeu mais seis veículos de Ciudad del Este. Eles se juntam aos 23 já apreendidos na semana passa pela RF. O órgão promete continuar o trabalho de desmonte da logística do transporte de mercadorias.
Novos tumultos
A nova ofensiva dos fiscais brasileiros acirrou os ânimos de motoristas e mototaxistas. Durante a tarde, um princípio de tumulto entre motoqueiros dos dois países interrompeu parcialmente o tráfego na Ponte da Amizade durante dez minutos, após intervenção da polícia. Pela manhã, no lado brasileiro, motoristas que observavam a fiscalização atingiram o vidro de uma viatura da Polícia Federal com uma pedra. Ninguém foi preso.
A queda-de-braço entre os países tem mudado o cenário na Ponte da Amizade. Com receio de perder os veículos ao transportar mercadorias, a maioria dos motoristas tem recusado agenciar passageiros com bagagens. Por causa disso, os sacoleiros têm levado caixas e sacolas sobre a cabeça e nos ombros. "O único jeito é levar no lombo", afirmou um atravessador, que pediu anonimato, porém disse acreditar estar carregando "40 quilos nas costas".
Aliás, o receio dos motoristas e motoqueiros tem feito muitos deles obrigar passageiros a descer dos veículos na cabeceira da Ponte da Amizade, a poucos metros da aduana brasileira. Depois do desembarque, eles fazem manobras arriscadas na pista, em meio ao tumultuado trânsito, para retornar a Ciudad del Este. Quem ganha são homens e mulheres que fazem travessia de mercadorias em carrinhos de mão.
Ainda nesta quarta, o deputado federal Dilto Vitorassi (PT/PR) cobrou, em discurso no plenário, do Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Justiça e Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) uma solução para o impasse. Ele reivindicou que seja enviada, em regime de urgência, uma comissão composta por representantes dos três órgãos para tentar, em conjunto com autoridades da região, um "entendimento para amenizar o forte clima de insatisfação bilateral".
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